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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Historia da Harpa Cristã n.2




VERDADEIRA HISTÓRIA DOS HINOS DO PASTOR JOTINHA






HISTÓRIA ORIGINAL DOS HINOS

“CHUVAS DE GRAÇA” (Nº 1)

“Ó DESCE, FOGO SANTO” (Nº 5)

“CRISTO, O FIEL AMIGO” (Nº 8)

“O GRANDE ‘EU SOU’ ” (Nº 84)

“DEIXA PENETRAR A LUZ” (Nº 96) 
E

“MAIS PERTO, MEU DEUS, DE TI!” (Nº 187)

DA HARPA CRISTÃ


Tendo em vista o crescente número de telefonemas, e-mails e contatos pessoais, nos últimos meses, solicitando-me confirmação da veracidade histórica das afirmações do Sr. José Rodrigues, conhecido como Pastor Jotinha(1), "nascido em 1910", vivendo atualmente no Estado do Espírito Santo, de que são de sua autoria os seguintes hinos da Harpa Cristã: “Chuvas de Graça” (Nº 1), “Ó Desce, Fogo Santo” (Nº 5), “Cristo, o Fiel Amigo” (Nº 8), “O Grande ‘Eu Sou’ ” (Nº 84), “Deixa Penetrar a Luz” (Nº 96) e “Mais Perto, Meu Deus, de Ti!” (Nº 187), apresento abaixo as seguintes informações históricas colhidas por mim até este momento como pesquisador da história das Assembleias de Deus há 28 anos e como autor do Dicionário do Movimento Pentecostal e 100 mulheres que fizeram a história das Assembleias de Deus no Brasil (CPAD). (OBS.: Um resumo deste documento foi publicado no jornal Mensageiro da Paz em fevereiro de 2009.)

Informações Gerais

1. Nenhum dos seis hinos acima constou entre os 44 hinos do Cantor Pentecostal publicado em 1921 e usado pela Assembleia de Deus de Belém (PA), antes do lançamento da 1ª edição da Harpa Cristã.
2. Nenhum dos seis hinos acima constou entre 220 hinos do pequeno hinário Saltério Pentecostal, publicado em junho de 1931 por Gunnar Vingren, no Rio de Janeiro, para suprir uma carência de exemplares da Harpa Cristã.

3. Na 2ª edição da Harpa Cristã, publicada em 1923 e também na 4ª edição de 1932, somente cinco desses seis hinos acima referidos podiam ser encontrados entre os seus 300 hinos. O “Chuvas de Graça” é o Nº 11; o “Cristo, o Fiel Amigo” é o Nº 20 com o título “Só Jesus”; o “Ó Desce, Fogo Santo” é o Nº 21 com o título “Consagração”; o “O Grande ‘Eu Sou’ ” é o Nº 22 com o título “Victoria do Crente”; e o “Deixa Penetrar a Luz” é o Nº 43 com o título “A Luz de Deus”. Em todos eles aparecem a sigla J.R. (José Rodrigues) como o autor das letras em português para a Harpa Cristã.  O hino Nº 187, “Mais Perto, Meu Deus, de Ti!” não consta nas edições da Harpa Cristã acima referidas.
 A seguir, a história original e específica de cada um dos seis hinos comparada com a "versão histórica" apresentada pelo Pastor Jotinha em seus testemunhos, os quais estão disponíveis também na Internet.



Nº 1, “Chuvas de Graça”

O hino Nº 1, “Chuvas de Graça”, foi escrito originalmente em inglês pelo norte-americano Daniel Webster Whittle (D.W.W.) em 1883, sob o título “There Shall be Showers of Blessing”, sua música é de James McGranahan (J.M.) e foi publicado no hinário Gospel Hymns sob o Nº 4. Na América ficou conhecido apenas como “Showers of Blessing”. Foi traduzido para o português em 1890, por Salomão Luiz Ginsburg ao chegar ao Brasil como missionário. Em 1923, constava no hinário da Igreja Evangélica Congregacional, Salmos e Hinos, 4ª edição, sob o N° 331.
Pastor Jotinha, no vídeo http://www.youtube.com/watch?v=W6W9NWU1oac, afirma que ele escreveu este hino ao ser inspirado em oração num monte quando uma irmã usou da palavra (em profecia) “eu enviarei à minha igreja chuvas de graça; eu darei fortaleza aos meus servos e às minhas servas; darei ricas bênçãos sem par”. Ele, então, pegou o lápis, escreveu e Deus lhe deu o hino “Chuvas de Graça”. Em seguida, ele deu o hino para o evangelista Adriano Nobre que disse para ele que iria colocar como o hino Nº 1 da Harpa Cristã. Adriano teria dito ainda que ele fosse orar mais, pois Deus lhe daria outros hinos.
- Realmente, foi o então evangelista Adriano Nobre quem editou a primeira Harpa Cristã em 1922.
- Mas, desde 1883 o original em inglês usa a palavra “chuva” como idéia central da abundância de bênçãos do Senhor, ainda que a versão da nossa Harpa Cristã peça “bênçãos do Consolador”. A letra da primeira versão em português feita em 1890 pelo missionário batista Salomão Luiz Ginsburg, no Salmos e Hinos,  mantém a palavra “chuva”.  Portanto, antes mesmo de Jotinha ter nascido já existia este hino usando justamente a palavra “chuva” como idéia-central da mensagem que ele diz ter ouvido da boca da tal irmã num monte.
Compare as letras:

Letra original inglês escrita por Daniel Webster Whittle, em 1883

“There Shall be Showers of Blessing”
There shall be showers of blessing:
This is the promise of love;
There shall be seasons refreshing,
Sent from the Savior above.

Refrain

Showers of blessing,
Showers of blessing we need:
Mercy drops round us are falling,
But for the showers we plead.
There shall be showers of blessing,
Precious reviving again;
Over the hills and the valleys,
Sound of abundance of rain.

Refrain

There shall be showers of blessing;
Send them upon us, O Lord;
Grant to us now a refreshing,
Come, and now honor Thy Word.

Refrain

There shall be showers of blessing:
Oh, that today they might fall,
Now as to God we’re confessing,
Now as on Jesus we call!

Refrain

There shall be showers of blessing,
If we but trust and obey;
There shall be seasons refreshing,
If we let God have His way.

Refrain




- O “Chuvas de Graça” consta na 2ª edição da Harpa Cristã e não se sabe se ele entrou na 1ª edição, pois não há nenhum exemplar dessa edição nos arquivos da CPAD.  O Nº dele na 2ª edição da Harpa Cristã e nas edições seguintes é 11. Só a partir  da edição de 1941, organizada pelo pastor Paulo Leivas Macalão, com os tradicionais 524 hinos, que ele se tornou o Nº 1. Antes, o hino Nº 1 das primeiras edições da Harpa Cristã era o “Glória” de autoria do pastor Manoel Higyno de Souza.
- Foi feita também uma versão deste hino, do inglês para o sueco e foi publicada no hinário sueco Segertoner, sob o Nº 16, conforme cópia abaixo: 

- Jotinha afirma no início do vídeo que Gunnar Vingren e Daniel Berg chegaram à cidade onde vivia, Santa Maria(2) e o encontrou pastor na igreja batista local. Os dois missionários visitantes lhes falaram do batismo com o Espírito Santo, ele creu e foi batizado. Também, Gunnar Vingren e Daniel Berg foram à igreja batista local, todos ali aceitaram a doutrina pentecostal e a igreja passou a se chamar “missão missionária apostólica da fé”. Bem, primeiro, não há registro documental nenhum que nos informe qualquer visita de Gunnar Vingren ao Estado do Rio Grande do Sul. Daniel Berg é possível, pois ele viveu no Brasil até 1962. O Estado mais ao extremo sul que Vingren visitou durante seus 22 anos no Brasil foi Santa Catarina (fez duas viagens, uma em 1920 e outra em 1931). Todas as suas viagens estão registradas em seu livro O Diário do Pioneiro e nas suas agendas-diário que estão guardadas nos arquivos da CPAD no Rio de Janeiro. Essas agendas-diário cobrem informações de mais de 70% do tempo em que Vingren passou no Brasil.(3)
Segundo, na história pentecostal de Santa Maria não consta este “episódio extraordinário” de toda uma membresia batista ter se tornado pentecostal. O primeiro culto pentecostal aconteceu num lugar chamado Arroio do Só em 1º de dezembro de 1929 com a chegada do missionário sueco Gustav Nordlund ao Rio Grande do Sul. (4) .
Fato reafirmado pelo presbítero da AD de Santa Maria, Davi Martins Correa, crente antigo e com parentesco com os primeiros crentes pentecostais daquela cidade. Irmão Davi asseverou-me, em conversa por telefone, que nunca houve em Santa Maria tal episódio narrado pelo Pastor Jotinha.
Terceiro, ele afirma no referido vídeo que, nessa época, ele era pastor batista. Cruzando este vídeo com outro em que ele conta a história da chegada da sua família a Santa Maria da Boca do Monte, dá-nos a entender que, nessa época, quando os dois pioneiros o encontraram e o convidou para acompanhá-los, ele era um pastor batista com mais ou menos 15 anos de idade!
Quarto, Gunnar Vingren tinha o hábito de anotar todos os seus passos, tudo o que ele fazia, em suas agendas-diário. Vingren era extremamente meticuloso, detalhista. Ele menciona o nome de todas as cidades e lugares que visitava, anotava o nome de cada pessoa que ele conhecia pela primeira vez, quem o acompanhava em suas viagens missionárias e evangelísticas, quem era seus cooperadores, e até anotava trivialidades como, por exemplo, “fui passear com os meus filhos em Icaraí [uma praia de Niterói]” ou “[hoje] arrumei alguns livros”.  Então, é muito estranho não constar em nenhuma de suas agendas-diário o “encontro histórico” dele com o tão prodigioso jovem pastor batista Jotinha no Sul do país. 

Quinto, o ocorrido em Santa Maria (o encontro dos dois pioneiros com Jotinha e a “conversão pentecostal” de toda uma igreja batista) certamente ficaria registrado nos primeiros periódicos das Assembleias de Deus (Boa Semente, O Som Alegre e Mensageiro da Paz), porém, não há menção a nada disso neles.  Nem Emílio Conde registrou nada disso quando escreveu sobre o início pentecostal em Santa Maria na primeira edição do livro História das Assembleias de Deus no Brasil, publicado em 1960 (veja pp. 328, 329 e 331-333).
Notícias de igrejas e pastores batistas que se tornaram pentecostais, inclusive no Rio Grande do Sul, não deixaram de ser registrados em nossas fontes históricas pela repercussão que o fato provocava (leia, por exemplo, a história do ex-pastor batista, gaúcho, Paulo Malaquias no Dicionário do Movimento Pentecostal, p. 444).
Sexto, Jotinha afirma que foi dado à novel igreja pentecostal de Santa Maria o nome “igreja missionária apostólica da fé” e que era o nome da Assembleia de Deus na época. Aqui, dois erros históricos: O nome correto é “Missão Fé Apostólica” (veja abaixo a página da agenda de Gunnar Vingren de 1913 onde ele informa este nome) e este nome não mais era usado na época em que Jotinha conheceu Vingren e Berg, pois dá-nos a entender a narrativa de Jotinha que seu encontro com os pioneiros ocorrera por volta de 1925. O nome “Missão Fé Apostólica” deixou de ser usado bem cedo por volta de 1915, ocasião em que se passou a utilizar o nome atual “Assembleia de Deus” e o registro oficial deste nome ocorreu em 1918. (5)



Nº 5, “Ó Desce, Fogo Santo”

O hino Nº 5, “Ó Desce, Fogo Santo” foi originalmente escrito pelos norte-americanos Mrs. James, sob o título “My All Is On The Altar” e a música foi dada pela pianista metodista Phoebe Palmer Knapp (1839-1908). Consta no hinário Redemption Songs, sob o Nº 609. Foi incluído na 2ª edição (1889) do hinário da Igreja Evangélica Congregacional, Salmos e Hinos, sob o título “Consagração Pessoal” (Nº 332, antigo Nº 232) com tradução para o português de João Gomes da Rocha, em 1888.


N° 8, “Cristo, o Fiel Amigo”

O hino N° 8, “Cristo, o Fiel Amigo”, foi escrito originalmente em inglês pelo norte-americano Johnson Oatman Junior (J.O.Jr.) em 1895, sob o título “There’s not a friend like the lowly Jesus”, que foi musicado por George C. Hugg (G.C.H.). Em 1923 este hino podia ser encontrado no hinário Sacred Songs e Solos sob o N° 904. A primeira versão em português foi feita pelo missionário batista Albert Lafayette Dunstan (1869-1937) e foi publicada no hinário batista Cantor Cristão sob o título “Amigo Incomparável” (Nº 81). O mesmo original americano foi traduzido para o sueco e incluído no Segertoner de 1929 sob o título Ingen lik Jesus (Ninguém como Jesus) (Nº 68). Foi feita uma versão para cantá-lo nas Assembleias de Deus com o título “Só Jesus”.


N° 84, “O Grande ‘Eu Sou’ ”

O hino N° 84, “O Grande ‘Eu Sou’ ”, foi escrito pelo pastor norte-americano Edgar Page Stites (E.P.S.) em 1876 sob o título “Beulah Land”, inspirado em Isaías 36.17. Sua música é do professor de música presbiteriano John Robson Sweney (J.R.S.). Foi adaptado para o português em 1891 pelo missionário metodista Justus Henry Nelson e, em 1919, constava na 4ª edição do hinário da Igreja Evangélica Congregacional, Salmos e Hinos, sob o N° 401 com o título “Bela Terra”.  Na edição atual do Salmos e Hinos é o 585.


Mais informações sobre a versão deste hino para a Harpa Cristã estão no tópico final deste artigo, “Quem é o ‘José Rodrigues’ registrado na Harpa Cristã?”


N° 96, “Deixa Penetrar a Luz”

O hino N° 96, “Deixa Penetrar a Luz”, foi escrito pela norte-americana Ada Blenkhorn (A.B.) em 1885 sob o título “Let the Sunshine In” e recebeu música por Charles Hutchison Gabriel (C.H.G.). Em 1923 podia ser encontrado no hinário Sacred Songs e Solos sob o N° 795. Consta no hinário da Igreja Evangélica Congregacional, Salmos e Hinos, sob o N° 302, com o título “Deixa o Sol em Ti Nascer” e tradução para o português de Antonio Querino Lomba, em 1900.


Nº 187, “Mais Perto, Meu Deus, de Ti!”

O hino Nº 187, “Mais Perto, Meu Deus, de Ti!”, foi escrito pela norte-americana Sarah Flower Adams (S.F.A.) em 1841 sob o título “Near, My God, to Thee”. A música foi escrita por Lowell Mason em 1856.
Sarah era compositora e, um dia quando estudava a Bíblia, ficou tão impressionada com a história do Gênesis, da visão de Jacó, em Betel, a escada que alcançava o céu, e os anjos que desciam e subiam por ela (Gn 28.10-19).

Sarah legou-nos outros 12 hinos.

Lowell Mason, músico sacro, deixou registrado na história que, em uma noite de 1856, depois de despertar de um sono, com olhos aberto na escuridão, na solidão da sua casa, veio a ele, pela manhã, a melodia para a letra escrita por Sarah Adams. (6)
Sua versão em português foi feita em 1888 pelo Dr. João Gomes da Rocha e foi publicado no hinário da Igreja Evangélica Congregacional, Salmos e Hinos, sob o N° 219, com o título “Mais Perto Quero Estar” (atual Nº 360).
Jotinha afirma no vídeo “Mais Perto Quero Estar” (www.youtube.com/watch?v=fPMu_LEOH9U) que ele escreveu este hino para um “irmão boadeiro” que lhe pediu um hino para também entrar na primeira edição da Harpa Cristã que seria “fechada” com 100 hinos.

Então vejamos o seguinte:
- As iniciais J.G.R. no hino 187 é de João Gomes da Rocha conforme o índice de autores nas páginas finais da Harpa Cristã.
- João Gomes da Rocha fez esta versão em 1888 para o Salmos e Hinos e foi utilizada a mesma versão (há pequenas variações) na Harpa Cristã, não somente a melodia. É tanto que o nome de João Gomes da Rocha foi mantido.
Interessante é que a letra vertida em português por João Gomes da Rocha é quase uma tradução direta do original em inglês de 1841.  e ler a letra e colocar para tocar a melodia. É todo igual ao que é hoje desde o século 19.
Compare abaixo:

Letra original em inglês, escrita por Sarah F. Adams, em 1841:

Nearer, my God, to Thee, nearer to Thee!
E’en though it be a cross that raiseth me,
Still all my song shall be, nearer, my God, to Thee.

Refrain

Nearer, my God, to Thee,
Nearer to Thee!

Though like the wanderer, the sun gone down,
Darkness be over me, my rest a stone.
Yet in my dreams I’d be nearer, my God to Thee.

Refrain
There let the way appear, steps unto Heav’n;
All that Thou sendest me, in mercy given;
Angels to beckon me nearer, my God, to Thee.
Refrain

Then, with my waking thoughts bright with Thy praise,
Out of my stony griefs Bethel I’ll raise;
So by my woes to be nearer, my God, to Thee.

Refrain

Or, if on joyful wing cleaving the sky,
Sun, moon, and stars forgot, upward I’ll fly,
Still all my song shall be, nearer, my God, to Thee.

Refrain

There in my Father’s home, safe and at rest,
There in my Savior’s love, perfectly blest;
Age after age to be, nearer my God to Thee.

Refrain

Abaixo, a letra da versão feita em 1888 pelo Dr. João Gomes da Rocha para o Salmos e Hinos:  

- Quem foi João Gomes da Rocha? Foi o médico nascido em 1861 no Rio de Janeiro e falecido em 1947, filho de pais português, mas filho adotivo do casal Robert e Sarah Poulton Kalley, missionários fundadores da Igreja Congregacional no Brasil e da Escola Dominical. João Gomes estudou e se formou em Medicina na Inglaterra e seguiu os passos de seus pais adotivos na Igreja Congregacional e na música cuidando do hinário Salmos e Hinos até sua morte. Ele passou a maior parte da sua vida na Inglaterra, mas ele visitou o Brasil várias vezes e falava bem o português.  No Salmos e Hinos contam, entre versões e composições, 67 hinos com o seu nome. (7)

 Este hino só passou a constar na Harpa Cristã a partir de 1941 quando saiu o hinário com os tradicionais 524 hinos organizados por Paulo Leivas Macalão. Portanto, não constou em nenhumas edições anteriores, muito menos na primeira, como dá a entender pela narrativa de Jotinha no vídeo no Youtube.
- Se foi Jotinha quem escreveu este hino, então ele tinha em torno de 12 anos de idade quando o compôs, pois a primeira edição da Harpa Cristã com 100 hinos foi publicada em 1922 em Recife (PE) e ele nasceu em 1910. Além disso, como ele afirma que o tal “irmão boadeiro” se referia a ele como pastor, então ele tinha esta ordenação aos 12 anos!
- Se foi Jotinha quem escreveu este hino e a orquestra do Titanic o tocou enquanto o navio naufragava, então, Jotinha o compôs quando tinha 1 ano e 10 meses de idade!!! (Jotinha afirma ter nascido em 24 de junho de 1910 e o Titanic afundou em 15 de abril de 1912.)
- Pergunto: Como foi Jotinha o autor deste hino se, em 1901, William Mckinley, presidente dos Estados Unidos, à beira da morte, suas últimas palavras foram: “Mais perto quero estar meu Deus de Ti, mesmo que seja a dor que me una a Ti – foi minha constante oração”, segundo relatos do médico que o assistiu, no momento de dor, o Dr. M. D. Mann? E mais, na tarde de 5 de setembro de 1901, após 5 minutos de silêncio, várias bandas de música de Nova Iorque, tocaram este hino em memória do presidente.  Segundo Jotinha afirma, o seu nascimento se deu em 1910. Portanto, nove anos depois da morte de Mckinley.
- Ainda no vídeo “Mais Perto Quero Estar”, Jotinha conta como eram escritos os hinos para constar na Harpa Cristã (dá-nos a entender que eram para a 1ª edição de 1922) e, então ele disse o seguinte: “Eu fui debaixo de um pé de pitomba, estava a irmã Frida Vingren, a esposa do missionário fundador da Assembleia de Deus. Estava fazendo um hino, aí ela disse assim: Jotinha estou fazendo um hino aqui. Ai eu vi ela escrevendo, ‘Bem-aventurado os que confiam no Senhor...’ Ela estava fazendo aquele hino... ela fez o 126”. Dois problemas aí: Este hino não consta em nenhuma edição da Harpa Cristã antes de 1941. Exceto no hinário Psalterio Pentecostal, publicado em 1931, no Rio de Janeiro, pelo missionário Gunnar Vingren. O Nº dele é 120 e foi uma tradução do hino 174 do hinário sueco Segertoner, editado em 1929 por Lewi Pethrus. No lado direito do Nº 120 vem escrito “MUS. SEGERT. 174”, conforme pode ser visto na cópia abaixo.

Abaixo cópia do hino 174 “Bem-aventurados os que confiam no Senhor”, em sueco no hinário Segertoner (1929). O autor foi o sueco Emil Gustafson e a melodia adotada foi a folkmelodi (melodia popular). A missionária Frida Vingren, como musicista que era, apenas traduziu a letra e fez uma versão que foi incluída na Harpa Cristã a partir de 1941. 

Quem é o “José Rodrigues” registrado na Harpa Cristã?

Quem é o “José Rodrigues” registrado na Harpa Cristã como o autor das letras dos seis hinos tratados aqui? Para tentar obter a resposta, consultei dois estudiosos da história da Harpa Cristã. Conversei demoradamente sobre este assunto com o maestro e juiz de Direito, Abner Apolinário, da Assembléia de Deus de Recife (PE), profundo conhecedor e amante da Harpa Cristã. Maestro Abner declarou-me que nada conhece a respeito do José Rodrigues da Harpa Cristã e nunca havia ouvido falar do “Pastor Jotinha”. Consultei também o maestro e pastor João Pereira, que trabalhou durante anos chefiando o extinto Setor de Música da CPAD e que também fez parte da Comissão que, de 1979 a 1992, revisou e atualizou a Harpa Cristã. A resposta do maestro João Pereira foi a mesma do maestro Abner Apolinário.
Um dos mais antigos obreiros das Assembléias de Deus, conhecido nacionalmente e ainda bastante lúcido, pastor José Pimentel de Carvalho, presidente da Assembleia de Deus de Curitiba (PR), segundo informou-me o irmão Tadeu Costa (secretário de educação cristã da AD Curitiba), quando consultado recentemente a respeito de José Rodrigues (Pastor Jotinha), disse que não o conhece e nunca ouviu falar sobre ele. (Pastor José Pimentel de Carvalho faleceu em 24 de fevereiro de 2011, aos 95 anos.)
Fiz também contato com Eliézer Cohen, pesquisador e historiador das Assembleias de Deus há mais de 30 anos. Ele, então, informou-me sobre um “José Rodrigues” mencionado em duas edições do extinto jornal Boa Semente, publicado pela Assembleia de Deus de Belém do Pará, de 1919 a 1930, e, em seguida, enviou-me cópias das referidas edições.

O que Eliézer Cohen e eu descobrimos foi o seguinte: Na edição de 16 de abril de 1919, pastor Gunnar Vingren, diretor do Boa Semente, no Expediente, página 1, faz um pedido de oração aos leitores para um irmão chamado “José Rodrigues” nas seguintes palavras:

Orem pelo nosso amado irmão José Rodrigues, nosso auxiliar para que o Senhor lhe dê graça, força e saúde, para que ele continue a dar-nos tão importante auxílio como o que nos vem prestando. 

Nesta mesma edição de 1919, foi publicado um hino sob o título “Victoria do Crente”. Abaixo do título aparece, entre parênteses, “Musica: Psalmos e Hymnos, n° 401”. Após a última estrofe, aparecem as informações “Pará-1919” e “José Rodrigues”. A letra não é a mesma criada por Justus Nelson e que fora publicada há alguns anos no hinário Salmos e Hinos, mas por meio da informação citada abaixo do título, obviamente, a música é a mesma do N° 401 do Salmos e Hinos, que, por sua vez, tinha a música do “Beulah Land” escrito pelo pastor norte-americano Edgar Page Stites em 1876. A menção “José Rodrigues” no final do texto dá-nos a entender que é o nome de quem criou a nova letra em português e intitulou o hino de “Victoria do Crente”. Esta letra é a mesma que aparece na 2ª edição da Harpa Cristã, publicada em 1923 e a mesma impressa nas atuais edições, com pequenas diferenças, sob o título “O Grande ‘Eu Sou’ ”, N° 84, que o “Pastor Jotinha” afirma ser o autor. 

Três meses após a essas duas menções do nome “José Rodrigues” no Boa Semente de abril, no Expediente da edição do mesmo jornal em 27 de julho de 1919, pastor Gunnar Vingren dá a notícia de que o irmão “José Rodrigues” para o qual ele havia pedido orações anteriormente, morrera no dia 2 de junho daquele ano. Eis a nota do jornal:

Em nosso penúltimo número deste jornal pedimos as orações de todos os crentes em Jesus Cristo pelo nosso auxiliar, o irmão José Rodrigues, que o Senhor lhe desse graça, força e saúde para continuação de tão importante auxílio que nos vinha prestando. Mas aprovou a Deus tomar para si o nosso irmão, que dormiu alegre no Senhor no dia 2 de junho. Agora nós viemos pedindo aos nossos irmãos orar ao Senhor nos dê outro auxiliar para suprir a falta do nosso amado irmão em tão importante serviço que nos prestava. 

Parece-me, pelas duas notas transcritas, que o “irmão José Rodrigues” havia sido um importante auxiliar de Gunnar Vingren e dos outros recém-chegados missionários, para a redação do jornal Boa Semente. Pois estes, nessa ocasião, ainda dependiam muito de brasileiros para lhes ajudar a redigir corretamente textos e hinos no idioma português. Por esta razão, também parece a mim e a Eliézer Cohen que este “José Rodrigues”, que morreu, bem pode ter sido o mesmo “José Rodrigues” que aparece como autor da letra do hino “Victoria do Crente” impresso na edição de 16 de abril de 1919 do Boa Semente, e, por sua vez, também autor das versões dos hinos 1, 5, 8 e 96. Por outro lado, se este autor “José Rodrigues” é o mesmo José Rodrigues (Pastor Jotinha), "nascido em 1910", que vive atualmente no Espírito Santo, ele, então, com apenas nove anos de idade, compôs uma bela letra e fez todo o trabalho de adaptação à métrica da música “Beulah Land”, para que os crentes assembleianos viessem a cantar uma versão em português deste hino americano. Além disso, ele conta em seu testemunho gravado em vídeo na Internet que, por volta de 1915, com 5 anos de idade, retornou com os seus pais para Israel, mas não informa quando voltaram para o Brasil .

São estas as informações que possuo no momento sobre este assunto. Reitero, aqui, o meu rigor técnico-científico, imparcial e impessoal, com o qual tenho pautado todo o meu trabalho de pesquisas e de redação de textos, conforme vem sendo comprovado pelos milhares de leitores da minha obra, o Dicionário do Movimento Pentecostal.

 
 José Rodrigues é judeu, nascido em Cafarnaum, Israel, em 24 de junho de 1910, com o nome Josefus Rerullu. Em 1911, seus pais vieram refugiados para o Brasil. Tornou-se, então, um dos pioneiros das Assembléias de Deus, tendo sido amigo de Gunnar Vingren e Daniel Berg. Segundo ele afirma, compôs muitos hinos da Harpa Cristã que levam as iniciais J.R., entre eles os números 1, 5, 8, 84 e 96. Também afirma ser autor de diversos corinhos cantados nas Assembléias de Deus, como o “Eu quero ser Senhor amado como um vaso na mão do oleiro”, que compôs 1950. Afirma ainda nunca ter se casado e nunca ter sequer uma namorada, dedicando-se inteiramente à obra de Deus. Seria o único pioneiro da 1ª geração da AD que permanece vivo. É presidente de honra do Ministério da Assembléia de Deus do Ibes, Espírito Santo, liderado pelo pastor Levi Aguiar de Jesus Ferreira. Ele viaja pelo país afora dando testemunhos de suas experiências. Há CDs com sua história, filmes na Internet e fotos de divulgação.
Para ler mais sobre “Pastor Jotinha”,  


(3) Viagens de Gunnar Vingren feitas durante seus 22 anos (1910 a 1932) no Brasil
1914
Ceará
1915
Alagoas
1915/1916/1917
EUA/Suécia/Noruega/EUA
1920 (3 meses de viagens)
Ceará/Rio Grande do Norte/Paraíba/Pernambuco/Bahia/Espírito Santo/Rio de Janeiro/São Paulo/Santa Catarina
1921/1922/1923
Suécia
1923 (3 meses de viagens)
Alagoas/Espírito Santo/Rio de Janeiro
1924 (Mudança de residência, de Belém para o Rio)
Rio de Janeiro
1926
Minas Gerais
1928
Minas Gerais/Pernambuco/Paraíba/Alagoas
1929
Minas Gerais/São Paulo/Pernambuco/ Paraíba/Alagoas
1930
Bahia/Suécia/Portugal/Rio Grande do Norte/São Paulo
1931
Santa Catarina/São Paulo
1932
Suécia

(4)  O início da Assembléia de Deus em Arroio do Só se deu em 1928, com Norberto Flores, conforme reportagem publicada no Mensageiro da Paz de março de 1944, p. 7. Para informações históricas da Assembléia de Deus de Santa Maria, visite o site http://www.adsantamaria.org.br/história.html e leia as páginas 117 a 120 do livro Despertamento apostólico no Brasil, publicado em 1934, onde o missionário Gustav Nordlund conta como foi o início da Assembléia de Deus em Arroio do Só (Santa Maria).

(5) A ordenação do Pastor Jotinha pela Cadeeso é recente e o seu registro na CGADB é 43.610. Se ele é um pastor tão antigo, por que só há pouco tempo ele foi reconhecido?

(6) Para maiores informações sobre o nome “Fé Apostólica” e a mudança para “Assembléia de Deus”, veja Dicionário do Movimento Pentecostal, pp. 40, 41.

(7) Duas boas fontes históricas do hino 187 são o livro Histórias de Hinos, de Ethel Dawsey Ream, publicado em 1939, pp. 50, 51, e a revista Novas de Alegria, de setembro de 2006, seção “Hinologia”, escrita pelo pastor Torcato Lopes, sob o título “Mais perto, meu Deus, de Ti”, p. 18.

(8) A história do Dr. João Gomes da Rocha está no livro Música Sacra Evangélica no Brasil de Henriqueta Rosa Fernandes Braga, publicado em 1961, pp. 332, 333.

Fontes consultadas:dic. movimento pentecostal 2015



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