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quinta-feira, 3 de novembro de 2016

A NOVA JERUSALEM (2)

       







                    Professor Mauricio Berwald

 É um lugar real. Ela foi descrita rica e detalhadamente por João. Leia o capítulo 21 do Apocalipse. Se cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus, não teremos dificuldades para aceitar a realidade de nossa morada eterna.

 Arquitetura. A Nova Jerusalém foi ideada e construída pelo próprio Deus (Hb 11.10). Se o mundo natural já é belo e cheio de deslumbres, o que não diremos do sobrenatural? Você anseia pela cidade edificada por Deus?

Formato. Deus construiu a Nova Jerusalém como um cubo perfeito, segundo João no-la descreve: “E a cidade estava situada em quadrado; e o seu comprimento era tanto como a sua largura. E mediu a cidade com a cana até doze mil estádios; e o seu comprimento, largura e altura eram iguais” (Ap 21.16).

De conformidade com as medidas atuais, a cidade mede dois mil e duzentos quilômetros de comprimento, tendo iguais largura e altura. Seu espaço é mais do que suficiente para abrigar os santos e justos de todas as eras.

 Materiais. Iluminada pela glória de Deus, sua luz tem a resplandecência do jaspe. Além disso, ela é feita de ouro puro e, como fundamento, possui doze pedras preciosas.
Ela não precisa de templo, porque o seu santuário é o Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro (Ap 21.22). Também não carece de sol nem de lua, porque o Filho de Deus é a sua lâmpada (Ap 21.23). E como ali não haverá noite, suas portas jamais se fecharão. Aleluia!



                             PERFEITO ESTADO ETERNO

Um governo perfeito. O seu governante é o próprio Deus na pessoa de seu amado Filho. Tudo será administrado com perfeição máxima.

Habitantes perfeitos. Os redimidos de todas as eras lá estarão. Ali, os patriarcas, profetas e apóstolos receberão elevadas distinções (Lc 13.28; Ap 21.14). As tribos de Israel serão igualmente honradas (Ap 21.12).
Entre os habitantes da Nova Jerusalém, estarão também as nações (Ap 21.24). Isso significa que a cidade não será afetada pela enfado, nem pela monotonia. Ela será espiritual e intelectualmente estimulante.

 Conhecimento perfeito. Na Jerusalém Celeste, teremos a eternidade para adorar a Deus e explorar-lhe o infinito conhecimento. Já imaginou um estudo teológico de milhões de anos? Sim, lá seremos teólogos perfeitos. Hoje, conhecemos a Deus apenas em parte (1 Co 13.12). Mas ali, na Nova Jerusalém, a eternidade não será suficiente para conhecermos o Pai (Rm 11.33). Aleluia!

 Comunhão perfeita. Na Jerusalém Celeste, conheceremos os patriarcas, profetas e apóstolos. E não deixaremos de reconhecer nossos irmãos, amigos e parentes que morreram na esperança da vida eterna.
O rico não reconheceu a Lázaro no paraíso (Lc 16.23)? E o Senhor transfigurado? Não foi igualmente reconhecido pelos discípulos (Mt 17.14)? O apóstolo Paulo, por sua vez, exorta-nos a não nos mostrarmos ignorantes com respeito aos que dormem, porque um dia os veremos (1 Ts 4.13-18). É por isso que todas as nossas lágrimas serão enxugadas na Cidade de Deus (Ap 21.4).

 Amor perfeito. Nossa comunhão será perfeita, porque o nosso amor também será perfeito. Escreve Paulo: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o amor” (1 Co 13.13). Lá, não precisaremos de fé, porque estaremos frente à frente com o Pai Celeste (1 Jo 3.2). Também não precisaremos de esperança, porque comungaremos para sempre com o tão esperado Jesus. Mas, quanto ao amor, o que podemos dizer? A eternidade não será o bastante para declararmos ao Noivo o quanto o amamos.

A primeira grande tragédia da história foi a expulsão de Adão e Eva do jardim que o Senhor plantara no Éden (Gn 3.23,24). Desde então, vem o homem no encalço do paraíso perdido.
Em Cristo, porém, Deus preparou-nos um lugar infinitamente melhor. Um lugar almejado por reis e patriarcas. Sim, Ele preparou-nos a Nova Jerusalém. Não quer você também morar na formosa cidade? É só receber o Senhor como o seu salvador pessoal. 






O anjo que falava a João tinha na mão uma ‘cana de ouro’ para medir a cidade, seus muros e portões. Enquanto o anjo mede a cidade, João o observa. O apóstolo, pois, vê uma cidade literal, não meramente um símbolo espiritual da Igreja.
Tudo na cidade é maravilhoso e magnificente. Seria impossível a qualquer arquiteto humano, engenheiro, ou mestre de obra, edificar uma cidade como esta. O seu arquiteto e construtor é o próprio Deus (Hb 11.10). Sua simetria, tamanho, perfeição e beleza refletem não somente sua glória, mas seu inigualável amor para conosco.
O tamanho da cidade é algo que vai além de nossa compreensão. Haverá lugar suficiente aos crentes de todos os tempos. O texto diz: ‘Doze mil estádios’ (o estádio grego equivale a 1.380 milhas — quase dois quilômetros). Sua área total, pois, seria equivalente a metade do Continente Americano.

A cidade é quadrada. O comprimento, a largura e a altura são iguais. A palavra ‘quadrada’ era usada para indicar as pedras devidamente preparadas às construções e objetos cúbicos. Muitos acham, por isto, que a cidade será um perfeito cubo como o Santo dos santos, onde Deus manifestava sua presença no Tabernáculo e, posteriormente, no Templo (1 Rs 6.20). Por inferência, podemos dizer que a cidade será um imenso Santos dos santos” (HORTON, S. M. Apocalipse: As coisas que brevemente devem acontecer. 2.ed., RJ: CPAD, 2001, pp.305,06).



nova criação Ap 21.1-8

A criação de um novo céu e de uma nova terra (1) ensina-se em Is 65.17; Is 66.22, e implica-se em Sl 102.25-26; cfr. Mt 5.18; Mc 13.31; Lc 16.17; 2Pe 3.12. Encontra menção frequente nos apocaliptistas que, contudo levam ao extremo um pensamento indubitavelmente latente nesta doutrina, que a atual criação (ou pelo menos a sua atual forma) é suficiente ser a cena do reino de Deus aperfeiçoado e eterno. (Para uma afirmação excelente deste ponto de vista, ver 2 Baruque 44.8-12; 73.1-74.3). A afirmação que o mar já não existe tem em vista a corrente personificação do mar como a quinta essência do mal; seja o que for mais que se significa aqui, portanto, o sentimento principal é a exclusão do mal da nova ordem de vida. A santa cidade (2) descreve-se mais em 21.9, se bem que lá esteja em vista a sua manifestação na época milenária, enquanto aqui se mostra como o alvo final de uma humanidade redimida no estado eterno. A cidade é na realidade a Igreja, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido; este aspecto da relação da Igreja com Cristo já tem sido revelado em Ap 19.7-9. Uma voz do trono proclama a unidade de Deus com o homem daí por diante. O tabernáculo de Deus (3) pode aqui referir-se não ao "tabernáculo no deserto", mas à glória chequiná; o equivalente grego skene tem um som semelhante ao chequiná em hebraico, e este último veio a ser usado regularmente como um dos termos alternativos para o nome de Deus; cfr. Pirke Aboth 3.3, "Quando dois se assentam e há entre eles palavras da Torá, a "Chequiná" repousa entre eles". Observem-se as variantes textuais na última cláusula deste versículo como verificado na atualizada. Cfr. vers. 4 e Ap 7.17; 1Co 15.54; Is 35.10. O pensamento dos vers. 4 e 5 aplica-se em 2Co 5.17 à atual experiência dos cristãos, que já têm sido trasladados ao reino de Deus (Cl 1.13) e prova os poderes da época por vir (Hb 6.5). Está cumprido (6), ver Ap 16.17. Observe-se que Deus tanto é Ômega como Alfa, o fim tão bem como o começo; o seu caráter garante a verdade desta revelação e a certeza da consumação que ela apregoa. A promessa graciosa que se acrescenta (6) ecoa Is 55.1. Uma final promessa encorajadora dá-se no vers. 7 ao cristão que permanece; todas as coisas, as bênçãos da santa cidade no milênio e na nova criação, serão a sua herança.

Em contraste do vencedor que herda o reino estão aqueles que dele se excluem. Em primeiro lugar, são os tímidos (8) ou antes os pusilânimes, que, por medo dos homens negam a Cristo e cultuam ao anticristo (contrastar 2Tm 1.7, "Deus não nos deu o espírito de timidez"). Com estes se unem os incrédulos ou, talvez, "infiéis", incluindo tanto os cristãos renegados como os pagãos; cfr. Tt 1.15-16. Os abomináveis assim se tornaram através do seu culto à besta; ver Ap 17.4-5. O sentimento deste verso ecoa o ensino do Novo Testamento como um todo; cfr. por ex., Mt 25.41-43; Lc 13.28; Jo 3.36; 1Co 6.9-10; Tg 5.1; 1Pe 4.17-18; etc.


A Nova Criação e o Estado Eterno (21:1-8).

 MAIS NOTAS

Somente quando a nova criação substituir à antiga é que poderemos dizer que a influência e a obra de Satanás foram totalmente apagadas da existência, pelo que esta sétima visão relata como a criação inteira será libertada dos últimos vestígios do pecado, para sempre. Essa descrição é uma das mais belas de toda a Bíblia, apresentada com simplicidade e dignidade, sem os exageros retóricos e sem verbosidade.

Na escatologia iraniana (Bunsahish 30:32) e nos apocalipses judaicos, juntamente com ideias similares do A.T., temos uma tradição que fala da nova criação, como se fora uma «renovação» do mundo antigo. (Ver Is 65:17 e 16:22 e contextos. Ver também II Baruque 32:6; 44:12; 48:50; 51:3 e I Enoque 45:4,5). Mas também há a tradição de uma criação inteiramente nova, e não de mera renovação da antiga. (Ver I Enoque 72:1; 91:16 e II Esdras 7:30,75). Assim sendo, nos documentos cristãos às vezes há a ideia de «renovação», e às vezes há a ideia de uma «criação inteiramente nova». (Ver Mt 19:28 quanto à ideia da «renovação»; e ver II Pe 3:10,13, no tocante à ideia de uma criação inteiramente nova). Essa última passagem obviamente fala da total aniquilação da antiga criação por meio do fogo. Cientificamente, com base naquilo que sabemos,isso é totalmente possível. A matéria da criação poderia ser reduzida a mera energia mediante o mesmo processo que causa as explosões atômicas. Quanto ao ponto de vista do Apocalipse, é perfeitamente evidente que esse livro antecipa o total aniquilamento da antiga criação, havendo então um ato criador totalmente novo. Já vimos isso em Ap 20:11, e esse pensamento é reiterado agora, neste primeiro versículo do capítulo vinte e um.

«Da fumaça, da dor e das chamas, é um alívio passar para a atmosfera clara e limpa da manhã eterna, onde o ar celeste é puro e a vasta cidade de Deus fulgura como um diamante na irradiação de sua presença. A ideia dominante da passagem é que o meio ambiente deve ser de acordo com o caráter e a antecipação; consequentemente, assim como o antigo universo estava inevitavelmente maculado pelo pecado, uma nova ordem de coisas deve ser formada, uma vez que a antiga cena de prova e fracasso seja posta de lado... A expectação (ver Rm 8:28 e ss.) de que a perda ocorrida por ocasião da queda de Adão seria revertida, dificilmente é a mesma coisa que essa transformação escatológica; esta última prevalece sempre que as inflexíveis exigências da era parecem exigir uma limpeza total do universo, e a atitude apocalíptica para com a natureza raramente tem algo a ver com a ternura e a paixão, por exemplo, de IV Esdras 8:42-48. A sequência de Ap 20:11 e ss. e 21:1 e ss., pois, segue o programa escatológico geral, como se vê, por exemplo, em Apocalipse de Baruque 21:23 e ss., onde, após terminada a morte, o novo mundo prometido por Deus aparece como habitação dos santos (comparar com Ap 21:1 e ss.). A Jerusalém terrestre é suficientemente boa para o milênio, mas não para a bem-aventurança final». (Moffatt, in loc.).

«A palavra característica que atravessa a descrição é o termo ‘novo’. Todas as coisas se tornarão ‘novas’. Existem dois vocábulos traduzidos por ‘novo’ ...um deles (‘neos’) diz respeito ao tempo; o outro (‘kainos’) diz respeito à qualidade. O primeiro se aplica ao que recentemente veio à existência; o outro ao que demonstra características novas». (Carpenter, in loc).

«Agora que todo o mal foi destruído para sempre, e que todos os agentes do mal foram lançados no lago do fogo, e que desapareceram os antigos céus e terra, e o juízo final é levado a bom termo, e a morte e o hades são destruídos, então Deus cria novos céus e nova terra, convocando à existência a Nova Jerusalém. Nessa cidade, que nunca conhecerá lágrimas, nem tristeza, nem choro, nem dor e nem maldição, Deus habitará com os homens em seu trono, que é também o do Cordeiro; e seus servos, cujo caráter, como possessão mesma de Deus, dali por diante serão marcados na fronte e o servirão, e eles o verão face a face. E Deus fará a luz de seu rosto brilhar sobre eles em bênção perpétua, e reinarão para todo o sempre». (Charles, in loc.).

21:1  E vi um novo céu e uma nova torra. Porque já se foram o primeiro céu e a primeira terra e o mar já não existe.

«...Vi...» Em visão mística.

«...novo céu...» As notas de introdução a esta seção têm mostrado que não haverá mera «renovação», e, sim, um céu inteiramente novo, parte de uma criação inteiramente nova. (Ver IIPe 3:10 e ss. quanto a detalhes acerca desse conceito que diz que o antigo desaparecerá de todo antes da nova criação tomar seu lugar. Ver Ap 20:11. Até mesmo o antigo «céu» fora contaminado pelo trabalho de Satanás, motivo por que não poderá ser eterno. (Ver Ap 12:4 e ss.Ver Cl 1:20, que mostra que até os céus estão sujeitos à missão remidora de Deus). Deve-se observar, neste ponto, o uso do singular, o que é costume do autor sagrado, excetuando em Ap 12:12, onde é usado o plural, por tratar-se de uma citação. O antigo ponto de vista era o de uma multiplicidade de esferas, de céus em vários níveis, ou seja, «céus» ou «lugares celestiais». (Ver Ef 1:3 acerca desse conceito).

«...nova terra...» Não se deve pensar aqui na renovação da antiga terra, através do fogo, e, sim, em algo completamente novo, parte de um novo ato criador. Este capítulo assinala um novo começo, tal como o primeiro capítulo do Gênesis marca o antigo começo. Ambas as coisas dizem respeito a atos criadores, e não a atos renovadores.

«...primeiro céu...» Aqui há menção ao céu ou céus, às esferas celestiais, incluindo o nível mais elevado, onde Deus manifesta sua presença, onde está o seu trono. Isso não mais existirá. Os antigos céus fazem parte do antigo ato criador, descrito no primeiro capítulo do livro de Gênesis. Tudo isso é passado, agora. Não há vestígios dessa antiga criação, nem mais os lugares celestiais. Os capítulos que ora passamos a comentar mostram como as obras de Satanás serão totalmente aniquiladas, sendo estabelecida uma ordem eterna e completamente nova. Segundo a opinião do autor sagrado, isso não poderá suceder sem o total aniquilamento da antiga ordem, da antiga existência.

«...primeira terra...» Também faz parte do antigo ato criador. Quando a matéria se transformar em energia, como se dá nas explosões atômicas, a antiga terra desaparecerá. Então será criada uma nova terra.

«...o mar já não existe... » Isso é um tanto difícil de entender, pois, naturalmente, se a antiga terra não mais existir, não poderá mais haver mar. Portanto, na opinião de alguns, essa expressão parece bastante supérflua. Supérflua a menos que esse «mar» seja usado de modo figurado, conforme se vê noutros trechos (ver Ap 13:1). Pensamos que esse é o caso, dando a entender que a antiga ordem de civilização, as nações e seu sistema, desaparecerão. Tudo isso desaparecerá, dando lugar a uma criação inteiramente nova. Haverá uma raça nova, embora de natureza celestial, moldada segundo o próprio Filho, participante de sua natureza e de seus atributos (ver II Co 3:18). Há uma alusão ao desaparecimento do «mar» em Testamento de Levi (109 A.C.), bem como na Ascensão de Moisés 10:6, que diz: «E o mar se retirará para o abismo, e as fontes de águas falharão, e os rios se secarão». (Ver também Oráculos Sibilinos v. 159,160,447).

Charles (in loc.) sugere que os povos semitas, não sendo povos marítimos, tinham horror ao mar. É possível, seguindo-se essa linha de pensamento, que a «ausência do mar» não é mera alusão aos literais «antigos oceanos», mas à total ausência de um oceano sobre a nova terra. Uma mente semita gostaria disso, e, além disso, ficaríamos livres de más associações marítimas, como dragões, serpentes marinhas, etc. Assim é que Plutarco, em seu De Iside et Osiride 7, considera o mar como algo estranho na natureza.

Outras ideias sobre o primeiro versículo deste capitulo:

1.      Moffatt (in loc.) supõe que a «ausência do mar», na nova terra, se deve ao conhecimento do autor sagrado (e sua aparente depreciação) acerca de mitos vinculados ao mar, como o do «dragão» que faz oposição a Deus, etc. Já que não haverá mar, também não poderá haver dragão, pelo que o bem e a paz haverão de reinar sobre a nova terra. (Ver Is 27:1 quanto ao «dragão do mar»).

2.      O mar é símbolo da turbulência dos ímpios e dos sistemas mundanos. O testamento de Levi 4 e Is 57:20 nos dão a entender isso. O mar espumeja sujeira (ver Is 57:21). Tais elementos não poderão conspurcar a nova criação.

3.      Babilônia aparece entronizada sobre as águas; a besta dominará o mar e dele provirá (verAp 13:1 e 17:1).

4.      O mar separava terras de terras e dividia povos, servindo, assim, como agente de desunião. A nova criação não terá nada disso.

5.      O mar e as grandes águas foram antes o instrumento da destruição da terra. A nova criação será indestrutível.

6.      «Os astrônomos dizem que durante as poucas centenas de anos, dúzias de mundos se têm incendiado perante os olhos mesmos dos cientistas. Mundos que antes atravessavam majestosamente o espaço e então repentinamente explodiram e desapareceram. Sob toda esta velha terra existem os vulcões, fontes termais, rios de lava e gêiseres de vapor de água, lembrando-nos que dentro da mesma há um mar de fogo, e que Pedro falava disso quando declarou, por inspiração do Espírito Santo: ‘Ora, os céus que agora existem, e a terra, pela mesma palavra têm sido entesourados para fogo, estando reservados para o dia do juízo e destruição dos homens ímpios’. Perguntamos, pois, por que este velho mundo já não explodiu antes. Quando alguém considera esses fatos, com base tanto nas Escrituras como na ciência, estremece ao pensar sobre o lugar precário em que vive» (De Haan, in loc.).

7.      A «nova criação», naturalmente, contrariamente ao que dizem alguns intérpretes, será tanto física quanto espiritual, e isso pela eternidade. Este texto nada tem a ver com o triunfo da igreja sobre a terra antiga, nos últimos dias.

21:2  E vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que descia do céu da parte de Deus, adereçada como uma noiva ataviada para o teu noivo.

«...Vi...» Em visão mística de Ap 1:10.

«...a cidade santa, a nova Jerusalém...» Assim como a antiga Jerusalém se tornara a capital da terra durante o milênio, assim também agora, no estado eterno, haverá uma capital, lar da Noiva, a igreja. A palavra «cidade» talvez aluda aos «ocupantes» de um determinado lugar, ou então à própria cidade física. Portanto, presumimos que a «nova Jerusalém» é tanto a «noiva» (os habitantes) como também a cidade literal. Pelo menos parece ser esse o ponto de vista do autor. Se se trata de uma cidade literal, ela é apresentada como um imenso cubo, tão vasto que João teve de ser postado em uma altíssima montanha para poder contemplá-la. Calcula-se suas dimensões em duzentos e quarenta quilômetros de comprimento, outro tanto de largura, e outro tanto de altura! Presumivelmente seria uma cidade de muitos níveis, com ruas superpostas umas às outras. João prossegue a fim de descrever seu «material». Os estudiosos dividem-se em literalistas e simbolistas. Alguém vê nisso uma cidade e materiais literais. Outros enxergam em cada item o símbolo de alguma realidade espiritual que nada tem a ver com a substância física.

Uma Jerusalém restaurada com seu templo, etc., era uma expectação messiânica e judaica (ver Is 54-55; Ez 40-48; Oráculos Sibilinos 5:423-426; II Baruque 6:9). O Testamento de Daniel 5:12prediz a restauração tanto do jardim do Éden como da cidade de Jerusalém. Alguns judeus supunham que haveria uma Jerusalém celestial e preexistente, que descria dos céus no dia do Messias (ver II Esdras 13:36 e II Baruque 4:2-7). Em II Esdras há uma espécie de parábola de ensinamento místico, na qual uma mulher lamenta por seu filho morto. Ela é a antiga Jerusalém, a chorar seu filho (os habitantes de Jerusalém), destruído pelos romanos. Subitamente, a mulher é tomada de alegria triunfante, resplandecendo de luz; a terra estremece e ela desaparece, deixando em seu lugar a Jerusalém celestial. A literatura apocalíptica, por igual modo, desenvolve uma doutrina da Nova Jerusalém; e em alguns pontos, tal como se vê neste livro, trata-se de algo celestial, pertencente à era eterna, e não ao antigo sistema mundano. A antiga Jerusalém será suficientemente boa para o milênio; mas, para o estado eterno, terá de haver uma nova e celestial Jerusalém, o lar dos justos. Os trechos de I Enoque90:28,29; II Esdras 7:26 e 8:52 contam a história dessa expectação. Assim, no neo-hebraico Apocalipse de Elias, tanto um novo Éden como uma Nova Jerusalém caracterizarão a bem-aventurança da nova era. Ambos descerão dos céus, tal como no Apocalipse. Lembremo-nos de que os rabinos compartilhavam da noção platônica de como as esferas celestiais ou espirituais são os «arquétipos» de tudo quanto existe na terra, como paralelos celestes, e segundo o molde dos quais as coisas terrenas foram criadas como imitações. Assim, todas as coisas terrenas têm seus paralelos celestiais. Desse modo, a Jerusalém terrestre seria pequeno quadro de uma outracidade, seu paralelo eterno. O estado eterno será a realidade, e não uma mera imitação.

«...ataviada como noiva...» A Nova Jerusalém também é a «noiva» de Cristo. (Ver Ap 19:7-10 quanto às «bodas do Cordeiro». Ver Ef 5:23 acerca do manuseio teológico desse símbolo). Ali há comunhão, amor e partilha íntima. Em Gl 4:26, o apóstolo Paulo personifica a cidade celestial como mãe do verdadeiro Israel. Isso pode ser contrastado com a personificação de Roma como a «meretriz». Agora, Jerusalém, a pura, a santa e a eterna, toma conta da cena, da qual desaparecera Roma, a prostituta.

A promessa feita aos mártires. Lembremo-nos que o Apocalipse foi escrito para consolar e fortalecer aos mártires cristãos. O fato que eles estarão e habitarão na Nova Jerusalém, talvez seja a promessa e o consolo finais deste livro. A própria morte será extinta, e os santos, ainda que tenham sido mortos violentamente, às mãos de homens ímpios e desvairados, triunfarão finalmente. Quão grande será o triunfo dos santos!

A Noiva foi ataviada e agora é digna do Noivo. Está adornada com a santidade de Deus, a qual foi duplicada nela (ver Mt 5:48); também está adornada com a natureza divina (ver II Pe 1:4), pelo que é digna de ser a Noiva de Cristo; e está adornada com toda a plenitude de Deus, participando de seus atributos (ver Ef 3:19 e Cl 2:10). A própria cidade está adornada (o que é frisado aqui); mas seus habitantes também estão adornados (o que é enfatizado em Ap 21:9 ess).

Outras ideias sobre o segundo versículo:

1.      «Uma noiva». (Comparar com Is 61:10 e 62:5).

2.      Trata-se de uma «cidade santa». Todos os males que corromperam os antigos céus e a antiga terra, e que exigiram, finalmente, sua própria extinção, agora já não existem. Somente a santidade agora habita ali. (Ver Hb 12:14, que ensina que sem a santificação ninguém verá a Deus). A noiva participará a santidade do próprio Deus (ver Rm 3:21) como também de suas virtudes morais positivas (ver Mt 5:48). E, por causa disso, possuirá a própria natureza metafísica de Cristo (ver II Co 3:18).

3.      «Não haverá mais apenas um paraíso, como no Éden (embora também haverá isso; ver Ap 2:7) um mero jardim, mas agora haverá a ‘cidade de Deus', muito mais valiosa e imponente, que exigiu um labor muito mais vasto que no caso de qualquer homem que cuidasse do jardim de Éden. As ‘pedras vivas’, com o tempo, foram laboriosamente moldadas, segundo o modelo da ‘principal pedra angular’, preparando-as para o lugar que preencherão para sempre na Jerusalém celestial». (Fausset, in loc.). Ele faz aqui alusão aos trechos de I Pe 2:5 e ss., e talvez também Ef 2:19 e ss.

4.      «O Deus santo e bendito renovará o mundo e edificará Jerusalém, e a fará descer dos céus». (Midrash Hanaalem, Sohar, Gen. foi. 69, col. 271).

5.      «A noiva aparecerá, a saber, a cidade que surgirá, e será vista aquela que agora está oculta da terra». (IV Esdras 6:26).

6.      «A nova Jerusalém deverá descer da parte de Deus. O verdadeiro modelo, o único capaz de satisfazer aos mais elevados anelos do homem, é o padrão que houve no monte de Deus (ver At7:44)» (Carpenter, in loc.).

7.      A maior parte dos eruditos pensa que essa cidade é a «Noiva», ou seja, uma descrição da eterna bem-aventurança da igreja, não se tratando de qualquer coisa física. E isso significa que nenhuma «cidade» literal é antecipada pela maioria deles. Mas alguns, naturalmente, se opõem a tal interpretação. Suspeitamos que o vidente João tinha ambos os pontos de vista.

21:3  E ouvi uma grande voz, vinda do trono, que dizia: Eis que o tabernáculo de Deus está com os homem, pois com ele habitará, e eles serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles.

«...ouvi...» Porquanto as visões místicas também podem ser audíveis. Por todo o Apocalipse há grandes vozes de anjos, que narram a história do juízo e da glória finais.

«...grande voz...» Uma expressão comum neste livro, para chamar-nos a atenção. Ela é alta e forte, exigindo que ouçamos e aprendamos. (Ver Ap 1:10; 5:2; 6:10 e 7:2, quanto à mesma expressão). Algumas vezes está em foco a voz de um anjo, ou então de Cristo ou de Deus; e algumas vezes é uma voz não identificada, como aqui. Também há uma voz que sai do altar ou do trono, nos quais casos, como é óbvio, esses objetos são «personificados». (Ver Ap 16:7 quanto a isso). Em Ap 19:5 temos uma voz saída do «trono». A voz soa como um cântico de glória e de louvor. Isso pode ser contrastado ao lamento por causa da queda de Roma (ver Ap 18:21-24). Esse «hino» se alicerça principalmente sobre a fraseologia da A.T. (Ver Ez 37:27 quanto ao pano de fundo literário. Ver também Is 25:8, quanto a alguns dos detalhes aqui incluídos).

«...trono...» (Quanto ao «trono» e seu simbolismo, ver Ap 4:2). A voz emana da autoridade máxima, investida do maior poder, a saber, o trono de Deus, onde o Senhor manifesta seu poder ilimitado. Portanto, o que aqui é dito deve ser veraz e inevitavelmente terá cumprimento.

«...tabernáculo de Deus com os homens...» Assim como o antigo tabernáculo provia um meio para Deus manifestar-se entre os homens, embora de baixa qualidade espiritual, pois isso é tudo quanto os homens podem resistir enquanto são mortais, assim também agora, no estado eterno. Deus armará «tenda» entre os homens, de modo apropriado ao estado eterno e à pura imortalidade. O trecho de Ez 37:27 diz: «O meu tabernáculo estará com eles; eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo». Deus estabelecerá sua residência entre os homens, pois agora são seus filhos imortais e pertencem à sua família. Deus será imanente, em contraste com o era mortal, quando os pecados dos homens o forçaram a ser distantes.

«...Deus mesmo...» Isso é o máximo do «teísmo». O teísmo ensina que Deus não somente criou a tudo, mas também mantém contato com este mundo, intervindo, recompensando e punindo. Já o deísmo, em contraste, apesar de admitir a existência de uma força criadora, ou mesmo de um criador, um ser pessoal, nega que ele tenha qualquer interesse por sua criação. Assim, não faria intervenção e nem castigaria ao mal (exceto através das leis naturais, que ele pôs em ordem), e nem recompensaria ao bem. O N.T. é um documento altamente teísta, e em ponto algum isso se destaca tanto quanto aqui.

«...Eles serão povos de Deus...» Terão sido conduzidos à verdadeira imortalidade, como filhos em quem o Filho é duplicado, no tocante à sua natureza e atributos; e assim poderão habitar nas mais altas esferas de glória. Somente assim o homem poderá habitar na presença mesma de Deus. Naturalmente, a participação na natureza e nos atributos divinos sempre se manifestará de forma secundária no homem, e o processo, de crescimento espiritual é eterno. Já que há umainfinitude com que seremos cheios, deverá haver também um preenchimento infinito. Ef 3:19mostra que existe essa infinitude.

«Com notável franqueza é dito que a habitação de Deus está com os homens. A fim de que não haja engano, as palavras são repetidas: ‘Deus habitará com eles'. E então o pensamento é expresso em um verdadeiro clímax de esperança: ‘Eles serão povos de Deus’. E há outra repetição: ‘Deus mesmo estará com eles’. Quanto à plenitude e à propulsão de declaração, essa série de declarações dificilmente tem um paralelo nas Escrituras. Temos aqui o contraste final entre o cristianismo e o panteísmo. No panteísmo os homens são pelo menos visto como unidos em essência com o divino. No cristianismo são vistos em comunhão moral e espiritual com o divino. Os dois conceitos pertencem a dois mundos que nunca poderão conviver juntos harmoniosamente. No panteísmo desaparecem as distinções morais; no cristianismo são vistas como algo gloriosamente permanente. A comunhão moral e espiritual é a característica mesma do cumprimento celestial». (Hough, in loc.).

Variante Textual: Ao invés de «trono», os mss P, 046 e a maioria dos manuscritos e versões dizem «céu». Porém, os manuscritos mais antigos apoiam a forma «trono», a saber, os mss Aleph, A, 94, A Vg, Irineu(lat), Ticônio, Ambrósio e Haimo. A forma «da parte do céu» parece ser uma assimilação com base no segundo versículo deste capítulo. (Quanto à «voz do céu», ver tambémAp 10:4 e 14:2).

Outras ideias sobre o terceiro versículo:

1.      A visão é recebida da parte do «antigo templo celestial», conforme se vê por todo o Apocalipse, e não do «novo céu». Pois no novo céu não haverá templo e nem sala do trono (ver Ap21:22). Mas, naturalmente, há menção a um «trono», em Ap 22:1.

2.      O antigo «tabernáculo» tinha o shekinah de Deus ou resplendor divino; e na nova criação isso sucederá supremamente. O próprio tabernáculo fora construído de modo a permitir certa manifestação de Deus entre os homens. Mas isso será elevado a um alto nível de poder no estado eterno. Berach 17a fala de como os homens se deleitam na gloria da «shekinah». Quanto mais será o caso na manifestação celestial de Deus entre os homens.

3.      Haverá um só rebanho e um só pastor (ver Jo 10:16) na forma mais elevada e idealista possível, no estado eterno, quando os homens se tornarem «povos de Deus». Haverá extrema alegria e comunhão, quando os homens se tornarem Noiva de Cristo.

Variante Textual: A palavra povo, no singular, é a forma que aparece nos mss EP, na maioria dos manuscritos minúsculos e nas versões. Mas o plural é a forma que aparece em Aleph, A, 046 e2053, o que é uma evidência objetiva um tanto mais forte. Com igual facilidade, os escribas teriam feito modificação para o singular ou para o plural, e as referências bíblicas ou o simples descuido poderiam explicar uma ou outra coisa Não há meio para determinar com certeza qual era a forma original, e nem isso se reveste de grande importância.

4.      As palavras «Deus mesmo» refletem um uso enfático, salientando a glória da comunhão divina que haverá no estado eterno.

5.      «Deus estará com eles» é a forma que se vê no ms A e em alguns poucos outros manuscritos. Mas os mss Aleph, 046 e a maioria dos manuscritos minúsculos adicionam «e (será) o Deus deles». Normalmente, a forma mais breve é a correta, porquanto seria muito mais natural que os escribas adornassem uma passagem, ao invés de abreviá-la. Contudo, a «adição» pode ter sido a forma original, descontinuada por algum escriba como uma declaração supérflua. Mas isso é menos provável.

6.      «Deus é accessível, e os homens são consolados com eterno conforto. (Conferir Enoque10:22)» (Moffatt, in loc.).

7.      «Deus agora é realmente o Emanuel, tal como sucedera a Cristo (ver Mt 1:23)» (Robertson,in loc.). Emanuel significa «Deus conosco». (Ver também Jo 1:14, onde se lê sobre a encarnação de Deus, o que, de modo preliminar mas importante, possibilitou a presença de Deus conosco).

8.      Notemos o progresso nessa «habitação». A principio era algo mais oculto e menos poderoso, no deserto, no tabernáculo original, através da «shekinah». Então se manifestou quando da encarnação do Filho de Deus, o que trouxe esperança para todos os homens. Finalmente, será uma presença pessoal.

9.      Pode-se perceber que antigas promessas divinas serão cumpridas em tudo isso. (Ver Êx29:45; Lv 26:11 e Ez 27:27).

10. A promessa é feita aos mártires, com base na vitória ou derrota deles. Mas também se reveste de um aspecto universal, envolvendo a todos os remidos.

21:4  Ela enxugará de seus olhas toda lagrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.

O pano de fundo literário deste trecho é Is 25:8. Aos mártires fora prometido (ver Ap 7:17) que Deus enxugaria de seus olhos toda a lágrima. A terra não tem tristeza que os céus não possam curar. (Ver as promessas feitas aos mártires, em Ap 7:15-17, algumas das quais são agora distintamente cumpridas). O Cordeiro aguarda sua noiva, recebe sua Nova Jerusalém e começa tudo de novo. Nenhum mal terreno poderá apegar-se àqueles que agora estão glorificados e adornados nos lugares celestiais.

O fim do choro. O poeta Virgílio entrevia lágrimas nas coisas. As lágrimas acompanham todos os atos dos homens. As lágrimas afloram-nos aos olhos pelas tristezas, pelos ideais perdidos ou frustrados, pelos defeitos e pelas vitórias que não foram obtidas. As lágrimas descem como a chuva, não menos abundantemente que as chuvas do céu. As lágrimas falam das fraquezas humanas, do desespero, da perversidade e do abuso. «A última tristeza traspassadora já foi experimentada, a última lágrima já foi derramada, pois as lágrimas humanas caem sobre o coração de Deus e ali produzem a tristeza. Mas essa tristeza será transformada em uma serenidade que redundará em uma dádiva aos homens, não deixando lugar para lágrimas». (Hough, in loc.).

Os mártires estão afeitos às lágrimas; seus familiares conhecem a dor da tragédia, a amargura da perversidade humana, a qual mata por um ideal pervertido. Mas no estado eterno não poderá haver nada disso.

«...a morte já não existirá...» É-nos difícil aproximar da morte. Ficamos assustados ante a morte de algum amigo íntimo ou parente chegado. Nossa fé fraqueja na hora da perda, e perguntamos: «Se um homem morrer, viverá novamente?» Paulo respondeu a essa pergunta: «Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade... Tragada foi a morte pela vitória» (I Co 15:53-54). Nesta vida terrena, a morte põe ponto final a muitas histórias tristes. A morte abusa da fé e da esperança, e aparentemente é um fim para o amor. Mas o mérito humano aqui perdido tão-somente nos conduz a um mundo superior. Na grande cidade de Deus, não haverá mais cortejos fúnebres, nem viúva chorosa, nem criança atônita, a contemplar o rosto de sua mãe morta. Conta-se a história de um homem, mortalmente enfermo, que sabia que o fim estava próximo, e que então clamou: «Quero meu Pai celeste». Ele invocava a comunhão da era eterna, que ele podia ver mal a mal, a despeito do fato que a, dor lhe traspassava o corpo mortal. Paulo ensinou: «O último inimigo a ser destruído é a morte» (I Co15:26). O Apocalipse (em 20:14) promete o fim do princípio da morte.

«...não haverá mais luto...» Esse é o companheiro da morte, que se expressa por algum tempo, o espanto que se sente diante da morte, o desamparo que experimentamos na presença da mão temível da solene colhedeira. A palavra grega aqui usada é de sentido geral, que indica qualquer tristeza manifestada, mas, com frequência aponta para a lamentação pelos mortos.

«A tristeza não atinge aos mortos» (Oedipus Coloneus, 955).

Sófocles fez essa observação estando em conforto. Mas a lição bíblica é maior: «A tristeza não atinge os verdadeiramente vivos».

«Os mortos, sem lágrimas, se esquecem de suas dores». (Troades, 606).

Eurípedes consolava. Mas a lição bíblica é maior: «Os verdadeiramente. vivos, sem lágrimas, se esquecem de suas dores».

«...nem pranto...» Não haverá choro em altas vozes, por causa de tristeza ou dor. Trata-se de um vocábulo de profundo significado e paixão, de desespero, porquanto é o «clamor humano».

«...nem dor...» O corpo mortal, a condição mortal está sujeita a mil dores. Ninguém está isento disso. A tristeza e a dor nos atinge a todos, finalmente, embora alguns escapem por mais tempo que outros. Mas não somente a dor é inevitável, mas inevitável também é a vitória final e a própria eliminação de toda a dor da criação.

As almas dos homens «migram para o invisível e se põem a contemplar a Ele, sem jamais se cansarem, anelando por aquela beleza indizível e indescritível». (Plutarco, De Iside, 79).

«...porque as primeiras cousas passaram...» Em outras palavras, tudo quanto tem algo a ver com a vida anterior, a vida da terra antiga, as coisas enumeradas saturavam aquela vida, mas pereceram com a destruição do mundo antigo, e o novo mundo não poderá admitir tais coisas.

«Não haverá mais labor, nem tristeza, nem enfermidade, nem necessidade, nem ansiedade, nem noite, nem trevas, mas uma grande luz». (Enoque Eslavo 56:9).

«As promessas do A.T. se cumprem; Deus torna-se accessível, e os homens são consolados com consolo eterno». (Moffatt, in loc.).

Outras ideias sobre o quarto versículo:

1.      «Porque as primeiras coisas...são palavras que devem ser compreendidas em sentido enfático, como o primeiro homem (ver I Co 15:4)—o presente aeon. De acordo com a massa inteira das Santas Escrituras, o mundo está designado a ser uma sucessão de dois mundos». (Lange, in loc.).

2.      «O esplêndido cortejo de negativas surge como arautos de paz positiva da Nova Jerusalém; não haverá mar, nem lágrimas, nem morte, nem lamentação, nem pranto e nem dor; juntamente com as coisas anteriores, essas seis sombras desaparecerão da vida». (Carpenter, in loc.).

21:5  E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve; porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.

«...aquele que está assentado no trono...» Uma maneira indireta e bastante comum de referir-se a Deus, no Apocalipse. (Ver Ap 4:2,9,10; 5:1,7; 6:2; 19:4 e 20:11).

«...Eis que faço novas todas as cousas...» Essa é a nota principal do capítulo: todas as coisas novas. (Ver Ap 21:1 sobre os novos céus e a nova terra; ver Ap 21:2 sobre a «nova Jerusalém»). O quarto versículo mostra que as coisas «antigas» devem ceder lugar à «nova» ordem; onde tudo será novo.

«A era antiga de Satanás terá se acabado para sempre, juntamente com o próprio Satanás. A nova era de Deus terá sido, finalmente, estabelecida. Os pecadores terão sido devidamente castigados, tendo sido lançados no lago do fogo para sempre, ao mesmo tempo que os remidos haverão de desfrutar uma eternidade de bem-aventurança, na Nova Jerusalém, junto a Deus e ao Cordeiro. É estranho que Elias e Moisés, a mulher vestida do sol, os quatro seres viventes, os vinte e quatro anciãos e os exércitos celestiais (salvo um anjo-guia e doze guardas angelicais dos portões) não parecem participar das felicidades da nova era. Evidentemente seu papel está terminado, e nessas cenas finais do grande drama, todos foram esquecidos». (Rist, in loc.).

Assim também, na consumação da Divina Comédia, de Dante, há a eterna novidade da rosa de amor e fogo, a perfeição da florescência, a beleza que transcende ao poder da linguagem.

«...Escreve...» A ordem é de escrever, porque a revelação é importante. Seu sentido deve ser preservado e concretizado, porquanto devia ser distribuída entre as igrejas locais. João não recebeu nenhuma visão particular; não devia ser ocultada, e, sim revelada. Em apenas uma instância deste livro qualquer coisa dita é selada, em Ap 10:4. (Quanto à ordem de escrever, verAp 1:11,19; 2:1,8,13,18; 3:1,7,12,14; 10:13; 14:13 e 19:9).

«...estas palavras são fiéis e verdadeiras... » Também já vimos essa expressão. Ela é usada como solene afirmativa da verdade do que foi declarado; e, na maioria dos casos, ela importa em consolo. (Ver Ap 3:14 e 19:11). Em ambas essas referências, o próprio Jesus tem esse titulo. Supomos, pois, que essas são palavras apoiadas pela veracidade e fidelidade de sua própria pessoa. (Ver Ap 19:9 e 22:6 naquilo que essas palavras se aplicam às «declarações»). O autor sagrado, pois, autentica importantes declarações dessa maneira. É bem possível que as palavras ditas aqui, apesar de se aplicarem especificamente ao que acabara de ser dito, também visem autenticar o livro inteiro, já que agora João nos está dando as últimas cenas de sua visão. Certamente o trecho de Ap 22:6 tem essa função.

Outras ideias sobre o quinto versículo:

1.      «Essa é a primeira e única vez em que Deus se dirige ao vidente, ou, de fato (à parte de Ap 1:8), ao menos fala. O silêncio quase inquebrantável atribuído a Deus, no Apocalipse, corresponde à ideia egípcia da razão divina sem precisar de dizer palavras, mas a dirigir as coisas mortais para meio da retidão (ver Plutarco, de Iside, 75). Por isso é que a deidade era simbolizada pelo crocodilo, que se acreditava ser o único animal sem língua» (Moffatt, in loc.).

2.      «Esta mensagem não foi dirigida a João (ver Ap 7:14; 17:7; 21:6 e 22:6) mas ao mundo inteiro dos abençoados. (Ver Is 43:18 e ss. quanto às palavras: ‘Eis que faço novas todas as coisas’. A ideia dos novos céus e da nova terra figuram em Is 65:18; 66:22 e Sl 102:25 e ss.» (Robertson, in loc.).

3.      «A verdade diz respeito à promessa dessas modificações; fidelidade ao cumprimento dessas promessas» (Adam Clarke, in loc.).

Variante Textual. As palavras «me diz» figuram nos mss Aleph, P, 051, na maioria dos manuscritos minúsculos, no Si(pn), no Cop(sa,bo), no Ara e no Eti. Mas a forma mais simples,«...disse...», é a forma que aparece em A, 046 e em cerca de oitenta manuscritos minúsculos, como também no It(gig), na Vg, no Si(h) e nos escritos latinos de Irineu. Esta última forma é preferível, por ser a forma mais breve, não havendo razão por que o objeto indireto viesse a ser omitido, se fosse o original.

21:6  Disse-me ainda: Está cumprido: Eu sou o Alfa e o Ômega, o principio e o fim. A quem tiver sede, de graça lhe darei a beber da fonte da água da vida.

Comparar com a expressão de Ap 16:17 quanto à expressão «Feito está!» embora esteja em foco uma questão muito diferente. Contudo, é uma das obras de Deus, levada a bom termo, que está em foco aqui. Deus tanto termina como aprova a sua obra, declarando: «Sucedeu!» Provavelmente o significado é «palavras tanto fiéis quanto verazes», as quais declaram que tudo será feito «novo» e agora se cumpre. Por conseguinte, tanto as obras como as palavras estão em foco. A declaração de Deus vale tanto como algo já feito, assegura-nos o profeta. Não podemos deixar de pensar em duas outras instâncias bíblicas acerca disso. A criação original foi terminada e aprovada. Deus disse: «Tudo é muito bom». A obra de redenção sobre a cruz também foi assinalada pelas palavras: «Está consumado». Tudo isso serve de prova de como Deus faz intervenção na história humana, visando seu aprimoramento, um fato do qual dependem nossa própria existência e nosso bem-estar. A «certeza» de que assim é e sempre será,nos é transmitida nas palavras seguintes: «Deus é o Alfa e o Ômega da criação, o iniciador e o consumador, o controlador, sustentador e guia de tudo. Nele tudo vive, se movimenta e tem seu ser». (Ver At 17:28).

«...o Alfa e o Ômega...» Em Ap 1:8 esse título é dado a Deus. Em Ap 22:13 é aplicado a Cristo. Sua «interpretação», isto é, «o primeiro e o último», é usado como título de Cristo em Ap 1:17 e 2:8. Deus, por meio de Cristo é a «causa primária» de tudo, mas também é a «causa final». Nele tudo tem origem, material e espiritual, e nele tudo encontra realização e propósito, destino e cumprimento. (Ver Cl 1:16 acerca da criação como algo feito «em Cristo», «por Cristo» e «para Cristo», no tocante a notas expositivas completas. Nas páginas do N.T., a vida eterna nunca consiste de mera sobrevivência da alma ante a morte biológica. Trata-se de uma «modalidade de vida», da participação na vida divina, segundo se vê em João 5:25,26 e 6:57. (Ver também II Pe 1:4, que fala da participação na divindade, e II Co 3:18, que fala sobre a transformação segundo a imagem de Cristo). Todas essas passagens bíblicas nos ensinam como Deus é o «Ômega» para nós. Nele existe a potencialidade de toda a vida e bem-estar. Nele também se acha o cumprimento desses objetivos. É claro, pois, que a nova criação é possível, porque as palavras que a predizem são «fiéis e verdadeiras».

«...fonte da água da vida...» (Comparar com Ap 7:17). Os mártires e fiéis recebem a promessa do direito de participarem do «manancial da água viva». Naturalmente, esse é um ensinamento joanino, que ilustra a ligação entre o Apocalipse e o evangelho de João, se não mesmo uma só autoria. Ap 22:17 é trecho que repete esse simbolismo. (Comparar com João 4:10,11,13; 14 e 7:38, onde Jesus—e o Espírito Santo—aparecem como a «água viva»), A água mata a sede física, sendo algo absolutamente necessário para a vida. Assim também há uma água espiritual absolutamente necessária para a vida espiritual, e essa é mediada por meio de Cristo, em seu Santo Espírito. Este versículo, é óbvio, faz o Pai aparecer como o manancial primário da vida e da satisfação espirituais.

Os apetites. Esses representam uma escala ascendente quanto ao valor e à necessidade. O homem pode viver sem satisfazer muitos de seus apetites. Mas alguns deles estão absolutamente vinculados ao sustento da própria vida, como é o caso da água e do alimento. Um homem pode viver sem alimentos durante quarenta dias, mas é impossível que ele resista sem água pelo mesmo tempo. Um homem pode tentar viver sem a realização espiritual de seu próprio ser em Deus, mas isso é impossível. A alma que não estiver centralizada em Deus terá de perecer, ainda que conserve, por algum tempo, uma semelhança de vida. Há uma sede pela eternidade e pelo Deus eterno. Deus é a vida, a beleza, a justiça e a bondade finais. A alma é atraída por essas qualidades e, finalmente, deverá repousar nelas, ou jamais terá descanso.

Outras ideias sobre o sexto versículo:

1.      Quanto à «água da vida», ver Ap 7:17 e 22:1,17, passagens baseadas em Is 55:1. Deus dá «livremente» (ver Mt 10:8; Jo 4:10; Rm 3:24; At 8:20 e Ap 22:17).

2.      Deus dá livremente. Essa é a lição moral a ser seguida: «...de graça recebestes, de graça dai» (Mt 10:8). A generosidade é uma qualidade divina, bem como uma obra do Espírito na vida da pessoa. A maioria esmagadora dos homens se mostra por demais egoísta e egocêntrica para dar livre e voluntariamente, quando dão e se dão.

3.      Essa é uma «liberal promessa de santificação de todos os desejos espirituais, e as três ideias de consolo, refrigério eterno e comunhão divina são assim vinculadas, tal como em Ap7:14-17. Com isso se pode comparar uma passagem em Filo, de migrat. Abr. 6. Essa promessa subentende o trecho de Is 44:3 e não Is 55:1, onde se lê que a sede é acompanhada pela prontidão e pela ansiedade de aceitar a bênção, que é gratuita (ver o sexto versículo.), plena efilial (ver o sétimo versículo). A sede de Deus se opõe à incredulidade e ao vicio, que a abafam, da mesma forma que a vida vitoriosa é contrastada com o espirito mesquinho, que procura evitar as dificuldades e exigências da fé. Mediante um toque raro (desde Ap 3:22) no Apocalipse, o crente individual é destacado. Usualmente o escritor se interessava pelo grupo em geral dos cristãos, mas aqui, tal como nos capítulos segundo e terceiro, o individualismo religioso segue devidamente à ideia da promessa pessoal e ao encorajamento individual (comparar com Ap22:17) como algo que virá depois do juízo (ver Ap 22:11,12)» (Moffatt, in loc.).

4.      Os rabinos concebiam a fonte da vida como algo que pertencia especificamente ao outro mundo. «Ele lhes mostrará a excelência da fonte do mundo futuro...» (Sanh. Aboth R. Nathan,cap. 31).

21:7  Aquele que vencer herdará estas coisas; e eu serei seu Deus, e ele será o meu filho.

«...O vencedor...» Já vimos esse termo por várias vezes. (Ver Ap 2:7,11,17:26; 3:5,12,21). Em cada caso é prometida alguma bênção celeste ao perseverante, que obtém a vitória neste presente mundo mal. As promessas, como é claro, se dirigem especificamente aos «mártires», pois o Apocalipse foi escrito como «manual dos mártires», e do começo ao fim procura consolá-los e fortalecê-los.

«...herdará...» Por ser um dos «filhos» de Deus, conforme o versículo passa a dizer-nos. Ele receberá todas essas «coisas novas», todas as imensas bênçãos e as vantagens eternas prometidas no contexto. É claro que sua grande vitória e empreendimento terão lugar em seu próprio ser, na riqueza espiritual da sua transformação segundo a imagem e a natureza do próprio Cristo (ver II Co 3:18), na participação na «plenitude de Deus» (ver Ef 3:18 e Cl 2:10), e na própria natureza divina (ver II Pe 1:4). A consulta a essas referências e às respectivas notas expositivas darão ao leitor melhor compreensão sobre a imensidade de nossa salvação, o que transcende em muito às «coisas» que possamos vir a herdar.

«...eu lhe serei Deus e ele me será filho...» Todas as bênçãos da salvação estão contidas na filiação.Já tivemos ocasião de frisar isso por repetidas vezes, neste comentário. Há uma comunidade da natureza divina (ver Hb 2:10 e ss.), de tal modo que um crente virá a participar da natureza e dos atributos de Deus, ainda que de maneira secundária ou finita, pois Deus é infinito. Contudo, o propósito é eterno e nunca poderá ser relaxado, pelo que haverá um enchimento eterno e infinito, por parte do infinito. (Ver Hb 2:3 quanto à «salvação»; e também Hb 8:29). Nossa predestinação tem por intuito levar-nos à participação na natureza e imagem do Filho. Somos Cristo em formação, pois Cristo está sendo duplicado em nós.

A sede de Deus, pelo que é eterno, e que nos satisfará tão gratuitamente, será realizada quando da plena «filiação», conforme este versículo nos informa.

Outras ideias sobre o sétimo versículo:

1.      Comparar este versículo com João 1:12, acerca da promessa de plena «filiação».

2.      No Apocalipse, essa é a única instância em que a bem-aventurança eterna é expressa em termos de «filiação»; mas em outros trechos do N.T., sobretudo nos escritos de Paulo, essa e a ideia comum, sendo o conceito realmente dominante de toda a salvação. A salvação é definida naquilo que significa ser um filho, um filho de Deus «conduzido à glória» (ver Hb 2:10).

3.      «Filho de Deus» era um título assumido pelos imperadores romanos que requeriam adoração à sua pessoa. Era um título blasfemo e vão. Mas há uma promessa válida de que os homens tornar-se-ão autênticos filhos de Deus, uma bênção incomensurável. Os mártires fiéis recebem essa promessa, mas isso envolve todos os crentes de todas as eras. Não há como sobrestimar a grandeza dessa promessa. Esse é o alvo todo-consumidor da vida.

4.      Quanto à promessa de filiação especial neste versículo, comparar com II Sm 7:14 (feita a Salomão) mais tarde e aplicada a Davi (ver Sl 89:26 e ss).

5.      Guerra e conquista são ideias inerentes a este versículo. A vida é séria e deve ser vista como um campo de batalha, onde nos é exigido que sejamos soldados aptos bastante para «vencer». Há um conflito espiritual. E somente os espiritualmente fortes vencerão. Conquistamos pela fé em Cristo, em seu sangue, pela palavra de nosso testemunho (ver Ap 12:11 e I Jo 5:4). Há muitos inimigos espirituais.

21:8  Mas, quanto aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos adúlteros, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte.

O vidente João agora faz contraste entre os bem-aventurados, que herdarão a todas as coisas novas, e que «vencerão», com o resto da humanidade, que é permanentemente arrastada pela iniquidade, vivendo no vício e merecendo a eterna punição. Esses são seguidores de Satanás, e com justiça merecem sua sorte. Todos os vícios desta lista de algum modo estão relacionados ao «culto ao imperador», conforme se verá na exposição; mas, naturalmente, fornecem-nos uma excelente descrição sobre os viciados de todos os séculos. Era comum, nas escolas filosóficas de moral, entre os gregos, usar «listas de vícios» como meios de instrução, algo parecido ao uso dos dez mandamentos da cultura hebraica.

«...covardes...» Sem dúvida é uma alusão aos «crentes acovardados», os quais, em tempo de tribulação, abandonam à fé e a Cristo, a fim de salvarem a pele. Nos dias de João, esses, subsequentemente, davam lealdade ao «culto ao imperador». A inclusão desse vocábulo nesta lista de vícios é cortante e solene. Faz-nos lembrar de como os homens falham, mesmo quando têm as melhores intenções. Faz-nos lembrar da grande agonia da perseguição pela qual passou a igreja, e prevê como os homens reagirão quando o anticristo começar sua maior de todas as perseguições religiosas. Nós, e especialmente nossos filhos, teremos de ser muito corajosos; de outra maneira, nós e eles nos tornaremos covardes. Haveremos de abjurar de Cristo, sob a perseguição?

«...incrédulos...» Aqueles que se recusavam a crer na missão de Cristo e aceitá-la, preferindo elevar um mero homem ,à posição de divindade, adorando-o, tal como se dava no «culto ao imperador». Cristo é o fiel. (Ver Ap 1:5. Ver também Ap 2:10,13; 3:14; 17:14). Os verdadeiramente «fiéis» participarão de algo da natureza e dos atributos de Cristo; os demais serão os comprovadamente infiéis.

«...abomináveis...» Aqueles que praticavam a idolatria e seus vícios acompanhantes. Todos aqueles eram maculados e contaminados pelas práticas do culto pagão.

«...assassinos...» Aqueles que matavam aos cristãos, por ordem e em cooperação com as autoridades civis; aqueles que faziam mártires entre os cristãos. Este livro foi escrito para fortalecer e consolar. Jesus mostrou-nos que alguém pode tornar-se homicida, até mesmo sem matar a outrem (ver Mt 5:21,22).

«...impuros...» Essa palavra alude a qualquer impureza sexual. Os cultos pagãos faziam da prostituição um meio de financiar aos templos e seus sacerdotes. Na época de Paulo, Corinto contava pelo menos com mil prostitutas religiosas profissionais. A cultura pagã estava permeada de vícios sexuais de toda a espécie, e as sociedades modernas não têm melhorado quanto a isso, exceto que poucas religiões a tornam oficial como parte de seu culto. «Pois esta é a vontade de Deus, a vossa santificação...» (I Ts 4:3). Essas palavras foram escritas dentro do conceito dos vícios sexuais. Nas listas de vícios que indicam distorções sexuais, estas são numerosas e predominantes. (Ver, por exemplo, Ap 3:5). Entre as «obras da carne», vários vícios sexuais aparecem em Gl 5:19, os quais encabeçam a lista. O vocábulo que figura neste texto aparece em primeiro lugar naquela lista. (Ver também Ap 22:15).

«...feiticeiros...» Isso vem de um termo grego que significa «droga», porque as drogas desempenhavam papel importante na feitiçaria. (Ver Ap 9:21 e 18:23). O «culto ao imperador» era promovido pelas artes da magia negra.

«...idólatras...» O culto ao imperador era a forma mais vil de idolatria, já que elevava um homem à posição de divindade, adorando-o como tal. Nos últimos dias, o anticristo será assim adorado. (Ver Ap 13:4). (Ver a «idolatria» na lista de vícios em Gl 5:20, e em Cl 3:5. Comparar também com At 17:16 e I Co 10:14).

«...mentirosos...» (Contra a «mentira» e a «desonestidade», ver Cl 3:9). O «culto ao imperador» era uma mentira satânica, e a futura adoração ao anticristo será forte ilusão e grande mentira (ver II Ts 2:9-11). Crê-se em uma «mentira» quando se repele a «verdade» que há em Cristo, conforme aquela passagem nos informa, «...os mentirosos são aqueles que negam a Cristo. Mediante sua conduta, tornam-se completamente diferentes dos mártires, e merecem a sorte que os atingiu». (Rist, in loc.).

«...lago... fogo...» Quanto ao «lago do fogo», antes descrito como o destino dos ímpios, ver em Ap 19:20. Essa será a herança dos iníquos, ao invés dos novos e benditos céus, o lar dos justos.

«...a segunda morte...» Aqui, tal como em Ap 20:15, o lago do fogo é definido como a «segunda morte». (Ver também Ap 2:11 quanto a essa expressão).

Outras ideias sobre o oitavo versículo:

1.      Este versículo apresenta o lado reverso do quadro. O autor sagrado vinha se concentrando em apresentar a bem-aventurança da eternidade. Mas agora ele faz uma digressão a fim de mostrar que nem todos participam disso. Alguns estão perdidos, e terrível é o seu estado. (VerAp 14:11 sobre o «julgamento divino»), Isso importa em uma perda infinita, sem importar o que pensemos que Deus fará, em favor dos perdidos, a fim de conferir-lhes algum propósito em Cristo, em sua existência.

2.      Este versículo tem como sua função mais importante o propósito de mostrar que os perdidos merecem sua sorte, pois consideremos o tipo de pessoas que elas são.

3.      Não há qualquer referência aos «pecados de omissão», à falta de justiça, gentileza, benevolência, misericórdia e amor, por causa dos quais pecados os homens também serão condenados com justiça. O autor sagrado contenta-se em descrever os atos mais desabridos dos pecadores, suficientes para condená-los.

4.      «Esses se desvencilharam do reino de Deus» (Charles, in loc.).

5.      Notemos a forte ênfase, dada no Apocalipse, ao pecado da mentira, embora isso sempre esteja tão em voga na sociedade. (Ver também Ap 2:2; 3:9; 14:5; 21:8,27 e 22:15). A mentira nunca é «pequena» ou leve, pelo menos biblicamente falando, sem importar o que os homens pensem.

Bibliografia R. N. Champlin,comentario do novo testamento,2010



    A Jerusalém Celestia1 (Ap 21.9-22.5)

Para razões que sugerem que esta seção se refere à cidade de Deus na era milenária, em vez do estado eterno, ver os capítulos 20-22. A revelação da noiva tem sido antecipada em Ap 19.7-9, onde se diz que ela se tem preparado para o seu marido. Aqui se cumpre a promessa, não, contudo, em termos de uma metáfora nupcial, mas sob a figura de uma cidade. (Para um paralelo estranhamente próximo a este procedimento, cfr. 2 Esdras 10.25-27). O vers. 10 é tão semelhante a Ez 40.2, que devemos supor que João o tinha em mente. Pareceria, por conseguinte, que o profeta viu a cidade descer do céu sobre o monte onde ele estava. O céu vem à terra no reino de Deus. A luz da cidade compara-se a de uma pedra de jaspe, como o cristal resplandecente (11); isto é, tem uma glória como a do Criador, cuja aparência se diz ser como a de pedra de jaspe (Ap 4.3).

O grande e alto muro (12) serve o duplo propósito de guardar fora os que não têm parte nas bênçãos da cidade (Ap 21.27; Ap 22.14-15) e de garantir a segurança eterna dos seus habitantes. As doze portas são inscritas com os nomes das doze tribos dos filhos de Israel (12), isto é, o "Israel de Deus", a Igreja; ver notas sobre Ap 7.1-8, 11.1-2. Por esta característica João alega que "através das igrejas, em toda a parte do mundo (aqui doze, porém, uma só, como nos cap. 1-3 elas eram sete, porém, uma só), jaz a entrada à cidade de Deus" (Kiddle).

Os doze fundamentos (14) parecem não estar sobrepostos um no outro, mas formar uma cadeia contínua de várias espécies de pedra em torno do muro da cidade, dividida por suas doze portas. Os doze apóstolos correspondem às doze tribos do vers. 12 e, como estes, denotam o corpo na sua coletividade em vez dos membros individuais; não há, portanto, nenhuma necessidade para especular sobre se o nome de Paulo está incluído, ou não, nos "doze", e, se assim for, o nome de quem foi omitido; não se ergue a questão.

A cidade estava situada, em quadrado (16); mal se torna necessário citar que os gregos consideravam o quadrado como símbolo de perfeição; é mais provável que se menciona este formato para recordar o santo dos santos no antigo templo, que também era um cubo (1Rs 6.20); a cidade toda é um santuário para Deus e participa da santidade do antigo sacrário interior. Doze mil estádios (16) (gr.stadioi) representam 2.500 km, se bem que, para traduzi-lo em termos modernos, é roubar à medida o seu óbvio simbolismo-um múltiplo infinito de doze (note-se a proeminência do número doze nesta visão da glória da Igreja). O sentido deste grande algarismo ilumina-se pelo dito rabínico que Jerusalém seria aumentada até alcançar as portas de Damasco e exaltada "até alcançar o trono de Deus". A Nova Jerusalém se estende da terra ao céu e os une em um só. Cento e quarenta e quatro côvados (17) (cerca de setenta metros-72 jardas) novamente deriva a sua significação de ser o múltiplo perfeito de doze. Se foi aceitável a explanação anterior da grande altura da cidade, não há necessidade para realçar a disparidade evidentemente absurda entre a altura da cidade e a do muro; o muro é forte bastante para servir ao seu propósito, mas a cidade tem a função extraordinária de unir a terra e o céu. Há pouca dúvida de que, como no caso de suas dimensões, assim com a enumeração dos materiais da cidade, João usa, propositadamente a linguagem de símbolo; ele não está simplesmente descrevendo riqueza fantástica. Ele já disse que o lustre da cidade é como jaspe, a aparência de Deus (ver o vers. 11); ele agora declara que todo o muro é feito dele. O ouro puro pode aludir a tal pensamento como em Ap 3.18. As doze pedras de fundamento do muro, a despeito de certas dessemelhanças em nossas traduções, parecem ser idênticas com as do peitoral do Sumo Sacerdote (Êx 28.17-20). Com respeito a estas, tem sido estabelecido através de evidência tirada de Filo, Josefo, e monumentos egípcios e árabes, que cada uma destas joias representa um dos doze sinais do Zodíaco. Um exame da ordem das pedras preciosas do nosso texto dá o resultado assombroso que elas retratam o progresso do sol através dos doze sinais, mas em ordem contrária. Tal fenômeno não podia ser acidental. Dele Charles deduz que João aqui mostra que a cidade santa de suas visões não tem nada que ver com as correntes especulações pagãs acerca da cidade dos deuses. Esse pensamento acentua-se pela inscrição dos nomes das doze tribos nas portas da cidade e os dos apóstolos nos fundamentos da cidade. Numa cidade modelada no santíssimo lugar, não há necessidade de um templo (22); tudo é santo e Deus em toda a parte se adora. Cfr. Jo 4.21. Com o vers. 23, cfr. o vers. 11; ver também Is 60.19-20. Como nesta última passagem, condições terrestres estão claramente em vista. Enriquece-se o pensamento quando se recorda que os leitores originais conheceriam o conceito pagão de que são deuses o próprio sol e a lua; longe de serem deuses, desvanece a sua glória nativa ante o resplendor do Senhor Deus e do Cordeiro.

Vers. 24-26 reproduzem a substância de Is 60.3-11. Eles descrevem a relação entre a cidade de Deus e as nações da terra durante o milênio. Para todos que a desejarem, a comunhão entre o céu e a terra será ininterrupta nessa era.

Ainda existe na terra, mesmo quando Satanás não mais exerce a sua influência, a "contaminada" e "o que pratica abominação e mentira" (27). Para os tais há, como se fosse, "uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida" (Gn 3.24). Com isto e os versos que se seguem cfr. Ap 22.14-15.

O rio puro da água da vida (22.1), em vista de Ap 7.17; Ap 21.6; Ap 22.17, denota um conceito puramente espiritual, "as fontes das águas da vida" vendo-se talvez, por assim dizer, como a origem deste puro rio. Nós nos lembramos que o Jardim do Éden tinha um rio (Gn 2.10), e na visão de Ezequiel corria um rio do templo, possuindo propriedades naturais de cura (Ez 47.8-11). A árvore da vida (2), dessemelhante em Gn 2.9; Gn 3.22, aqui, trata-se coletivamente; há árvores em cada lado do rio, dando uma fruta diferente para cada mês do ano e folhas com propriedades de cura. O quadro se tira de Ez 47.7,12, no entanto, como no caso da água da vida, os poderes de cura das folhas tomam-se em sentido puramente espiritual. Através da Igreja, os homens dessedentarão a sua sede espiritual no reino de Deus e receberão sustento espiritual, adquirindo cura deste modo para as feridas do pecado. Isto supre uma parte pictorialcorrespondente ao cântico profético de Ap 15.4.

Ali nunca mais haverá maldição (3) pode simplesmente significar que coisa alguma impura ou abominável encontrará entrada na cidade santa (Ap 21.27). No entanto, é mais provável que temos aqui um contraste propositado à maldição pronunciada no paraíso original, que trouxe calamidade para toda a criação (Gn 3.14-19). Os efeitos dessa maldição têm sido completamente superados na Nova Jerusalém. O alvo da humanidade redimida é que verão o seu rosto (4). Tal visão acarretará a transformação dos que o veem na mesma imagem (1Jo 3.2). Para os nomes das suas testas, ver notas sobre Ap 3.12; Ap 19.12. No vers. 5 a afirmação absoluta é a melhor tradução, "Então já não haverá noite"; no entanto, é essencialmente correto: E ali não haverá mais noite, pois, como em Ap 21.23, a cidade de Deus está em mente (ver nota sobre Ap 21.23). Sente-se às vezes que a afirmação e reinarão para todo o sempre se contrapõe a "e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos" (Ap 20.4), esta sendo temporal, aquela eterna. Isto pode ser correto, porém certamente não no sentido que a referência maior exclui a menor, como se o milênio tivesse terminado este tempo; cfr. a afirmação paralela com respeito ao governo de Deus em Ap 11.15, onde "ele reinará para todo o sempre" inclui o reino milenário.



                      EPÍLOGO Ap 22.6-21

Nesta conclusão, três temas encontram expressão proeminente: a autenticidade das visões narradas (vers. 6-7,16,18-19), a iminência da vinda de Cristo (vers. 6-7,10-12,20), e a necessidade de santidade em vista da consumação impendente (vers. 10-15). É impossível ter certeza, quanto à identificação dos que falam nos vários parágrafos. Vers. 6-7,16, parecem como palavras de Cristo, vers. 10-15, palavras do anjo, vers. 8-9,17-19,20b-21, acréscimos de João. Mas é possível uma grande quantidade de variação, especialmente se, como, pensam alguns, tem havido deslocações no texto subsequente à sua publicação, Em última análise, pouco importa; o que fala é finalmente Cristo, cujo mensageiro é o anjo (9), e cujas palavras João registra como profeta (10).

O que fala (6-7) parece ser o nosso Senhor. Suas palavras, como o seu caráter, são fiéis e verdadeiras (Ap 3.14; Ap 19.11). Ele presto vem: (7). Não há justificativa para traduzir o gr. tachy como "de repente"; tal interpretação faria sentido estranho ao vers. 6, "coisas que "de repente" (en tachei) hão de acontecer", uma impossível tradução em vista do ensino do livro. Ver mais sobre Ap 1.1. A inclusão dos vers. 8-9 por João não significa necessariamente que alguns dos seus leitores mais antigos praticavam o culto aos anjos, se bem que é verdade que a prática tinha um lugar entre os judeus (por ex. Test. Dn 6.2; Test. Levi 5.5) e até entre cristãos (Cl 2.18). A experiência de João é bastante natural e a sua narração aqui não precisa de outra explanação do que a sua real ocorrência e interesse intrínseco. Não é tanto uma polêmica contra o culto aos anjos como uma correção da sobreexaltação de todos os instrumentos de revelação; anjos e profetas e cristãos comuns todos se nivelam perante Deus.

A injunção no vers. 10 é o reverso de Dn 8.26; Dn 12.4,9, e do que nós vemos em apocalipses judaicos de modo geral. Enquanto estes profetizavam de tempos (ostensivamente) remotos, a mensagem era de importância imediata (o tempo está próximo) e foi entregue em seu próprio nome. Há ironia nas palavras do vers. 11 no que se prende aos maus. Daniel dissera (Dn 12.10) que nos últimos dias muitos seriam purificados pela experiência da tribulação, porém os ímpios procederiam impiamente; isto é, na última crise, os homens revelarão o seu verdadeiro caráter e se aliarão, ou ao lado de Deus, ou ao lado do diabo. Esse ensino acentua-se continuamente neste livro (Ap 7.1-8; Ap 11.1-2; Ap 12.6; Ap 13.1-14.5, etc.). Aqui recebe a sua final exposição. Desde que o tempo está próximo, o homem que insiste em se apegar ao mal nele continue; ele cedo enfrentará o seu juízo. Quanto aos justos e santos, que se guardem, para que não caiam com o erro dos maus; o seu Senhor cedo virá para a sua redenção e recompensa, Fazer desta afirmação uma doutrina da fixidez irremediável do homem nos últimos tempos, que, para João, estavam próximos, é insustentável, tanto do contexto como do ensino geral do livro (ver Ap 22.17; Ap 14.6-7; Ap 15.4; Ap 21.6-8). Cfr. vers. 12 e Ap 11.18, Is 40.10; Rm 2.6. Também para o vers. 13, ver nota sobre Ap 1.8.

No vers. 14, nós temos a última bem-aventurança desta espécie no livro: "os que lavam as suas vestiduras" ou que guardam os seus mandamentos significa virtualmente "os que vencem"; ver Ap 6.11.

A conjunção do vers. 15 com este verso parece indicar que o direito (a vir) à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas refere-se aos privilégios do reino do milênio; cfr. Ap 21.24 e Ap 22.2.

O vers. 15 quase repete Ap 21.8. Ver nota, sobre Ap 21.27. Alhures nas escrituras, cães denotam aderentes ao culto pagão; cfr. Dt 23.18 (onde "cão" significa sodomita), Mt 15.26; Fp 3.2 (onde "cães" significa os judaizantes turbulentos). Swete, por conseguinte, tende a identificá-los aqui com os abomináveis de Ap 21.8 (ver nota), Vers. 16 é uma outra atestação pelo Senhor da autenticidade da profecia; cfr. Ap 1.1; Ap 22.6. Cristo como raiz e geração de Davi cumpre Is 11.1. Como a resplandecente estrela da manhã, Ele mesmo é o cumprimenta da sua promessa ao vencedor em Ap 2.28.

Lido, naturalmente, o vers. 17, parece ensinar que o Espírito Santo, especialmente como o ativo nos profetas (Ap 19.10), se une à, Igreja em clamar a Cristo para vir à, terra, segundo a sua promessa (7,12). O ouvinte da profecia deste livro, à proporção que se lê nas Igrejas, solicita-se a fazer outro tanto. O pecador penitente convida-se a participar com os santos do dom da vida eterna em Cristo. Alguns, contudo, interpretam todos os apelos para "vir" como dirigidos ao pecador.

João tem sido criticado acerbamente por muitos pelo fato de concluir a sua profecia como a declaração contida nos vers. 18-19, que quase equivale a uma maldição. Certamente era uma precaução costumeira para os escritores antigos proteger as suas obras contra mutilação e interpolação, acrescentando tal anátema (Cfr. 1 Enoque 104.10-11, 2 Enoque 48.7-8, Carta de Aristeas 210-211). Swete, contudo, objeta a tal interpretação do sentido de João: "Se a advertência solene do presente versículo tivesse esta intenção, tem falhado redondamente; pois em nenhum outro livro do Novo Testamento é o texto tão incerto como no Apocalipse. Porém, como o seu arquétipo em Deuteronômio (Dt 4.2, 12.32), tem uma referência mais profunda; não é um mero lapsus calami, nenhum erro de juízo ou meramente falta intelectual que se condena, mas a premeditada falsificação ou má interpretação da mensagem divina. Não é a letra do Apocalipse, mas o seu espírito que se guarda tão zelosamente". Podemos assim, não inadequadamente, comparar a conclusão de Paulo em 1Co 16.22.

A resposta de João à promessa de Cristo (20) corresponde à senha aramaica a que já se fez referência em 1Co 16.22, "Maranata", "O nosso Senhor vem". A bem-aventurança (21) lembra-nos que a profecia é, na realidade, uma carta, cujas lições devem ser pessoalmente apropriadas. Somente pela graça do Senhor Jesus Cristo pode essa vitória ser ganha, a qual terá a recompensa revelada neste livro. Não a recebamos em vão.

Bibliografia G. R. Beasley-Murray



                  O Novo Paraíso (22:1-5)

Devemos ter em mente várias feições importantes no estudo deste capítulo como um todo.

1. Um livro só tem valor na proporção da verdade que revela. “Estas palavras são fiéis e verdadeiras” (22:6). Temos aqui uma solene afirmação quanto à veracidade das Escrituras. Um anjo do céu autentica as profecias do Apocalipse. Todos os profetas de antigamente estavam sob o controle do Espírito da verdade.

2. O livro está intimamente associado com seu autor. Cinco vezes o nome de João aparece como escritor do Apocalipse: “O que vês, escreve-o” (1:11), e todo este livro dramático foi escrito por João, que tinha experiência em escrever (2 Jo 12; 3 Jo 13). A alta crítica pode rejeitar João como escritor do Apocalipse e atribuí-lo a outro João que não o apóstolo, mas, como afirma Hilgenfield com propriedade: “Um João desconhecido cujo nome desapareceu da história, deixando quase nenhum traço atrás de si, dificilmente poderia ter dado mandamentos em nome de Cristo e do Espírito às sete igrejas.” O nome de João, usado cinco vezes, demonstra que João, autor do quarto evangelho e das três epístolas que levam o seu nome também escreveu o Apocalip­se, como foi divinamente instruído a fazer (1:1, 4, 9; 21:2; 22:8).

3. Um livro que não é selado está aberto ao exame e benefício de todos. O que foi selado nos dias de Daniel (Dn 12:4) agora é exposto. Não nos esqueçamos de que Apocalipse significa revelação, e é justamente isto que o livro apresenta. Quanto mais perto nos achegamos dos acontecimentos registrados nele, tanto mais claras as profe­cias se tornam (22:10).

O clímax da redenção, a que agora chegamos, é a maravilha de um jardim do qual a serpente e o pecado são para sempre excluídos. Notemos, brevemente, uma ou duas feições do futuro glorioso do povo de Deus. Na antiga criação todos os rios corriam para o mar, mas aqui temos um rio sem mar—um rio responsável pela fertilização e vegetação da nova criação. Os rios abrem a Bíblia (Gn 2:10) e a fecham (Ap 22:1). Este rio corre do trono, que é sua nascente e fonte. A água deste rio divino é clara como cristal—isto é, totalmente pura, não necessitando de tratamento algum a fim de purificá-la. Todos os tronos dão lugar ao trono de Deus e do Cordeiro (1 Co 15:24- 28).

A Bíblia também se abre com a árvore da vida e termina com outra árvore no meio de uma rua, significando não haver isolamento ou exclusão. Todos devem ter acesso à árvore da vida. As folhas dela são para a cura. O fruto é para os santos e as folhas para as nações (Ez 47:12). E porque toda doença e morte já passaram (21:4), a cura provida pela árvore não é associada com o corpo. E porque cura implica doença—“Para a saúde das nações” seria melhor tradução.

Em Gênesis 2:8-15 Deus criou um lar material para o homem num jardim. Mas esse jardim original testemunhou a rebelião de Satanás e a transgressão do homem (Gn 3:1-7). Agora temos o jardim que ultrapassa o primeiro em tudo. Nada jamais secará nem morrerá nele. A maldição pronunciada por Deus no primeiro jardim da terra foi removida para sempre. A calamidade do Éden jamais acontecerá novamente. Com o pecado banido para sempre, não mais haverá maldição. A última palavra do Antigo Testamento é maldição: “E ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos aos seus pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição” (Ml 4:6). Mas o Novo Testamento abre-se com Jesus Cristo, aquele que veio a fim de levar sobre si a maldição (Gl 3:13). No grande final da Bíblia temos uma bênção em lugar de maldição (Ap 22:3, 21).

O triunfo último de Cristo pode ser apresentado deste modo:

No Gênesis:          “No princípio criou Deus os céus e a terra.”
No Apocalipse:     “E vi um novo céu e uma nova terra.”
No Gênesis:          “E Deus chamou. . . às trevas noite.”
No Apocalipse:     “E noite ali não haverá.”
No Gênesis:          “Certamente morrerás.”
No Apocalipse:     “Não haverá mais morte.”
No Gênesis:          “Multiplicarei grandemente a dor da tua conceição.”
No Apocalipse:     “Não haverá. . . dor.”
No Gênesis:          “Maldita é a terra por tua causa.”
No Apocalipse:     “Ali não haverá jamais maldição.”
No Gênesis:          “Afastado da árvore da vida.”
No Apocalipse:     Aparece a árvore da vida.
No Gênesis:          Aparece Satanás.
No Apocalipse:     Satanás desaparece.
No Gênesis:          Abraão procurou fundar uma cidade.
No Apocalipse:     A cidade é levada à perfeição e glória finais.

João prossegue declarando que na nova criação os servos de Deus devem estar incessantemente em atividades. Devemos reinar pelos séculos dos séculos. “E reinarão pelos séculos dos séculos” (22:5). Isto significa que os santos não hão de ficar sentados tocando harpaso tempo todo. Com mentes e corpos perfeitos e glorificados, será nossa alegria servir ao Senhor como agora não o podemos fazer por causa da influência do pecado que nos impede. Privilégios não sonhados hão de ser nossos na terra que é mais linda do que o dia: veremos a sua face. Face de quem? A face do Cordeiro (22:3, 4)! Vivemos na antecipação da emoção quando, pela primeira vez, nossos olhos contemplarem o rei em toda a sua beleza?

Ficaremos maravilhados e sem palavras ao olhar para o rosto de cuja presença fugiram o céu e a terra. A maior das maravilhas será nossa transformação à semelhança dele. “Nas suas frontes”, diz João, “estará o seu nome” (22:4). Por nome devemos compreender o caráter ou natureza de Deus. O selo, é claro, é o sinal de propriedade e segurança. Mas por que a referência à fronte? A implicação é que o selo estará em lugar facilmente visível por outros. Devemos pública e perfeitamente refletir o caráter de Deus (7:3).

Antes de terminar sua descrição maravilhosa da “herança brilhante dos santos, a Jerusalém dos altos”, João tem outra palavra concernente ao seu brilho de glória e luz incomparável: “E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de luz de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os alumiará” (22:5). Não haverá noite, nem lâmpada, nem sol—apenas uma cidade gloriosa de luz que contrasta com o mundo presente de escuridão. Agora apenas metade do mundo pode estar iluminada de cada vez, mas quando o Senhor Deus for a luz, ela se espalhará por todos os lugares ao mesmo tempo. Tal luz eterna está fora do alcance da investigação científica; transcende a compreensão humana finita. E que cidade há de ser! Sem a noite com sua escuridão e temor; sem serviços à luz de lâmpadas; não haverá alvoreceres nem pores-de-sol!

Realiza-se a revelação de Jesus Cristo. A grande revelação dele como o Cordeiro todo-poderoso é ratificada e reforçada. Depois do panorama maravilhoso de sua glória e seu governo, o Apocalipse termina com a bênção mais simples, mais doce e mais curta. Tanto no prólogo como no epílogo do Apocalipse, declara-se a segunda vinda de Nosso Senhor (1:7; 22:20). No epílogo (22:6-21) temos sentenças curtas e concisas que provêm uma conclusão notável a este livro maravilhoso. Ao examinarmos as palavras com muito cuidado descobrimos que contêm uma condensação dos principais temas apresentados por todo o Apocalipse, a saber, a certeza do cumprimento da profecia e da iminência desse cumprimento.

O anjo que aparece fala de si mesmo na terceira pessoa e acrescenta uma bem-aventurança à promessa da volta da Cristo (22:6). Paralelos com o prólogo (1:1-8) são notáveis.

João fica tão vencido pela emoção ao contemplar a visão espantosa e a cena apoteótica da Cidade Santa que se prostra em adoração aos pés do arauto angelical. Mas é lembrado a João que toda a adoração, louvor e reverência pertencem a Deus somente.

Então João é instruído a considerar a segunda vinda de Cristo como estando próxima. As visões que João recebeu não deviam ser conservadas em segredo, como se estivessem longe. Pertencem ao presente, pois Cristo está prestes a aparecer.

Há uma solene declaração da sorte fixa e inalterável da escolha humana deliberada, com o caráter humano continuando a produzir seu desenvolvimento e fruto inevitáveis; a condenação dos ímpios é selada (22:10, 11).

Na designação repetida “Eu sou o Alfa e o Ômega” (1:8, 11; 22:13) temos a evidência notável da divindade de Cristo.

Cães, simbolizam a imundície ofensiva e não controlável de todos os que rejeitaram o sangue purificador do Cordeiro e foram trancados fora da Cidade Santa (22:15).

A resplandecente estrela da manhã brilha mais intensamente antes da aurora e é um símbolo adequado da volta de Cristo, que trará o alvorecer de uma era radiante de luz (22:16).

Assim como é acrescentada uma bênção ao uso adequado deste livro, também há uma advertência solene quanto ao abuso dele: um ai é pronunciado sobre todo o que modificar quaisquer dos seus ensinos. Esta admoestação refere-se à perversão ou distorção consciente de suas grandes verdades. Todos os que amarem o livro devem guardar sua integridade (22:18, 19) e declarar todo o conselho de Deus.


As Sete Últimas Coisas Ap 22:8-21

Gênesis é um livro de princípios; Apocalipse é um livro de finais, e sempre é bom comparar e contrastar os começos com os fins. Nesta última seção do último livro da Bíblia há sete últimas coisas a observar.

1.      A Ultima Testemunha da Realidade da Visão (22:8)

Os verbos de experiência têm proeminência neste versículo—Ouvi, vi. Pode haver aqui uma referência à visão coroadora que João teve do novo paraíso (22:1-7), a consumação do Apocalipse de Jesus Cristo (1:1). Mas os verbos de experiência também confirmam a autenticidade do Apocalipse como um todo.

2.      A Última Bem-aventurança Apostólica (22:14)

Anteriormente descrevemos todas as bem-aventuranças do Apoca­lipse para a lição 13 na ajuda ebdareiabranca. Aqui lembrasse-nosque obediência a tudo que Deus revelou traz rica recompensa (Jo 13:17). Como crentes andamos sobre estes dois pés: confiança e obediência.

3.      O Último Testemunho Divino (22:16, 18, 20)

Vivo para sempre, Cristo confirma todas as profecias do livro do Apocalipse, feitas com o propósito divino de revelá-lo em toda a sua glória e majestade. Três vezes temos a palavra testificar. A frase “Eu, Jesus” declara-o como o Jesus de toda a história. Que asserção calma e no entanto enfática de dignidade é esta: Eu, Jesus! O pronome pessoal é enfático. O Apocalipse é o livro da sua revelação e ele é o meio de sua comunicação. A raiz da terra simboliza sua humanidade, mas a estrela é do alto e fala de sua divindade. Se vamos dar valor às palavras de Jesus, então é trágico mudar qualquer parte deste livro sublime. Mutilar qualquer parte dele (ou qualquer parte da Bíblia) é merecer o juízo divino.

4.      O Último Convite Celeste (22:17)

A fim de compreender corretamente a trindade de vens dada por João devemos examiná-la à luz do contexto. Os dois primeiros venssignificam “Vem tu!” O primeiro Vem é duplo. O Espírito e a noiva dizem “Vem!” A quem se dirigem eles? Ao que diz três vezes no capítulo: “Eis que cedo venho” (22:7, 12, 20). O Espírito Santo fala mediante sua noiva, a igreja, e junta-se a ela na resposta à voz daquele que vem como a estrela da manhã. Então o santo individual apresenta-se (também os santos coletivos) e diz: “Vem tu!” Temos um desejo pessoal e forte de dar boas-vindas ao Senhor que retorna? O terceiro vem relaciona-se com o pecador, que, como o sedento, recebe ordem de beber das águas vivas antes que seja tarde demais.

5.      A Última Promessa do Advento (22:20)

Antes de sua morte, ressurreição e ascensão nosso Senhor prometeu voltar para buscar sua verdadeira igreja (Jo 14:1-3), e aqui, pela última vez, ele confirma sua promessa com as palavras: “Certamente cedo venho.” A Bíblia está cheia de promessas. Mas esta é a mais bendita de todas.

6.      A Última Oração Sincera (22:20)

João ecoou o desejo de todos os santos de todas as eras em sua breve mas sincera súplica: “Vem, Senhor Jesus.”

7.      A Última Bênção Santa (22:21)

O último livro da Bíblia, tão cheio de ira e juízos, termina com graça e não com maldição (como é o final do Antigo Testamento). “Amém!” Assim seja. Confirma-se a certeza absoluta da verdade, e todas as glórias da eternidade devem ser nossas mediante a graça somente. Assim, o Apocalipse começa com a “revelação de Jesus Cristo” e termina com “a graça de Jesus Cristo”. Como afirma Christina Rossetti: “Tudo o que está no entremeio não pode dar-nos o benefício de seus propósitos a menos que concluamos todo o assunto numa graça culminante, temendo a Deus e guardando os seus mandamentos.”

A hora é tarde e a areia do tempo se escoa. Que possamos ser encontrados vivendo como filhos da aurora, com os rostos voltados para o alvorecer eterno! Que as coisas da terra fiquem estranhamente obscuras à luz de tal glória e graça!

Bibliografia H. Lockyer ,comentario biblico,novo testamento.2009
   


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PAZ DO SENHOR

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