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sexta-feira, 11 de agosto de 2017

UM SÓ SENHOR (4)




NÃO TERÁS OUTROS DEUSES

III. EXEGESE DO PRIMEIRO MANDAMENTO

A Palavra. Esse termo vem do grego, ex, «fora», e agein, «guiar», ou seja, «liderar» ou «explicar". A palavra portuguesa exegese é usada para indicar «narrativa», «tradução» ou «interpretação». Dentro do contexto teológico, a ênfase recai sobre a interpretação de modos formais de explicação que podem ser aplicados a algum texto, a fim de se compreender o seu sentido. Na linguagem técnica, a exegese aponta para a interpretação de alguma passagem literâria especifica, ao mesmo tempo em que os principios gerais aplicados em tais interpretações são chamados hermenêutica (que vede).CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 2. Editora Hagnos. pag. 617.

1. Outros deuses.

Estudos de críticos conservadores mostram que a ideia de henoteísmo no primeiro mandamento não se sustenta. Esse mandamento é considerado o mais genérico e o menos detalhado do Decálogo. O rabino Benno Jacob se pronunciou sobre o assunto da seguinte forma: "Nós não podemos ajudar, mas responder porque este mandamento não era usado para prover uma lição dogmática final acerca das falsas deidades, mas isto foi precisamente o que o Decálogo procurou evitar" (JACOB, 1992, p. 546). Ele explica. É que no Sinai só existiam Javé e Israel, e nada havia a ser dito sobre as nações e seus deuses, portanto orabino acrescenta: "Não existia outro deus para o Decálogo". A mais rudimentar regra da hermenêutica diz que nunca se deve interpretar um texto isoladamente, fora do seu contexto. Aqui, esse contexto mostra a proibição de sacrificar e servir a outros deuses é absoluta e sem concessão, o que remete ao monoteísmo (Êx 22.20; 23.13; 34.14; Dt 6.4, 14; 13.2). É assim que essas e outras passagens do Pentateuco explicam o primeiro mandamento. Existe um só Deus e Deus é um só; esse pensamento permeia a Bíblia inteira (2 Rs 19.15; Jo 17.3).
Os ídolos, de fato, não são deuses (Dt 32.21; Gl 4.8). Apenas são chamados assim por existirem na mente dos seus adoradores (1 Co 8.5), mas não reais de fato. O objeto de adoração dos gentios são representações demoníacas; os pagãos adoram os próprios demônios (Lv 17.7; Dt 32.17; 1 Co 10.20). Não existe Deus além de Javé (Is 44.6; 45.5, 6). Os cristãos devem manter distância dos ídolos (1 Co 10.14; 1 Jo 5.21).Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 35-36.

Gn 1.26 - “Façamos o homem à nossa imagem." Por que Deus utiliza a forma plural? Um ponto de vista alega que esta é uma referência ã Trindade — Deus. Jesus Cristo e o Espirito Santo todos um só Deus. Outra visão explica que a finalidade da palavra no plural é denotar majestade. Os reis tradicionalmente usam a forma plural ao referir-se a si mesmos. Em Jó 33.4 e Salmos 104.30. sabemos que o Espirito de Deus esteve presente na criação. Em Colossenses 1.16, vemos que Cristo. Filho de Deus. estava trabalhando na criação.BÍBLIA APLICAÇÃO PESSOAL. Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Editora CPAD. pag. 6.

Gn 1.26 DISSE DEUS FAÇAMOS. Esta expressão contém uma referencia primeva ao Deus trino e uno. O uso da primeira pessoa no plural [“nós”, oculto] indica que há pluralidade em Deus (Sl 2.7; Is 48,16). A revelação da carecteristica trina e uma de Deus só se torna clara, porém, quando quando chegamos ao Novo Testamento (Lc 3.21-22).STAMPIS. Donald C. (Ed) Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e Novo testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

Êxo 20.3 Não terás outros deuses. Neste ponto, o monoteismo substitui todas as outras possíveis noções de Deus. Todavia, não basta acreditar na existência de um Deus. Esse Deus único precisa ser reconhecido e obedecido como a autoridade moral de to- dos os atos humanos. Também só há um Deus no atinente à questão da adoração e do serviço espirituais. o Deus único merece toda honra. Isso labora contra o panteísmo e todo o seu caos.
A nação de Israel estava cercada por povos que eram leais a um número impressionante de divindades. As pragas do Egito tinham mostrado que só Yahweh é Deus (ver Êxo. 5.2 e 6.7). Há uma profunda verdade na idéia que um homem só pode adorar a um Deus. Jesus abordou essa questão em Mateus 6.24. Os homens adoram aquelas coisas que lhes parecem importantes, incluindo o dinheiro. Há deuses externós e internos. Mas todos eles são deuses falsos.Os vss. 4-6 descrevem e ampliam o primeiro mandamento. Os católicos-romanos e os luteranos (e também muitos intérpretes judeus) pensam que esses versículos formam, conjuntamente, o primeiro mandamento. Mas a maioria dos outros grupos protestantes e evangélicos fazem desses versículos um mandamento distinto.Yahweh é um Deus zeloso que não tolera rivais (vs. 5; 34.14). Naturalmente, temos nisso uma linguagem antropomórfica. Divindades rivais seriam algo contrário ao caráter único de Deus. E um deus que não é único não é o verdadeiro Deus. Ver os vss. 22,23. A desobediência ao primeiro mandamento foi a principal razão dos cativeiros, finalmente, Israel sofreu.CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 388.

Êxo 20.3 — Não terás outros deuses. O Senhor não deveria ser visto por Israel como um deus qualquerentre todos os outros, e nem como o melhor deles. Ele era e é o único Deus vivo. Ele, e somente Ele, deveria ser adorado, obedecido e louvado pelos israelitas. Muitos estudiosos consideram o conceito de monoteísmo uma conquista de Israel, tal como a arte é uma realização original dos gregos, e o direito, uma façanha dos romanos. Tais eruditos acreditam que o verdadeiro monoteísmo (a crença em um único Deus) não fora totalmente estabelecido até a época de Amós (séc. 8 a.C.). Entretanto, o testemunho da Bíblia apresenta uma visão diferente desse conceito crítico. A história bíblica apresenta a crença emum único Deus desde o começo da história de Israel como uma nação. O primeiro mandamento é uma comprovação disso. E tal fato não foi uma realização de Israel. Este povo foi apenas o receptor das revelações divinas.EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 164-165.

2. O ponto de discussão.

Diante de mim (3) significa “lado a lado comigo ou além de mim”.20 Deus não esperava que Israel o abandonasse; Ele sabia que o perigo estava na tendência de prestar submissão igual a outros deuses. Este mandamento destaca o monoteísmo do judaísmo e do cristianismo.
“O primeiro mandamento proíbe todo tipo de idolatria mental e todo afeto imoderado a coisas terrenas e que podem ser percebidas com os sentidos.” Não existe verdadeira felicidade sem Deus, porque Ele é a Fonte de toda a alegria. Quem busca alegria em outros lugares quebra o primeiro mandamento e acaba na penúria e em meio a acontecimentos trágicos.

Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Êxodo. Editora CPAD. pag. 189.
Diante de mim. Literalmente “ à minha face” . Esta frase vagamente incomum também parece ser usada em relação ao ato de tomar uma segunda esposa enquanto a primeira ainda estivesse viva. Tal uso, de uma quebra de um relacionamento pessoal exclusivo, ajuda a explicar o seu significado aqui. A frase está relacionada à descrição de YHWH como um “ Deus zeloso” , no versículo 5. Alguns comentaristas modernos sugerem que “ diante de YHWH” ou “ a presença de YHWH” no restante da Torah são referências ao;altar de YHWH (23:17). Vêem, portanto, uma referência ao culto israelita: nenhum outro deus pode ser adorado simultaneamente com YHWH num santuário comum, como era de praxe, por exemplo, na religião cananita. Não há dúvida de que isto é verdade, mas parece ser uma explicação inadequada. Seja qual for, porém, a maneira de encararmos os detalhes da passagem, seu sentido principal é claro: por causa da natureza de YHWH e do que YHWH fez por Israel, Ele não dividirá Seu louvor com quem quer que seja: Ele é único. Consulte Hyatt com respeito a outras interpretações da frase.
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 148.

3. O politeísmo.

São três as principais formas de adoração no paganismo do Antigo Oriente Médio: politeísmo, henoteísmo e monolatria. Foi nesse contexto que viveram os patriarcas do Gênesis e em que a nação de Israel foi formada.
O politeísmo é a crença em muitos deuses. O termo deriva de duas palavras gregas, polys, "muito", e theos, "Deus". Era a religião dos antigos mesopotâmios, egípcios, gregos, romanos e do atual hinduísmo. O henoteísmo é uma forma primitiva de religião que admite a existência de muitos deuses; no entanto, apenas um deles tem a supremacia. O termo, aplicado em 1881 por F. Max Muller, historiador alemão das religiões, significa literalmente "um Deus", do grego heis/hen, o numeral "um", e theos, "Deus". A forma henoteísta deve ser definida como uma crença em um Deus, mas admitindo a existência de outros deuses, como ocorre à doutrina das atuais testemunhas de Jeová.
A palavra monolatria vem de monos, "único", e latreia, "serviço sagrado, culto". O termo surgiu com o orientalista alemão Julius Wellhausen (1844-1918). Define-se como adoração ou culto "de uma deidade única para cada grupo étnico-político (clã, tribo, povo), não para toda a humanidade, de sorte que se admitem tantos deuses legítimos como povos" (GUERRA, 2001, p. 613). Assim, o henoteísmo deve ser entendido como uma forma de crença do qual a monolatria é o tipo correspondente de adoração. A ideia de henoteísmo e monolatria formarem um estágio intermediário entre politeísmo e monoteísmo não tem sustentação bíblica, visto que a religião original da raça humana era monoteísta. Não se conhecia a idolatria antes do dilúvio. A Bíblia afirma que todas essas formas falsas de adoração são uma degeneração do monoteísmo original (Rm 1.21-25).Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 28-29.

POLITEISMO. Essa palavra vem do grego, poli, -muítos-, e theóe, "deus.., ou seja, a crença de que existem muitos deuses. Isso contrasta com o monoteísmo, a crença na existência de um único Deus, e com o henotelsma, a crença de que apesar de existirem muitos deuses, somos responsáveis diante de um só Deus. Dois artigos devem ser consultados nesta enciclopédia, em relação ao politeismo.Só as três grandes fés: a do judaismo, a do cristianismo e a do islamismo têm adotado uma forte posição monoteista. Contudo, os judeus e os maometanos vêem o conceito trinitariano cristão como uma forma velada de monoteismo. Dentro do cristianismo moderno, os mórmons defendem um politeismo teórico. De acordo com o mormonismo, na verdade existiriam muitos deuses; mas, na prática, eles promovem um triteismo: haveria três deuses com os quais temos algo a tratar, o Pai, o Filho e o Espirito Santo, que seriam pessoas separadas e deuses distintos uns dos outros, e não meras hipástases (vide) de uma única essência divina.CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 321.

IV. O MONOTEÍSMO

1. Os mandamentos, os estatutos e os juízos.

Dt 6.1 Mandamentos... estatutos... juízos. Temos aqui a tríplice designação da legislação mosaica, conforme já tínhamos visto em Deu. 5.31. Estatutos e juizos figuram como que formando um par em Deu. 4.1,5,8,14,45 e 5.1. E Deu. 6.20 reitera essa tripla designação. Ver as notas a respeito em Deu. 5.31. Talvez não devamos estabelecer distinções muito nítidas entre esses três termos, pois parecem ser apenas uma referência múltipla aos muitos preceitos baixados por Moisés. Alguns estudiosos têm sugerido que os “man- damentos'' são os dez mandamentos, e os outros dois vocábulos apontam para desenvolvimentos e ampliações posteriores do núcleo original da lei. O que fica claro, contudo, é que está em pauta a complexa legislação mosaica, referida por meio de vários termos. Toda essa grande complexidade precisa- va ser ensinada (Deu. 5.31), conhecida e observada (5.31-33), para que então houvesse vida (4.1 e 5.33).... se te ensinassem. A idéia de instrução é reiterada aqui. Ver Deu. 5.31 quanto a notas expositivas completas e referências a artigos importantes sobre esse assunto.

Para que os cumprisses na terra. Ou seja, na Terra Prometida, dada a Israel por meio do Pacto Abraàmico (ver as notas a respeito em Gên. 15.18). Os três discursos de Moisés (que perfazem 0 volume maior de Deuteronômio) exortavam 0 povo de Israel para que obedecesse à lei, como meio de conquista e de vida boa e longa na Terra Prometida. Os filhos de Israel precisavam instruir à geração mais jovem quanto aos seus deveres na Terra Prometida. Por motivo de desobediência, a geração anterior havia perecido no deserto, com as exceções únicas de Caiebe e Josué (ver Deu. 1.34 ss.).
A lei destinava-se a todas as “gerações” dos filhos de Israel (ver Êxo. 29.42; 31.16). Esses estatutos eram “perpétuos” (Êxo. 29.42; 31.16; Lev. 3.17 e 16.29). Os hebreus não antecipavam um fim para 0 seu sistema religioso. Mas ele terminou, e isso serviu de instrumento para 0 começo do cristianismo. Todos os sistemas terminam e assim tornam-se instrumentos de avanço. Essa evolução é que é “perpétua”. A epístola aos Hebreus mostra como e por qual motivo 0 Antigo Pacto terminou, a fim de que 0 Novo Pacto pudesse tomar 0 lugar daquele e percorrer 0 seu próprio curso.CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 781, 784.

Dt 6.1 — Os mandamentos fazem referência à instrução de amar a Deus (v. 5), e Moisés era o instrumento usado pelo Senhor para transmitir Suas ordenanças a Israel (Dt 5.22,23), como afirma a passagem estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e os juízos que mandou o Senhor, vosso Deus, para se vos ensinar. Portanto, não era a lei de Moisés, mas sim a Lei de Deus.
Dt 6.2 — O temor a Deus inclui a apreensão por causa de Sua santidade e magnificência, o amor a Ele e a submissão à Sua vontade. Inicialmente, pode envolver o medo. Todavia, esse sentimento leva à sensação de admiração, ao comprometimento com a adoração e ao deleite em conhecer Deus. O Todo-poderoso esperava que Seu povo seguisse Seus caminhos por sucessivas gerações, visto que prometera abençoar geração após geração (Gn 17.7,8) todos os dias da sua vida. O Senhor presenteou Israel com bênçãos sobre a terra como um benefício da aliança (Dt4-40;5.29;6.24; 14-23; 18.5;30.15), porém elas estavam condicionadas à lealdade. O propósito de Sua Lei foi levar a plenitude de vida às pessoas mediante Sua graça (Dt 4.1). A desobediência acarretaria a perda do direito à terra e aos privilégios do concerto (Dt 4.26;30.15-19; SI 1.6; 112.10). Desta forma, Deus ensinou aos hebreus que Ele é a vida e que rejeitá-lo é escolher a morte (Dt 30.20; Jo 3.16-20).EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 323.

Dt 6:1-3. A ordem de 5: 32, 33 é agora expressa com nova ênfase. A expressão estatutos e juízos, que acontece em outras partes do livro (5: 1; 12: 1), é aqui precedida pela palavra mandamento no singular (miswâ; cf. SBB, que traz, erroneamente, o plural). O termo poderia ser traduzido como “ordem”. Em maiores detalhes, a ordem é representada por estatutos e mandamentos, embora estes não apareçam formalmente senão nos capítulos 12 a 26. A esta altura a preocupação principal é expressar princípios gerais. Israel é exortado a cumprir e guardar as leis de Javé e a teme-LO (reverenciá-LO). Quaisquer bênçãos que se seguissem seriam o cumprimento da promessa patriarcal (Gn 12: 1-7).
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 49.

2. O maior de todos os mandamentos.

Dt 6.4 Temos aqui a introdução ao maior de todos os mandamentos, o amor (vs. 5).
Consideremos estes pontos: 1. Dar ouvidos. 2. Israel deveria ouvir e obe- decer. O mandamento fora dado ao povo de Deus, àqueles que tinham sido libertados do Egito, aos quais fora entregue a Terra Prometida, que fazia parte do Pacto Abraâmico. 3. Monoteísmo, não somente para ser crido, mas também para ser aplicado. O único Deus verdadeiro requer obediência. A idolatria é terminantemente proibida. 4. Os direitos do Criador, o qual é Yahweh e Elohim (ver, acerca disso, as notas sobre o versículo anterior).
O monoteísmo forma a base do pronunciamento original da lei (ver Êxo. 20.3,4). Mas não devemos entender isso como mera crença na existência de um único Deus, ou que a divindade existe sob a forma de uma única unidade. Pois também envolve a obediência estrita à lei que foi dada pelo Deus único.

O original hebraico, que tem sido sujeitado a várias traduções, é: Yahweh, nosso Deus, Yahweh, um. Eis algumas das traduções:

O Senhor nosso Deus é um Senhor.
O Senhor nosso Deus, o Senhor é um só.
O Senhor é nosso Deus, o Senhor é um.
O Senhor é nosso Deus, somente o Senhor.
O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.

Fica em dúvida qual a melhor maneira de traduzir o original hebraico. Mas o intuito do original hebraico é perfeitamente claro. Só existe um Deus; e Ele é nosso Senhor e dono; Ele nos deu a Sua lei; e ela deve ser obedecida. Isso rejeita peremptoriamente a idolatria. O Deus único requer o cumprimento da lei do amor, que sumaria a lei toda em uma única declaração, precisamente o quinto versículo deste capítulo.
Ό objeto da atenção exclusiva, do afeto e da adoração de Israel não é difuso, mas compacto e único. Está em foco algum panteão de divindades, cada uma das quais possuidora de uma personalidade dotada da desconcertante capacidade de ser dividida por devotos e santuários rivais, impedindo que a atenção do adorador se concentre sobre um único objeto. A atenção de Israel, porém, não podia ser dividida; antes, confinava-se ao Ser único e bem definido, cujo nome é Yahweh" (G. Ernest Wright, in loc.).
O único Senhor. Não muitos deuses; mas essa expressão também enfatiza as idéias de exclusividade e de soberania. Esse único Deus precisa ser obedecido; Ele é o doador e senhor de toda vida.
O Shema. Este versículo, que na íntegra lê: Ouve, Israel, 0 Senhor nosso Deus é o único Senhor”, tem sido assim chamado. Esse vocábulo hebraico é o verbo no imperativo: Ouve”. O versículo contém a confissão fundamental e simplificada do judaísmo, da qual tudo mais depende. Os deuses do Oriente Próximo e Médio eram muitos, imorais, brutais, imprevisíveis, jamais agindo em harmonia com outras divindades, Todas essas noções eram repelidas por Israel. No judaísmo bíblico, pois, a fé religiosa avançara, devido ao seu monoteísmo aplicado, não sendo apenas um monoteísmo teórico.CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 784.

Os versículos 4 e 5 fazem parte do que chamamos Shema (hb. “ouve”). Este é o credo do judaísmo. O SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR ou “O Senhor é o nosso Deus, o Senhor é um” são traduções válidas. Os judeus consideram a palavra hebraica Yahweh* muito sagrada para ser pronunciada e, por isso, a substituem pela palavra Adonai, “meu Senhor”. Yahweh quer dizer, literalmente, “Ele é” ou “Ele se toma, Ele vem
ARC traduz por “JEOVÁ” ou “SENHOR” (assim, em letras maiúsculas) todas as vezes que, no original, ocorre a palavra hebraica Yahweh. (N. do T.) a ser”. Moffatt a traduz por “o Eterno”. Os dizeres do versículo 4 declaram que o Senhor é o Deus de Israel, que ele é o único Deus e que ele é o mesmo em todos os lugares. Esta descrição estava em oposição aos deuses das nações circunvizinhas, particularmente a Baal que era adorado de diferentes formas e com diferentes ritos em diversas localidades.
A palavra único não é incompatível com a doutrina cristã da Trindade, ou seja, três Pessoas da mesma substância em uma deidade. Com efeito, a palavra Deus está, via de regra, na forma plural nas Bíblias hebraicas como também neste versículo.Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Êxodo. Editora CPAD. pag. 433-434.

Dt 6.4. Ouve Israel. Israel é convidado a responder a Javé com a mesma plenitude de amor demonstrada por Javé em favor de Seu povo. No Novo Testamento o versículo 5 é apresentado por Jesus como o primeiro e grande mandamento (Mt 22: 36-38. Cf. Mc 12: 29-34; Lc 10: 27, 28).
Esta breve passagem (4-9) tem sido conhecida pelos judeus durante séculos como o Shema (sPma', ouve em hebraico) e é recitada junto com Deuteronômio 11: 13—21 e Números 15: 37-41 como oração diária. A referência à colocação das leis de Deus como frontal entre os olhos é comentada em 6: 8. A prescrição do versículo 4 tem sido considerada como uma maneira positiva de enunciar as ordens negativas dos dois primeiros mandamentos do Decálogo (5: 7-10). Esta confissão central da fé israelita consiste de apenas quatro palavras, Javé, nosso Deus, Javé, Um. A expressão tem sido entendida de várias maneiras. Traduções possíveis são: Javé nosso Deus, Javé é um”, “Javé é nosso Deus, Javé é um”, “Javé é nosso Deus, Javé somente”. Seja qual for a tradução escolhida, o significado essencial é claro. Javé deveria ser o único objeto da adoração, leal dade e amor de Israel. A palavra “um” ou “Único” implica em monoteísmo, mesmo que não o afirme com todas as sutilezas da formulação teológica.
O monoteísmo bíblico tinha uma expressão prática e existencial que levaria ao abandono de pontos de vista como a monolatria. Mesmo que alguém em Israel admitisse a existência de outros deuses, a afirmação de que somente Javé era Soberano e único objeto da obediência de Israel fazia soar o toque fúnebre para quaisquer posições inferiores ao monoteísmo.R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 50-51.

3. A Trindade na unidade.

O monoteísmo é instituído como confissão de fé na lei de Moisés, e o Decálogo introduz esta doutrina. O monoteísmo é a crença em um só Deus, como sugere a própria palavra: monos, "único", e theos, "Deus". O termo é usado para designar a crença em um e somente um Deus. A ênfase nesta unidade contrasta de maneira visível com o henoteísmo e a monolatria, além do politeísmo. Os patriarcas do Gênesis, Abraão, Isaque e Jacó, eram monoteístas e instruíram seus descendentes nessa crença (Dt 13.6; 28.64; Jr 19.4).
O Deus de Israel revelado no Antigo Testamento é o mesmo Deus do cristianismo (Mc 12.29-32). O Senhor Jesus não somente ratificou o monoteísmo judaico do Antigo Testamento, como também afirmou que o Deus Javé de Israel, mencionado em Deutero- nômio 6.4-6, é o mesmo Deus que ele veio revelar à humanidade (Jo 1.18). O monoteísmo cristão é trinitário porque a sua base é de um só Deus que subsiste em três pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Mt 28.19). O monoteísmo judaico é chamado de monoteísmo ético, pois Javé é um Deus com propósito ético e a afirmação de um só Deus é feita com base ética. Os Dez Mandamentos são chamados de "Decálogo Ético". A doutrina de Deus é uma "questão de vida ou morte", pois, Jesus disse: "E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3).
O apóstolo Paulo anunciava aos gentios o mesmo Deus de seus antepassados: "O Deus de nossos pais de antemão te designou para que conheças a sua vontade, e vejas aquele Justo, e ouças a voz da sua boca" (At 22.14). Veja o que ele ensina nas epístolas: "Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele" (1 Co 8.6); "Ora, o medianeiro não o é de um só, mas Deus é um" (Gl 3.20); "Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos vós" (Ef 4.6). A fé cristã não admite a existência de outro Deus além do Deus de Israel (Mc 12.32). É o monoteísmo judaico-cristão.
Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 36-37.

TRINDADE A igreja primitiva, oposta ao politeísmo, com o AT ensinando que há um só Deus, foi logo forçada a questionar: Quem é Jesus Cristo? Era Ele apenas um homem? É Ele um anjo? Ou é Ele um Deus? E se Ele é um Deus, existem dois Deuses? Próximo ao início do século IV, um forte grupo na Igreja, sob a liderança de Ario, afirmava que Cristo era um anjo criado. Ataná-sio comandava a ortodoxia e garantiu a condenação do Arianismo no Concílio de Nicéia em 325 d.C. A decisão foi repetida e o Credo de Nicéia recebeu sua forma final no Concílio de Constantinopla em 381 d.C. O debate no concílio centrou-se no significado do título Filho de Deus. Os arianos sustentaram que o Filho nem sempre tinha existido; o Filho ou Palavra é uma criatura, uma obra, não o mesmo, em essência, com o Pai e, portanto, não era o verdadeiro Deus.
Atanásio, ao contrário, criou uma distinção entre a filiação moral, no sentido de que todo crente é um filho de Deus, e uma filiação natural, como Isaque era filho de Abraão. Então, se Cristo fosse Filho apenas no sentido moral, Ele não seria diferente de nós e não seria o único Filho de Deus. A isso, os arianos respondiam que Cristo é o único Filho de Deus porque Ele veio a ser unicamente através do Pai, enquanto todos os outros são gerados pelo Pai através do Filho. Mas essa construção, alegava Atanásio, nos tornaria filhos de Cristo ao invés de filhos de Deus. Cristo, então, nos separaria de Deus ao invés de nos unir a Ele. O debate se aprofundou em detalhes. Ario usou Provérbios 8.22, "O Senhor Deus me criou antes de tudo, antes das suas obras mais antigas" (RSV), para provar que Cristo era uma criatura. Atanásio referenciou o verso à natureza humana de Cristo. 
O concílio, por fim, rejeitou a afirmativa de Ario de que o Filho é como o Pai, assim como o estanho se assemelha à prata, e adotou o Credo de Nicéia para o qual o Filho é dito ser um em essência com o Pai. Alguns críticos ridicularizam a teologia e o concílio por ter discutido tão violentamente a respeito da importância da letra "i". O ponto em debate era se Jesus Cristo era da "mesma essência" (homoousios) do Pai (e, portanto, Deus por inteiro) ou de "essência similar" (homoiousios) ao Pai (e, portanto, alguém menor do que Deus). A diferença que a letra "i" faz é bem maior do que a existente entre prata e estanho; é a diferença entre Deus e uma criatura.
A doutrina da Trindade também é acusada de ter introduzido na cristandade temas pagãos da filosofia grega. Nada poderia estar mais longe da verdade. Em primeiro lugar, os argumentos de Atanásio não utilizam nem a linguagem, tampouco os conceitos da filosofia grega; eles são completamente bíblicos. Segundo, foi Ário e não Atanásio quem utilizou argumentos pagãos ao permitir que honras fossem prestadas a um ser que ele considerava inferior a Deus. E terceiro, o Credo de Nicéia removeu elementos pagãos que haviam aparecido em Orígenes e outros teólogos anteriores.
A doutrina da eterna geração do Filho, por exemplo, indicada nas palavras do Credo de Nicéia, "Unigénito de Seu Pai antes de todos os mundos", evita o erro de que o Logos, ao invés de ser um Filho eterno seja uma criação voluntária pela qual Deus se isola da contaminação da criação do mundo. Como a ênfase na eterna geração evita esse erro, a ênfase na geração eterna mostra que o Filho não é um passo em uma série descendente de emanações, e que embora a filiação por geração seja uma relação necessária, a criação é um ato voluntário. Para os cristãos ativos hoje, a questão da Trindade muitas vezes toma a forma da defesa da divindade de Cristo e a da personalidade do Espírito Santo. Esta defesa é requerida em dois casos. A teologia liberal tende a um Cristo puramente humano e as Testemunhas de Jeová ressuscitam o arianismo ao fazer de Cristo um anjo criado. O material escriturai é o mesmo, independente de qual grupo seja considerado, embora as Testemunhas de Jeová sejam mais propensas a dar atenção às Escrituras do que os liberais.

O primeiro versículo do Evangelho de João é frequentemente citado pelas Testemunhas de Jeová. Elas inevitavelmente sustentam que a tradução correta é: "No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era um deus". A resposta do cristão começa com o próprio versículo. Aqui encontramos uma expressão idiomática grega particular, o uso anarthous do nome, isto é, o uso do nome sem o artigo definido. Em grego, quando o narrador queria indicar ou designar uma pessoa ou objeto, ele usava o artigo; mas
quando queria reforçar uma qualidade ou natureza dos mesmos, ele excluía o artigo. Portanto, a tradução literal de João 1.1 seria: "E o Verbo era da mesma natureza ou qualidade de Deus" (cf. a mesma expressão idiomática em Hebreus 1.2, onde algumas versões trazem corretamente a expressão "seu Filho", embora o texto grego traga simplesmente o termo "filho"). A evidência adicional para provar que João não poderia ter ensinado que Cristo era uma criatura a quem foi concedido o título honorífico de "Deus" é claramente encontrada nos versos imediatamente seguintes a João 1.1. Outras passagens declaram dire-tamente a divindade de Cristo, como Hebreus 1.5-8, "A qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho?... Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos" (cf. Tt 2.13). Outro verso nesse sentido, cujas duas partes os liberais tentaram separar, inserindo um ponto final entre eles é: "Cristo... o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente" (Rm 9.5). Outras bem conhecidas afirmações da divindade de Cristo estão contidas na bênção apostólica (2 Co 13.13 e 13.14 em algumas versões) e na fórmula batismal (Mt 28.19). Referências adicionais selecionadas entre um grande número de referências disponíveis são: Mateus 11.27; João 5.23; Atos 10.36; 20.28; Romanos 10.9; Colossenses 2.9; 1 Tessalonicenses 3.11; 1 Pedro 1.2.
O fato de o termo Senhor ser a tradução, em grego, do termo Jeová utilizado no AT é, em si mesmo, uma evidência da divindade de Cristo e também nos convida a comparar passagens do AT e do NT; por exemplo, Isaías 40.3 com Mateus 3.3; Salmo 24.7,10 com 1 Coríntios 2.8; Jeremias 23.5,6 com 1 Coríntios 1.30; e Provérbios 16.4 com Colossenses 1.16.
Pode-se também supor que o AT antecipa a doutrina da Trindade ao utilizar um termo no plural, Elohim, em Génesis 1.26, e mais claramente quando se trata do Anjo do Senhor em Génesis 16; 18; 19. No caso do Espírito Santo, não é tanto sua divindade que é questionada, mas sua personalidade distinta. O Espírito Santo é uma pessoa; este é um fato que pode ser plenamente entendido. Embora o nome Espírito seja do género neutro em grego, os pronomes relativos ao Espírito são masculinos (ao contrário da tradução de Romanos 8.16 na versão KJV em inglês). Vários textos deixam bastante claro que Ele é uma pessoa distinta tanto do Pai como do Filho: Mateus 3.16; Lucas 4.18; João 15.26; 16.7; Atos 5.32; Hebreus 9.14 etc.
Alguns, às vezes, rejeitam a doutrina da Trindade por pensar que ela não está explicitamente declarada nas Escrituras (1 Jo 5.7 não consta em alguns textos gregos). Mas esta doutrina está claramente implícita no testemunho dado pelas Escrituras quanto à verdadeira e completa divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, mantendo uma distinção de pessoas; em outras palavras, há três pessoas em um único Deus.PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1966-1968.

Definição. Os crentes comuns, e até mesmo a maioria dos mestres cristãos, se fossem solicitados a definir a trindade, apresentariam uma definição "triteísta", e não uma definição "trinitária", Diriam haver três pessoas divinas, Pai, Filho e Espírito Santo, e que são uma só pessoa. Porém, se fossem pressionados a explicar melhor suas idéias, diriam que essas três pessoas são "distintas".
A doutrina trinitária, entretanto, não contempla pessoas distintas. Se assim fosse, tudo se reduziria ao "triteismo". Em outras palavras, haveria três pessoas e, por conseguinte, três deuses, pois cada pessoa é vista dotada de existência separada das outras duas. A maioria dos argumentos apresentados em favor do "trinitarianismo", na realidade dá apoio ao "triteismo", No trinitarianismo, fala-se da essência de Deus, como algo que está sujeito à distinção em três pessoas, mas sem qualquer divisão que permita a distinção em três pessoas diversas. Não há "três deuses", e nem meramente três modos de manifestação divina. Antes, todas as pessoas são co-extensivas, co-iguais e co-eternas. Contudo, sem importar que tipo de analogia ou argumento usemos, a fim de demonstrar essa doutrina, em algum ponto não conseguiremos explicar-nos devidamente, pois simplesmente não sabemos como pode haver três, e, ao mesmo tempo, um só, porquanto a mente dos homens terrenos não se presta muito bem para entender a matemática celeste. Por conseguinte, as analogias e explanações invariavelmente se inclinam por apoiar o "triteísrno", e não o "trinitarianisrno".
 Até mesmo as explicações antigas, que falavam de três "hipóstases" de "uma só substância", chegavam perigosamente perto do triteismo, se é que não eram expressões dessa posição. A palavra trindade significa a "união de três partes ou expressões em uma só". Porém, se postularmos três pessoas separadas, teremos caído no triteísmo, mesmo que digamos que essas três pessoas possuem o mesmo tipo de natureza. Muitos homens existem; compartilham do mesmo "tipo de natureza"; mas não perfazem "um" único individuo.
Se dissermos que Deus é um só, em seu ser essencial, mas que a essência divina existe em três formas ou modos de ser, cada forma constituindo uma pessoa, embora participem da mesma essência, ainda assim teremos caido no triteísmo, se porventura estivermos concebendo três pessoas distintas, com existências individuais. Agostinho falava da trindade em termos de "relações internas", ou seja, aspectos de um único ser divino. Em Deus não há qualquer divisão, mas tão-somente simplicidade e unidade perfeitas. Aceitando essa forma de definição, que é verdadeiramente trinitária, encontramos dificuldade em harmonizar essas idéias com as descrições dadas pelo NT, acerca das pessoas e das obras das três pessoas divinas. 
O que isso significa e que, sem importar qual definição apresentemos sobre a "trindade", nossas mentes permanecem insatisfeitas, porquanto simplesmente não podemos aprender o conceito "trinitário",já que não temos qualquer experiência sobre algo que seja, ao mesmo tempo, três e um. Portanto, nossas mentes não podem entender o conceito trinitariano, quando é apresentado realmente como tal, e não como forma velada do triteísmo.
Não obstante, o NT ensina que só há um Deus, e que há três pessoas divinas. Como isso pode ser, não sabemos dizê-lo. Tomás de Aquino estava com a razão, ao asseverar que algumas doutrinas cristãs transcendem à razão e à percepção dos sentidos estão sujeitas à apreensão exclusiva da fé. O fato de que a mente humana não é capaz de entender uma doutrina não significa que tal doutrina não seja veraz. Por conseguinte, afirmamos a verdade da idéia trinitariana, porquanto certas passagens do NT, quando consideradas em seu conjunto, exigem essa idéia, ainda que as nossas explicações a respeito fiquem muito aquém de nos satisfazer plenamente. Também aceitamos a divindade e a humanidade de Cristo, mescladas no homem Jesus de Nazaré, mas não há maneira de explicar tal coisa, acerca de como ela pode ser verdadeira. Isso envolve uma dimensão do conhecimento e da verdade que as nossas mentes ainda não conseguiram atingir. Por que haveríamos de pensar que não há "mistérios" presentes em qualquer sistema de conhecimento que envolva considerações sobre a realidade última? A verdadeira definição e compreensão sobre a trindade continuasendo um mistério para nós; no entanto, possuímos excelentes indicações, nas páginas do NT, de que isso representa a verdade sobre a natureza e a pessoa de Deus, e que o l';IT, não procura nos ensinar o ''triteismo''.
História. E verdade, naturalmente, que o termo "trindade" não se acha no NT, e nem em qualquer documento há uma definição clara de "trindade". Rejeitamos enfaticamente a germinidade do trecho de I João 5:7a, Bb, conforme o mostram as notas expositivas acima, em favor de cuja rejeição há evidências irresistiveis. Contudo, o "conceito" da "trindade" é algo que se faz necessário pelo aspecto "total" da divindade, segundo esta é exposta nas páginas do N. T.
O vocábulo "trindade" evidentemente foi pela primeira vez usado por Tertuliano, na última década do século II d.C., mas não encontrou lugar na teologia formal da Igreja até o século IV d.C. Essa doutrina recebeu ampla expressão, pela primeira vez, em resultado daobra de pais capadócios da Igreja (meados do século IV d.C. e mais tarde), a saber, Basílio, Gregório de Nissa e Gregório Nazianzeno. Eles formularam as idéias de distinção hipostática e de unidade substancial; mas algumas de suas explicações são claramente triteístas, e não trinitárias, o que se verifica sempre quando alguém tenta explanar. O que está em foco. A doutrina da trindade recebeu declaração formal na carta sinodal do concílio realizado em Constantinopla, em 382 d.C. (preservado por Teodoreto, História Eclesiástica, v.9). Ainda antes, tal como no credo de Nicéia, em 325 d.C; e nos escritos dos pais da Igreja Inácio, Irineu, Tertuliano e Orígenes, podem ser encontradas fórmulas trinitárias. O conceito da trindade, pois, é quase tão antigo como o "cânon" do próprio NT, tendo surgido na história eclesiástica quase tão prontamente quanto qualquer teologia formal.

Tertuliano falava de "uma substância, três pessoas".

Após o século IV d.C., a posição trinitária se tornou o padrão da Igreja, ainda que, periodicamente, tivesse sofrido ataques e negações. Os principais desses ataques foram o monoteísmo hebreu, o arianismo, o sabelianismo, o socinianismo e o unitarismo. A heresia gnóstica, naturalmente, antes disso, já vinha assediando a Igreja por cento e cinqüenta anos, desde os próprios dias apostólicos; essa heresia não tinha o conceito trinitário (ver CoL 2.18 no NTI quanto notas expositivas completas sobre esse sistema).
E verdade, naturalmente, que os primitivos cristãos, sem teologia sofisticada, não formularam qualquer "conceito trinitário". Somente muitas decadas de reflexão desenvolveram esse pensamento. Tal "reflexão", porém, foi frutífera, deixando transparecer certas verdades que a Igreja primitiva não possuía e nem descreveu de modo formal.
Crentes individuais têm negado, duvidado ou ignorado essa verdade, a qual não deve tornar-se base de nossa comunhão uns com os outros. É crente o indivíduo que reconhece a Jesus Cristo como Salvador (Col. 2: 19). Um homem pode fazer isso sem mostrar-se sofisticado em sua teologia ao ponto de formular um conceito trinitário.
Significação e importância da doutrina da trindade. Essa doutrina nos é revelada nas Escrituras por uma razão, não por mera curiosidade. Sugerimos os seguintes aspectos importantes dessa doutrina:
a. Confere-nos a compreensão acerca da natureza de Deus e, por conseguinte, da nossa própria, pois o homem também é uma espécie de trindade, formada de corpo, alma e espírito. Desse modo aprendemos, uma vez mais, que o homem foi criado segundo a imagem de Deus; e esse é o significado da existência toda, porquanto Deus é o alvo da vida, a saber, Deus Pai (ver Cor. 8:6) e o Filho (ver o primeiro capítulo da epístola aos Efésios, sobretudo o vigésimo terceiro versículo, e o trecho de Cal. 1:16).
b. Assim como Deus é triúno, mas cada pessoa divina tem sua função e propósito, mas todas concordam em um único propósito, assim também o homem, apesar de ser um ser extremamente complexo, pois combina aspectos espirituais e materiais, tem um grande propósito na existência. c. O conceito da trindade ensina-nos como Deus opera em sua criação: Deus Pai é o planejador de todas as coisas, incluindo a redenção humana; o Filho é o agente em tudo, criador tanto da antiga como da nova criação; e o Espírito Santo é o enviado de ambos, procurando realizar a missão do Filho durante sua ausência, especialmente a transformação dos homens remidos segundo a imagem e a natureza do Filho, que é a redenção mesma da humanidade. Todas as doutrinas cristãs, pois, têm alguma relação com o conceito da trindade. A redenção humana está a ela vinculada.d. O conceito da trindade tira da idéia de estagnação o conceito de Deus agora e por toda a eternidade. Deus é dinâmico, pois nele existe plenitude de vida, sendo Ele a sua própria fonte originaria.
e. Esse conceito nega o "deísmo", que é a doutrina que Deus é tão transcendental que não pode e não tem qualquer coisa a ver com sua criação; bem pelo contrário, o "Filho" subentende que haverá outros filhos de Deus. Ele veio em busca dos homens para concretizar esse ideal; o Espírito Santo, na qualidade de "paracleto" e agente de Cristo, de seu alter ego, mostra que Deus sempre está com os homens, com o propósito de conduzi-los ao seio da família divina, para que sejam irmãos do Filho de Deus (ver 11 Cor. 3:18 e Rom. 8:29). Por conseguinte, o conceito da trindade subentende o "teísmo", ou seja, que Deus está conosco e visa o nosso beneficio.
f. O conceito da trindade subentende unidade na diversidade; e essa é uma lição objetiva concernente ao mundo como Deus trata com sua criação. Cristo é o centro de tudo (unidade), mas os homens, uma vez remidos, não perdem a sua individualidade, embora assumam a imagem e natureza de Cristo e venham a compartilhar de toda a plenitude de Deus (Ver Efé. 3: 19 e Col. 2: 10). O dualismo não se acha no coração central do Universo, embora agora se manifeste, por causa da presença do pecado.
g. O trinitarianistrio limita os "rivais" ao poder de Deus. Chama de "falsos", a todos os demais supostos deuses. Deus, na qualidade de benevolência suprema, portanto, garante o triunfo do bem em todo o Universo. Nem mesmo os perdidos haverão de conservar-se em hostilidade contra Deus; e isso envolve alguma forma de restauração, até mesmo para esses, apesar de não virem a compartilhar da vida dos eleitos (ver o primeiro capítulo da epístola aos Efésios, ver Col. 3:6).
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 1. Editora Hagnos. pag.496-498 (estudalicao.blogspot.com)
fonte www.mauricioberwaldofical.blogspot.com

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