SEGUNDA CARTA AOS
CORINTIOS
A defesa
do apostolado de Paulo
2 Coríntios 1.12-14; 10.4,5.
2 Coríntios 1
12 - Porque a nossa glória
é esta: o testemunho da nossa consciência, de que, com simplicidade e
sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus, temos
vivido no mundo e maiormente convosco.
13 - Porque nenhumas outras
coisas vos escrevemos, senão as que já sabeis ou também reconheceis; e espero
que também até ao fim as reconhecereis,
14 - como também já em
parte reconhecestes em nós, que somos a vossa glória, como também vós sereis a
nossa no Dia do Senhor Jesus.
2 Coríntios 10
4 - Porque as armas da
nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das
fortalezas;
5 - destruindo os
conselhos e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e
levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo.
Palavra Chave. Apostolado: Missão
de apóstolo, alguém comissionado e enviado pelo Senhor Jesus para uma missão.
A
Segunda Epístola de Paulo aos Coríntios foi uma resposta ao antagonismo que
havia se levantado contra a sua autoridade apostólica, pois o seu modo incisivo
de doutrinar havia chocado alguns conceitos dos cristãos de Corinto. Conceitos
esses, aliás, que feriam os ensinos de Cristo. Em face dessa oposição, Paulo
fez uma defesa do seu apostolado, refutando falsos cristãos que, embora se
autodenominassem apóstolos, contradiziam os ensinos genuínos do evangelho de
Cristo que Paulo pregava (2 Co 11.4,13).
Esta
carta pode ser identificada sob três divisões. Os capítulos 1 a 7 consistem
numa exposição do ministério apostólico de Paulo. Nos capítulos 8 e 9, Paulo
defende a causa das ofertas enviadas aos cristãos pobres de Jerusalém. Os
capítulos 10 a 13, mais uma vez, de forma incisiva e enérgica, são uma defesa
da autoridade apostólica de Paulo.
A CIDADE DE CORINTO
Uma metrópole estratégica do século I
d.C. Corinto
achava-se localizada estrategicamente numa região que facilitava as viagens dos
povos mediterrâneos dedicados ao comércio. A cidade era muito antiga e fora
construída sobre uma estreita faixa de terra, que unia o norte e o sul da
Grécia. O bronze, a cerâmica e outros produtos eram escoados através de seu
território. Entre 51 a 55 d.C, sua população era estimada entre 100 a 500 mil
habitantes; cifras que, para os padrões da época, significavam grandeza e
orgulho. Capital da província romana da Acaia, era uma cidade altamente
influenciada pela filosofia grega.
Uma cidade histórica e libertina. No século II
a.C, Corinto havia chegado a um alto grau de prosperidade. Mas, por causa de
seu conflito com Roma, foi destruída em 146 a.C. Reconstruída pelo imperador
Júlio César, em 44 a.C, logo floresceu, tornando-se o mais próspero centro do
sul da Grécia.
Nos
dias de Paulo, a cidade era um “pólo” terrível e vergonhoso de idolatria. A
mensagem do evangelho confrontava e condenava esse estado de coisas (2 Co 5.17).
Assim,
a atitude correta e firme de Paulo acabou por gerar uma oposição ao seu
ministério por parte de alguns crentes daquela localidade (2 Co 2.1-13).
Local da carta. Paulo estava na
província da Macedônia, possivelmente em Filipos, quando escreveu esta Carta.
Filipos foi a primeira igreja fundada na Europa pelo apóstolo Paulo, na qual
ele desfrutava de boa aceitação e carinho (Fp 4.15).A
Segunda Carta de Paulo aos Coríntios foi uma resposta ao antagonismo que havia
se levantado contra a autoridade apostólica do doutor dos gentios.
OBJETIVO DA CARTA
Autoria e características da
carta. A
carta começa com a forma típica do tratamento e endereçamento do primeiro
século, com o apóstolo, literalmente, identificando-se: “Paulo, apóstolo de
Jesus Cristo” (1.1). Nesta saudação, temos a evidência da autenticidade da
carta. Além disso, o estilo e a linguagem indubitáveis de Paulo indicam ter
sido ele quem a escreveu.
A carta tem um caráter pessoal. A Segunda
Epístola aos Coríntios é a mais autobiográfica das cartas do apóstolo Paulo e,
portanto, possui uma marca bastante pessoal. Por causa dos constantes ataques
que sofreu da parte dos coríntios (e dos “superapóstolos”, que se infiltraram
na igreja), ela é denominada “a carta contristada” ou a “carta dolorosa”. A
influência negativa do estilo de vida extremamente pecaminoso da cidade,
marcado pela degradação moral e orgulho intelectual, afetou muitos cristãos
chegando até mesmo a dominá-los. Isso fez com que Paulo reagisse com firmeza,
condenando suas práticas imorais e, ao mesmo tempo, obrigando-o a se expor
muito mais do que em qualquer outro de seus escritos.
A exposição do ministério e
apostolado paulinos e a coleta para os necessitados. Há, basicamente,
três objetivos pelos quais Paulo escreveu esta carta. Os pseudocristãos, que
viviam e se movimentavam no seio da igreja, levantaram dúvidas acerca do
apostolado de Paulo, suscitando contenda e rejeição ao apóstolo por parte do
povo (Ver 2 Co 11.26b; Cl 2.4). Esses falsos irmãos promoveram um mal-estar na
comunidade de fé coríntia, de tal forma, que trouxe muita aflição de espírito a
Paulo. A despeito de tudo, o apóstolo amava essa igreja. Corinto foi a igreja
que mais preocupação causou ao doutor dos gentios. É evidente que o apóstolo
tratou de outros assuntos (6.14-18 é apenas um desses), entretanto, de certa
forma, esses objetivos também oferecem uma estrutura para o estudo de 2
Coríntios:
a) A exposição do ministério
paulino (capítulos 1-7). Foi grande o problema enfrentado por Paulo
ante a crítica severa à integridade do seu ministério. Duas de suas defesas
foram: 1) A apresentação de sua vida ao
exame público (algo que o tranquilizava, pois era irrepreensível diante de
todos, 2 Co 3.1-4); 2) e o próprio fato de ele padecer
por estar realizando a obra de Deus (algo que, longe de o desqualificar, era na
verdade uma das provas de que ele era realmente chamado por Deus, 2 Co 6.1-13).
Na realidade, a defesa do ministério paulino contém lições preciosas para todos
nós sobre como agir e reagir diante de ataques gratuitos e de circunstâncias
negativas. Por isso, o objetivo dessa carta (à parte da defesa do apostolado
paulino), mesmo tendo sido escrita em “tribulação e angústia do coração”, por
causa dos “falsos apóstolos” (2 Co 11.13), é promover a unidade e o crescimento
da igreja, com vistas ao amor fraternal.
b) A coleta para os necessitados
(capítulos 8-9). Estes
dois capítulos, se bem estudados, podem oferecer uma ampla visão do que
significa filantropia e oferta como louvor e gratidão a Deus.
c) A defesa do apostolado paulino
(capítulos 10-13). Nos
capítulos finais, Paulo retoma o assunto e, de maneira ainda mais contundente,
defende o seu apostolado como um ministério recebido de Deus. Ele se vê
“obrigado” a expor algumas de suas credenciais para contrastar com o perfil dos
falsos apóstolos e “superapóstolos”.O objetivo da Segunda
epístola é promover a unidade e o crescimento da igreja, com vistas ao amor
fraternal.
AS LIÇÕES QUE APRENDEMOS COM PAULO
Amar sem ser conivente com o erro. Paulo amava a
igreja, que gerara em Cristo, e muito zelava pelo seu vínculo com aqueles
irmãos. Por isso, não podia, em sã consciência e segundo as Escrituras,
compactuar, nem permitir o mau e escandaloso testemunho de alguns de seus
membros (1 Co 5-6; 8). A comunhão com tais pessoas causaria estrago espiritual
à igreja. A primeira carta foi enviada, provavelmente, através de Timóteo (1 Co
4.17), mas não produziu o resultado esperado pelo apóstolo. Ao contrário, a
igreja continuava envolvida com pecados através de seus membros. Paulo, então,
deixou a igreja em Éfeso, e foi a Corinto (2 Co 2.1; 12.14). Nesta viagem
missionária, Paulo passou o inverno em Corinto, antes de prosseguir para
Jerusalém e levar as ofertas recebidas das igrejas da Ásia Menor aos cristãos
necessitados.
Ser obreiro é estar disposto a sofrer
perseguições internas. Aprendemos com esta carta de 2 Coríntios, e
com Paulo, que não estamos livres de enfrentar oposições na vida cristã e no
trabalho do Senhor. Ninguém está livre de passar por tristezas, angústias e
perseguições. Todavia, Deus não nos abandonará se tivermos sempre em vista o
propósito da sua chamada em nossa vida.
Paulo não tomou todos por alguns. Apesar de tudo,
o apóstolo Paulo sabia que havia crentes fiéis em Corinto, que não tinham
entrado pelo caminho da murmuração e da rebeldia. Apesar dos males diversos
causados ao apóstolo, ele não desistiu daquelas ovelhas; como pastor espiritual
daquele rebanho, estava pronto a defender os fiéis.Apesar
dos males diversos causados ao apóstolo, ele não desistiu daquelas ovelhas, e
como pastor espiritual daquele rebanho, estava pronto a defender os fiéis e
repelir os lobos predadores.
Além
de todos os aspectos históricos e geográficos que contribuem para que
entendamos que Deus conduz a história na realização da sua soberana vontade, é
preciso não perder de vista a vocação que cada um de nós recebeu da parte do
Senhor. Na realidade; é preciso ir além: Que saibamos, assim como o apóstolo
Paulo, sofrer por amor a Cristo, a fim de cumprir o chamado dEle em nossa vida
(2 Co 1.5-7; 6.4; Cl 1.24; 2 Tm 1.8; 2.3; 3.11; 4.5).
“Uma cidade muito antiga.Os primeiros
colonizadores chegaram à Corinto no quinto ou sexto milênio a.C. Mas a Corinto
do período clássico foi realmente estabelecida com a invasão dos dórios. Por
volta de 1000 a.C, esse povo grego se estabeleceu no sopé da acrópole de
Corinto. Ocupando um lugar de segurança, eles também controlavam a principal
rota comercial por terra entre o Peloponeso e a Grécia central, como também a
rota Istmiana. Chegando logo a um alto grau de prosperidade, a cidade colonizou
Siracusa na Sicília e a ilha de Corcira (a atual Corfu) e alcançou um pico de
prosperidade através do desenvolvimento comercial e industrial. A cerâmica e o
bronze de Corinto foram largamente exportados pelo Mediterrâneo.
Corinto
entrou em conflito com Roma durante o século II a.C, foi finalmente destruída
pelos romanos em 146 a.C, e permaneceu virtualmente desabitada até que Júlio
César fundou-a novamente em 44 a.C. O crescimento de Corinto foi rápido e, na
época de Paulo, ou logo depois, a cidade se tornou o maior e mais próspero
centro no sul da Grécia. A prostituição religiosa era comumente praticada em
conexão com os templos da cidade. [...] A partir da mobilidade social e dos
males das práticas religiosas ali, surgiu uma corrupção geral da sociedade. A
péssima ‘moral de Corinto’ se tornou um provérbio pejorativo até mesmo no mundo
romano pagão”.Notas (Dicionário Bíblico Wycliffe. 1.ed. RJ: CPAD,
2006, pp.460-62).
O Relacionamento de Paulo com a Igreja.“1 Coríntios, enviada
provavelmente por intermédio de Timóteo (1 Co 4.17), não produziu os resultados
desejados. O relatório que [Paulo] recebeu informava que as condições da igreja
estavam se tornando piores. Portanto, Paulo deixou seu trabalho em Éfeso e fez
algo que classificou como uma visita dolorosa a Corinto (2 Co 2.1). Parece que
alguma pessoa em particular, algum chefe dos revoltosos, havia se levantado em
um arrogante desafio a Paulo (2 Co 2.5-8; 7.12). A igreja ficou do lado deste,
e Paulo foi obrigado a fugir às pressas.
2
Coríntios é uma prova de que a polêmica contra o apóstolo havia aumentado e
eram muitas as acusações e as críticas contra a sua pessoa. Questionavam a
integridade dos seus motivos, do seu comportamento e até do seu ministério
apostólico (1.13; 3.1). Até sua coragem (10.1,10) e sua capacidade foram
atacadas (10.11; 11.6). Parece que as críticas a Paulo vieram de uma minoria
(2.6) e estavam centralizadas em alguns judeus cristãos (2.6), que haviam
conseguido penetrar na congregação através de recomendações e da sua própria
indicação (3.1; 10.12,18). De acordo com Kuemmel, eles não eram ‘judaizantes’,
mas opositores palestinos da missão de Paulo e da dignidade apostólica que
haviam se juntado a um grupo divergente, e aparentemente gnóstico, do
ministério de Paulo e que já era evidente em 1 Coríntios.
Ao
retornar a Éfeso dessa ‘dolorosa visita’, Paulo escreveu uma ‘carta triste’
(2.3,4) e enviou Tito (7.6) para entregá-la em Corinto e tentar recuperar a
igreja para ele. Depois da partida de Tito, esta preocupação de Paulo iria
impedi-lo de continuar seu trabalho, portanto ele partiu para Trôade e depois
para a Macedônia (2.12,13), a fim de aguardar o retorno de Tito. Quando este
chegou trazendo a informação de que a igreja havia cuidado do ofensor e que
havia novamente se submetido à autoridade do apóstolo, Paulo sentiu-se
reconfortado. Portanto, depois de um ano na Macedônia (8.10) e depois de ter
escrito 1 Coríntios, Paulo escreveu à igreja de Deus em Corinto. Ele incluiu
‘todos os santos que estão em toda a Acaia’ e lhes pediu para preparar o
caminho para sua terceira visita. Nessa carta ele expressa seu alívio com o
sucesso da missão reconciliadora de Tito e responde às aviltantes acusações dos
seus críticos. Em toda essa carta, mas especialmente nos capítulos 10-13, ele
entendeu ser necessário defender a legitimidade do seu apostolado. Embora as
relações entre o apóstolo e a igreja como um todo tivessem sido restauradas,
ainda permanecia alguma oposição a Paulo em Corinto”.Notas (Comentário
Bíblico Beacon. Vol.
8: Romanos a 1 e 2 Coríntios. RJ: CPAD, 2005, p.400,401)
O consolo de Deus em meio à aflição
2 Coríntios 1.1-7.
1 - Paulo, apóstolo de
Jesus Cristo pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à igreja de Deus que está
em Corinto, com todos os santos que estão em toda a Acaia:
2 - graça a vós e paz, da
parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo.
3 - Bendito seja o Deus e
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda
consolação,
4 - que nos consola em
toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em
alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados de
Deus.
5 - Porque, como as
aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também a nossa consolação
sobeja por meio de Cristo.
6 - Mas, se somos
atribulados, é para vossa consolação e salvação; ou, se somos consolados, para
vossa consolação é, a qual se opera, suportando com paciência as mesmas
aflições que nós também padecemos.
7 - E a nossa esperança
acerca de vós é firme, sabendo que, como sois participantes das aflições, assim
o sereis também da consolação.
A Segunda Carta aos Coríntios
mostra que ele enfrentou oposição, perseguição e experimentou grande
sofrimento. Todavia, o Deus que o comissionou não o deixou sozinho, mas esteve
ao seu lado em todo o tempo. Permita que Deus traga consolo ao seu coração a
fim de que possa consolar seus alunos ou outras pessoas que porventura estejam
também enfrentando dificuldades.
Palavra Chave. Consolação: Do
grego paraklēsis;
alívio, lenitivo, conforto.
A
Segunda Epístola aos Coríntios foi escrita quase um ano depois da primeira
carta, e contém a apologética mais uniforme da autoridade apostólica de Paulo.
O apóstolo achava-se contristado por causa da oposição que lhe moviam os falsos
irmãos. Afinal, aquela igreja era fruto do seu trabalho missionário (1 Co
4.14,15; 2 Co 10.13,14). A carta também inclui alguns temas doutrinários, como
é o caso da morte e ressurreição do crente (2 Co 5.1-10). Neste texto, o
apóstolo expõe o seu coração; revela, de forma vívida, os sentimentos que
envolviam sua alma e sua fé. Ele confronta as calúnias e a deslealdade dos
falsos irmãos, refutando suas atitudes carnais; bem como enfrenta os falsos
apóstolos, que tinham por objetivo corromper a verdade do evangelho de Cristo,
a qual o apóstolo pregava com toda sinceridade e dedicação.
UMA SAUDAÇÃO ESPECIAL E INSPIRADORA
(1.1,2)
Sua identificação pessoal e os
destinatários (1.1). O
apóstolo dos gentios, como de praxe, inicia o texto com o seu primeiro nome,
Paulo, seguindo uma forma predominante na época em que aparecia o nome do
autor, o nome do destinatário e, finalmente, a saudação. Em seguida, Paulo
destaca o seu apostolado, através do seu poderoso e frutífero ministério no
seio da igreja, como alguém que fora chamado e autorizado a ser portador do
evangelho pelo próprio Jesus (At 9.15). Já no versículo primeiro ele enfatiza o
fato de o seu apostolado ser um chamamento divino (v.1). Nesta sua saudação à
igreja de Corinto, Paulo inclui Timóteo, que cooperava com ele em suas
atividades missionárias. Timóteo, um jovem obreiro, foi um companheiro leal de
Paulo durante todo o seu ministério (At 16.1-3; 17.14,15; 1 Co 4.17). No texto
de Atos 18.5 vemos que Timóteo e Silas foram enviados a Corinto para servir a
igreja. Posteriormente, Paulo enviou o jovem pastor de Éfeso a Corinto (1 Co
4.17; 16.10). A despeito dos problemas que essa igreja possuía, é digno de
menção a forma utilizada por Paulo ao dirigir esta sua nova carta a Corinto:
a) “À igreja de Deus que está em
Corinto” (v.1). Apesar
dos falatórios dos rebeldes da igreja de Corinto contra o apóstolo, ele tratou
a igreja como um todo, como parte da Igreja universal. Por isso, a denomina
“igreja de Deus”. Não havia templos construídos naqueles primeiros tempos do
cristianismo; a igreja reunia-se em casas particulares ou ao ar livre. Note que
Paulo não está se dirigindo a uma casa, mas “à igreja de Deus que está em
Corinto”.
b) “... Todos os santos que estão em
toda a Acaia” (v.1). Os
romanos haviam dividido a Grécia em duas grandes províncias; ao sul, Acaia e,
ao norte, Macedônia. Corinto era a capital da Acaia ao sul, onde residia o
procônsul romano (At 18.12).
O
apóstolo acrescenta à sua saudação um apêndice tipicamente neotestamentário:
“os santos que estão em toda a Acaia”. Os crentes são tratados como “santos”
porque, independentemente da sua estatura espiritual, haviam sido separados da
vida mundana para formar o povo de Deus, a Igreja.
O apostolado paulino e a vontade
de Deus (1.1). Àqueles
rebeldes que incitavam os cristãos de Corinto contra seu apostolado, Paulo não
receou identificar-se como tal, porque esse título não resultou de uma
autoatribuição ou autonomeação, mas foi-lhe outorgado pela vontade de Deus, que
sabia quem era Paulo e, por meio de sua soberania, o chamou e o comissionou
para essa obra. No autêntico e bíblico ministério cristão, só há lugar para os
que são chamados literalmente pelo Senhor. Paulo explica seu apostolado da
parte de Jesus Cristo usando a expressão “pela vontade de Deus”, justamente
para enfatizar a origem de sua vocação e de sua posição de apóstolo (Gl 1.15).
Sua saudação especial (v.2). O apóstolo utiliza
a palavra “paz”, típica nas saudações dos judeus (hb. shālôm), e a acrescenta à
graça que é charis, em grego. A “graça” é a demonstração
do favor soberano de Deus mediante o ato salvífico de Jesus no Calvário. Essa
graça especial promoveu a paz que não havia entre Deus e o homem (Rm 5.1; Ef
2.14-17). Por isso, a Igreja é o conjunto universal de judeus e gentios,
redimidos pelo sangue de Jesus, onde não pode haver discriminação alguma. Graça
e paz são dádivas, tanto do Pai como do Filho.
Para
os rebeldes que incitavam os cristãos de Corinto contra o apostolado de Paulo,
ele não receou identificar-se como tal, porque esse título não resultou de uma
autonomeação, mas foi-lhe outorgado pela vontade de Deus e, portanto, está
diretamente relacionado à soberania do Eterno, que sabia quem era Paulo e, por
isso, o chamou e o comissionou para essa obra.
AFLIÇÃO E CONSOLO (1.3-7)
Paulo, sua fé e gratidão. A seguir, o
apóstolo agradece a Deus usando a seguinte expressão: “Bendito seja o Deus e
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”. Tal forma de expressar-se fala de sua
gratidão a Deus e também comunica uma riqueza doutrinária. Deus é aqui revelado
como "o Pai das misericórdias", indicando que esse Deus Todo-Poderoso
é aquEle que nos perdoa. Suas misericórdias são expressões do seu caráter justo
e santo, que pune o erro, mas se compadece do pecador arrependido (Sl
103.13-18).
O consolo divino e o consolo
comunitário. Deus
Pai não é apenas um Deus que se compadece de nós em nossas tribulações, mas
aquEle que alivia nossos sofrimentos com o bálsamo da consolação do seu
Espírito (At 9.31), pois é o "Deus de toda consolação" (2 Co 1.3). A
força da palavra "consolação" (gr. paraklēsis), neste versículo,
está no termo grego paraklētos("advogado",
"consolador"), utilizado no Novo Testamento em relação à Pessoa do
Espírito Santo como “o outro consolador”, prometido por Jesus antes de ascender
aos céus (Jo 14.16; 16.13,14).
No
versículo 4, Paulo dá testemunho do consolo divino, afirmando que Deus “nos
consola em toda a nossa tribulação”, em uma clara referência às suas várias
lutas vividas naqueles dias ante as perseguições e calúnias que sofrera.
Na
sequência, o apóstolo esclarece que o consolo que recebemos de Deus, em meio
aos sofrimentos, serve de bênçãos para nós mesmos e para os outros, uma vez que
aprendemos a lidar com as circunstâncias e nos tornamos canais de consolo
divino para os outros. Na verdade, a Bíblia fala-nos aqui da responsabilidade
do crente em relação aos seus irmãos em Cristo, quando enfrentam tribulações,
lutas, sofrimentos e dificuldades.
A aflição na experiência cristã
(vv.5,6). Aflição
é uma palavra bíblica que anula o falso conceito da Teologia da Prosperidade,
segundo a qual o crente santo e fiel não passa por dificuldades (Jo 16.33). Os
sofrimentos e provações que enfrentamos produzem perseverança e esperança (Rm
5.3,4). As aflições são inevitáveis em nossa vida, porém, o consolo divino -
bem como o apoio dos nossos irmãos - vem como um rio caudaloso trazendo
refrigério e descanso.
Deus
Pai não é apenas um Deus que se compadece de nós em nossas tribulações, mas
aquEle que alivia nossos sofrimentos com o bálsamo da consolação do seu
Espírito, pois é o “Deus de toda a consolação”.
AMARGURA E LIBERTAÇÃO (1.8-11)
Paulo enfrenta uma terrível
tribulação (v.8). O
apóstolo passou por uma tribulação esmagadora na Ásia; talvez em Éfeso, a
capital da província (At 19.22-28). Nenhum servo de Deus está livre dessas
experiências. Ameaças de morte não faltaram em todo o ministério paulino. O que
chama a atenção no texto é que a aflição sofrida foi tão forte que Paulo a
considerou algo superioras suas forças. A despeito da tenacidade desse homem,
sua estrutura emocional era humana e limitada, e ele parecia não encontrar
saída para escapar ao problema. Entretanto, Paulo entendeu que essa era uma
prova em que ele deveria confiar, não em suas próprias forças, mas em Deus que
“ressuscita os mortos” (v.9).
Paulo confia em Deus para sua
libertação (v.10). O
texto diz: “o qual nos livrou de tão grande morte e livrará; em quem esperamos
que também nos livrará ainda”. A expressão “tão grande morte” indica que o seu
fim parecia-lhe inevitável, mas Deus o livrara. A experiência dava-lhe consolo
e ânimo para, em todas as situações, crer e esperar em um Deus que é também o
nosso Pai amoroso.
Paulo confiou em Deus e foi
liberto (v.11). O
apóstolo agradece a Deus pelo livramento e apela à igreja de Corinto que ore e
interceda pelos seus ministros. Assim, ela também terá motivos para glorificar
ao Senhor pelo livramento que dará aos seus servos. Não existem limites para o
poder da oração intercessória em nome de Jesus.Paulo enfrenta uma terrível
tribulação, mas confia em Deus e recebe o livramento.
Aprendemos
que o cristão passa por muitas aflições, mas o Senhor sempre o ajuda a
enfrentá-las. Ele está conosco, antes, durante e após as provações. O Senhor
Jesus Cristo não nos desampara nunca (Mt 28.20).
“A
palavra Thlipsis, traduzida como
‘tribulação’ e ‘aflição’, é frequentemente usada no Novo Testamento para
descrever intensa aflição espiritual e emocional, causada por pressões externas
ou internas. Todo ser humano que vive ou que já viveu é/foi vulnerável, pois
nenhum de nós pode exercer controle sobre as circunstâncias da vida.Esta
realidade é expressa mais fortemente na palavra usada na passagem sobre
sofrimento, pathema. Na cultura grega,
esta raiz expressa a visão comum de que a humanidade é afligida, forçada a
suportar experiências além do controle humano, que também causam grande
angústia física e mental. Basicamente, a raiz é usada para sofrimento e
aflição. Em primeiro lugar, Paulo sente que Deus é a fonte do consolo ou do
encorajamento.
Em
segundo lugar, tais pressões ensinaram a Paulo uma lição vital. Ele precisa
confiar em Deus, não em si mesmo e em sua capacidade. Assim, ao invés de
permitir que as pressões o levem a desistir, Paulo olha na frente com
‘esperança’ (1.10). Esta palavra, ‘esperança’ (elpizo) é utilizada 70 vezes
nas epístolas do NT, onde sempre representa a expectativa em relação a algo
bom. Se pensarmos apenas no presente, e nas dificuldades sob as quais vivemos,
poderemos ficar presos a desespero permanente. Porém, Paulo nos lembra que
devemos pensar no amanhã com grande expectativa e confiar em Deus”.Notas
(RICHARDS L. O. Comentário Histórico-Cultural do Novo
Testamento. 1.ed.
RJ: CPAD, 2007, p.370)
A Consolação Através de Cristo (1.3-7).Uma atitude típica de
Paulo (cf. Rm 15.1-7; 1 Co 1.18-31; 4.9,10; Fp 2.5-11), e particularmente
característica dessa carta é o intercâmbio entre as experiências opostas em
Cristo. Aqui existe um intercâmbio entre a consolação e a aflição, que está
permeando as palavras de ação de graças de Paulo. O pensamento que une estes
dois opostos são as aflições de Cristo, pois Paulo está descrevendo seus
próprios sofrimentos em relação aos sofrimentos do nosso Senhor.
Aquele
a quem o apóstolo louva como ‘o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo’, ele
também experimentou como Pai das misericórdias (Sl 103.12) e o Deus de toda
consolação. A continuidade usada por Paulo para enfatizar essa repetição
invertida de Deus e Pai está na essência do seu conceito de Divindade. O Pai
das misericórdias, como o Deus de toda consolação, consola Paulo e, dessa
forma, permite que ele console os outros. Ele é o ‘Deus e Pai’ daquele cujas
aflições... são abundantes em nós (5). O Pai é o Deus de nosso Senhor Jesus
Cristo (3). A consequência de Jesus ter se tornado verdadeiramente humano (Jo 1.14;
Hb 2.14) foi que se tornou necessário que Ele vivesse em completa dependência
de Deus quanto à sua força espiritual (Mc 15.34). Deus é o Pai de Jesus Cristo,
pois Jesus também era o divino Filho, que vivia em perfeita obediência ao seu
Pai (Jo 5.30). A chave para a perspectiva de Paulo é a verdadeira obediência de
Deus como homem, até mesmo para sofrer e morrer pela humanidade (Fp 2.8; Hb
5.8).
Porque
as aflições de Paulo estão tão essencialmente relacionadas aos sofrimentos de
Cristo, que a sua consolação sobeja por meio de Cristo (5) para os coríntios. O
pensamento de Paulo foi bem expresso pela tradução de Phillips. ‘Na verdade, a
experiência mostra que quanto mais participantes do sofrimento de Cristo, mais
seremos capazes de dar esse encorajamento’. Dessa forma, tanto as aflições como
as consolações de Paulo foram por amor aos coríntios (4.15; 12.15), cujos
sofrimentos são iguais aos seus. Assim como eles participam dos sofrimentos —
que representam a porção de Paulo como servo de Cristo — eles serão capazes de
compartilhar, na mesma medida, a consolação que encontra a sua fonte em Cristo.
Esta consolação, como Filson interpreta, ‘é mais do que uma consolação na
tristeza ou na provação, ela inclui o encorajamento e implica dom divino da
força para enfrentar e vencer as crises da vida’”.Nota (Comentário
Bíblico Beacon. Volume
8: Romanos a 1 e 2 Coríntios. RJ: CPAD, 2005, pp.405-6)
A glória do ministério cristão
2 Coríntios 1.12-14,21,22; 2.4,14-17.
2 Coríntios 1
12 - Porque a nossa glória
é esta: o testemunho da nossa consciência, de que, com simplicidade e
sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus, temos
vivido no mundo e maiormente convosco.
13 - Porque nenhumas outras
coisas vos escrevemos, senão as que já sabeis ou também reconheceis; e espero
que também até ao fim as reconhecereis,
14 - como também já em
parte reconhecestes em nós, que somos a vossa glória, como também vós sereis a
nossa no Dia do Senhor Jesus.
21 - Mas o que nos confirma
convosco em Cristo e o que nos ungiu é Deus,
22 - o qual também nos
selou e deu o penhor do Espírito em nossos corações.
2 Coríntios 2
4 - Porque, em muita
tribulação e angústia do coração, vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que
vos entristecêsseis, mas para que conhecêsseis o amor que abundantemente vos
tenho.
14 - E graças a Deus que
sempre nos faz triunfar em Cristo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar o
cheiro do seu conhecimento.
15 - Porque para Deus somos
o bom cheiro de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem.
16 - Para estes,
certamente, cheiro de morte para morte; mas, para aqueles, cheiro de vida para
vida. E, para essas coisas, quem é idôneo?
17 - Porque nós não somos,
como muitos, falsificadores da palavra de Deus; antes, falamos de Cristo com
sinceridade, como de Deus na presença de Deus.
Palavra Chave. Autêntico: Do
grego authentikós;
genuíno, legítimo.
Após
render graças a Deus pela libertação divina que tivera na Ásia (1.8-11), Paulo
agora segue, a partir do versículo 12, fazendo uma defesa de sua conduta aos
irmãos de Corinto. Ele precisou mudar seu roteiro de viagem, levando alguns,
por isso, a acusá-lo de não haver cumprido com a sua palavra. As acusações
contra ele tinham por objetivo arruinar sua credibilidade perante a igreja
coríntia. Porém, o apóstolo estava ciente de que havia pessoas sinceras e
amorosas que o conheciam e estavam seguras de sua sinceridade no trato com a
igreja.
O MINISTÉRIO APOSTÓLICO DE PAULO
(1.12-22)
Confiabilidade, a garantia do
ministério (1.12-14). Paulo
havia desistido da viagem a Corinto pela terceira vez, e os irmãos coríntios,
influenciados por alguns opositores, começaram a alegar que, tal atraso, não
passava de displicência do apóstolo. A conclusão é que ele não era confiável.
Entretanto, nos versículos 3 a 11, o apóstolo é confortado com o fato de que os
próprios coríntios podiam testificar acerca de sua postura moral, espiritual e
ministerial.
A força de sua consciência (1.12). Paulo era um
homem tão íntegro e tinha um caráter tão firme que, diante de tais acusações,
apela para a sua consciência como testemunho de sua sinceridade nas ações de
seu ministério. Para ele, a consciência significava o seu senso de
autoavaliação moral que, com certeza, o denunciaria se ele fosse culpado. Paulo
declara, sem medo, que ministrava aos crentes coríntios com “simplicidade e
sinceridade de Deus”. Dessa forma, as críticas contra seu ministério, ainda que
infundadas, eram suportáveis em face da paz de consciência de que gozava.
A autenticidade ministerial
(1.18-22). No
versículo 18, Paulo diz: “Antes, como Deus é fiel, a nossa palavra para
convosco não foi sim e não”. Em essência, ele argumenta que suas mensagens não
eram vacilantes e que não oscilavam entre sim e não. O apóstolo então apela, de
forma incisiva, afirmando que ele e seus companheiros de ministério eram fiéis.
Para confirmar o seu testemunho perante a igreja coríntia, Paulo diz que o
Jesus que eles pregavam não era “sim e não”, mas “sim”. Qual era a garantia da
integridade da mensagem? No versículo 21, ele declarou que a confirmação do seu
ministério e o de seus companheiros era a unção que haviam recebido de Deus. Logo
a seguir, no versículo 22, Paulo declara que eles foram selados e receberam “o
penhor do Espírito Santo”. O “selo” é um elemento que denota posse e
autenticidade num documento. Em nossos tempos, denominamos carimbos ou
autenticações, os instrumentos investidos de poder que imprimem marcas de
propriedade e garantia. Em Cristo, os crentes são selados com o Espírito Santo,
tornando-se propriedade exclusiva do Senhor (Ef 1.13,14).
Paulo
era um homem tão íntegro e tinha um caráter tão firme que, diante das acusações
contra a sua vida, ele apela para a sua consciência pessoal como testemunho de
sua sinceridade nas ações de seu ministério.
A ATITUDE CONFIANTE DE PAULO EM
RELAÇÃO À IGREJA (1.23-2.13)
Razões da mudança de planos da ida
de Paulo a Corinto (1.23-2.4).Nestes versículos, o apóstolo continua
preocupado em justificar as razões que o levaram a desistir de visitar a igreja
em Corinto naquela oportunidade. Ele declara que não se tratava de qualquer
tipo de capricho, orgulho, covardia e muito menos conveniência pessoal, mas sim
o fato de evitar constrangimento maior em face da linguagem forte de disciplina
contra alguém que havia pecado, maculando a santidade da igreja. Como essa
pessoa era apoiada pelos opositores de Paulo, ele quis poupar a congregação do
exercício desagradável de sua autoridade apostólica, que certamente provocaria
ainda mais os humores negativos dos rebeldes no seio da igreja e entristeceria
os demais. Paulo estava triste e não queria visitá-los em angústia e tristeza
(2.2-4), mas queria que todos entendessem que era necessário que o tal pecador
se arrependesse e fosse perdoado com todo o amor da igreja, a fim de que não
fosse “devorado de demasiada tristeza” (2.6-8).
O perdão ao ofensor arrependido e
a disciplina eclesiástica (2.5-11). Segundo o texto indica, Paulo
deparou-se com um opositor, que o ofendeu e incitou os coríntios a rejeitarem
sua autoridade apostólica para o exercício da disciplina ao membro infrator.
Essa atitude ganhou adeptos e Paulo ficou muito triste e ofendido (2.4). Os
líderes da igreja não tiveram forças para disciplinar tal membro, apesar de ela
ter, em sua maioria, percebido que era necessário obedecer a orientação de
Paulo (2.6). A rigidez do apóstolo provocou contenda, e isto o obrigou a
abrandar sua atitude, preocupando-se com a recuperação do ofensor (2.6-11).
O
apóstolo, embora severo, era agora capaz de orientar a igreja a que perdoasse o
ofensor, caso este demonstrasse arrependimento. A igreja não pode deixar de
administrar a disciplina aos que cometem pecado, para que não haja contaminação
dos demais. Isto é, a punição do pecado é inevitável, entretanto, o tratamento
com o pecador deve ser feito com atitude corretiva, terapêutica e restauradora,
visando proporcionar-lhe o arrependimento e o recomeço da vida cristã.
Lamentavelmente, em nome do zelo espiritual, tem-se cometido muitas injustiças,
típicas dos fariseus, para criticar e censurar sem misericórdia os faltosos. O
objetivo de Paulo, contudo, era levar estes a se arrependerem de seus pecados e
a retornarem à plena comunhão com a Igreja de Cristo.
A confiança de Paulo no triunfo da
Igreja. Nos
versículos 12 e 13, Paulo está ansioso por ter notícias de Tito, seu fiel
companheiro na batalha pelo Evangelho. Percebe-se uma mistura de sentimentos em
seu coração: o cuidado com os companheiros, dos quais não tinha notícias e as
“portas” que se abriam para a pregação do Evangelho (2.13). O apóstolo dos
gentios interrompe sua preocupação com a chegada de Tito e parte para um
assunto que abrange não só a igreja em Corinto, mas as igrejas da Macedônia, de
Filipos e Tessalônica, pelas quais ele tinha grande gozo e gratidão. Paulo
expressa sua gratidão a Deus por essas comunidades de fé, uma vez que vislumbra
o triunfo da Igreja como o cortejo de um exército vitorioso que entra na cidade
de cabeça erguida (v.14). A linguagem de Paulo é agora de alegria e felicidade,
porque, ao contrário da lembrança deprimente e triste anterior, agora o
apóstolo transborda de gratidão a Deus.
A
igreja não pode deixar de administrar a disciplina aos que cometem pecado, para
que não haja contaminação dos demais, entretanto, o tratamento com o pecador
deve ser feito com atitude corretiva, terapêutica e restauradora, visando
proporcionar-lhe o arrependimento e o recomeço da vida cristã.
PAULO SE PREOCUPA COM OS
FALSIFICADORES DA PALAVRA DE DEUS (2.14-17)
A visão do triunfo do Evangelho no mundo
(2.14). Em
algumas versões a palavra “triunfo” dá a ideia de um cortejo militar, onde um
general vitorioso conduz seu exército numa marcha triunfal entrando na capital
do império. O general traz seus prisioneiros de guerra e exibe-os diante do
povo, que assiste ao grande cortejo. Segundo os estudiosos, o povo queimava
incensos e exalava fragrâncias variadas de flores, enchendo o ar daquele agradável
cheiro. Dessa mesma forma, Paulo contemplava a força da mensagem do Evangelho.
Somos o bom cheiro de Cristo (v.15). O texto diz
literalmente: “Porque para Deus somos o bom cheiro de Cristo”. O que Paulo
estava dizendo à igreja de Corinto era que ele e seus companheiros de
ministério eram os agentes que espalhavam a perfumada fragrância de Cristo por
onde andavam. Esse aroma emana de Cristo, e na linguagem do Novo Testamento
significa um sacrifício como oferta agradável a Deus. Os sofrimentos sugerem,
figurativamente, a queima de ramos que exalam bom cheiro, assim como o incenso
e outras especiarias do altar de incenso no Tabernáculo. Tipologicamente, a
fragrância, que emana do sacrifício de Cristo no Calvário, sobe às narinas
divinas para honrar ao Senhor. O texto ainda diz que para alguns a pregação do
Evangelho é cheiro de morte, para outros é cheiro de vida (v.16). Morte por
rejeitarem a mensagem, e vida por aceitarem a Cristo e sua Palavra (1 Co 1.18).
A ameaça dos falsificadores da
Palavra de Deus (2.17). A palavra “falsificadores” pode ser entendida
como “mercadores” porque tais homens não tratam a Palavra de Deus como a
revelação divina, mas como uma mercadoria, um produto de mercado que pode ser
vendido e manipulado. Paulo usa a palavra gregakapeleuiein, que se refere ao
negociante que procura lucrar injustamente. Pregadores mercadores são aqueles
que oferecem um Evangelho de imitação, corrompido, o qual ilude aos
interessados. No capítulo 11.13, Paulo condena os falsos apóstolos que torciam
o Evangelho para tirar proveito próprio em detrimento dos demais. O apóstolo
denuncia essas distorções do Evangelho que visavam apenas enganar o povo de
Deus (2 Co 4.2). Porém, declara com toda a sua alma que falava de Cristo com
sinceridade na presença de Deus (v.17).
Pregadores
mercadores são aqueles que oferecem um evangelho de imitação, corrompido, o
qual ilude aos interessados. No capítulo 11.13, Paulo condena os falsos
apóstolos que torciam o Evangelho para tirar proveito próprio em detrimento dos
demais.A glória do ministério cristão está na simplicidade e sinceridade com
que se prega o Evangelho. Motivos falsos produzem resultados falsos, por isso,
todos os motivos do apóstolo Paulo e de seus companheiros eram o de expandir o
Reino de Deus por toda a terra para a glória única do Senhor Jesus.
“1.
Paulo considera seus adversários como ‘falsos apóstolos’ (11.13). As bases
sobre as quais faz este julgamento são claras. Existe somente um evangelho
apostólico verdadeiro (cf. Gl 1.6-8), e estes homens não o estavam pregando.
[...] Além disso, o caráter interior do ministério dos adversários, como um
todo, era estrangeiro e desigual ao de Paulo [que] viu em seus adversários a
negação de uma identificação consciente com a fraqueza e os sofrimentos de
Cristo (11.23-33; 12.7-10) 2. Paulo vê seus adversários como enganadores.
Apresentavam um evangelho estranho e um Jesus estranho, tendo o objetivo de
enganar os Coríntios e afastá-los de uma fé simples e pura no Senhor Jesus
(11.33. Paulo descreve seus adversários como ‘carnais’ ou ‘mundanos’, [...]
(1.17; cf. 5.17), e condena a vanglória orgulhosa de seus adversários
classificando-a como estando de acordo com o modo de agir do mundo (ou ‘da
carne’, cf. 11.18), mesmo quando sarcasticamente ilustra esta carnalidade por
meio de suas próprias ostentações”.Notas (Comentário Bíblico
Pentecostal Novo Testamento. 2.ed. RJ: CPAD, 2004, p.1073)
“Guiado e Enviado por Deus
2.14-17. Paulo
divaga para defender seu ministério (incluindo o dos seus companheiros). Embora
não tivesse uma visão ou palavra direta de Deus para ir à Macedônia, como teve
em sua viagem anterior (a segunda, At 16.9,10), ele sabia que Deus sempre o
estava guiando e também à sua equipe, pelo que dá graças a Deus. Alguns
escritores interpretam que o ‘triunfar’ tem a ideia de procissão triunfal tendo
como chefe o ressurreto e ascendido Cristo, conduzindo em vitória os cativos
pelo triunfo de sua redenção e dando-lhes como dons à Igreja (Ef 4.7,8,10-13).
A ideia de procissão triunfal não significa que Paulo estava se sentindo
triunfante. Scott Hafmann considera 2 Coríntios 2.14 a 3.3 como parte do
‘coração teológico’ de 2 Coríntios. Ele interpreta que ‘nos faz triunfar’
(gr. tbriambeuonti) para descrever um
general romano em procissão triunfal de suas tropas. Pondo em exibição os
inimigos por ele conquistados à medida que os conduz à morte. Como ex-inimigo
de Cristo, Paulo estava sendo conduzido por Jesus à morte. Ao conduzi-lo, o
propósito de Cristo era revelar-se. Sofrimento e fraqueza eram essenciais ao
plano de Deus para disseminar o Evangelho.
Assim,
Paulo estava sendo esmagado como pétalas de rosa para extrair a fragrância.
Todas as dificuldades de Paulo só lhe tornavam possível mostrar o ‘cheiro
do conhecimento [de Cristo]’ (o qual hoje encontramos na Bíblia) em todas
as pessoas e em todos os lugares que fosse. Ele se tornou a doce fragrância de
Cristo dirigida a Deus entre os que ‘se salvam’ e os que ‘perecem’, perdidos,
encaminhados à morte eterna. Isto quer dizer que Paulo deu a mesma mensagem a
todos, mas cada um teve de fazer uma escolha. Para alguns, tornou-se cheiro de
vida que trouxe vida, para outros, cheiro de morte que os condenou à morte
eterna. Ao perguntar ‘para essas coisas, quem é idôneo?’, Paulo quis dizer que
estes resultados não vieram por causa de sua suficiência, competência,
qualificações ou mérito. Ninguém pode produzir tais resultados por ser quem é
ou por aquilo que é. Eles aparecem por causa da soberania de Cristo, de quem
Ele é. Quando estamos fazendo sua obra, nossa suficiência é de Deus”.Nota
(HORTON, S. I & II Coríntios: Os Problemas da
Igreja e suas Soluções.1.ed. RJ: CPAD, 2003, pp.193-94)
A glória das duas alianças
2 Coríntios 3.1-11.
1 - Porventura, começamos
outra vez a louvar-nos a nós mesmos? Ou necessitamos, como alguns, de cartas de
recomendação para vós ou de recomendação de vós?
2 - Vós sois a nossa
carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens,
3 - porque já é manifesto
que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós e escrita não com tinta, mas
com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do
coração.
4 - E é por Cristo que
temos tal confiança em Deus;
5 - não que sejamos
capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa
capacidade vem de Deus,
6 - o qual nos fez também
capazes de ser ministros dum Novo Testamento, não da letra, mas do Espírito; porque
a letra mata, e o Espírito vivifica.
7 - E, se o ministério da
morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos
de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do
seu rosto, a qual era transitória,
8 - como não será de maior
glória o ministério do Espírito?
9 - Porque, se o
ministério da condenação foi glorioso, muito mais excederá em glória o
ministério da justiça.
10 - Porque também o que
foi glorificado, nesta parte, não foi glorificado, por causa desta excelente
glória.
11 - Porque, se o que era
transitório foi para glória, muito mais é em glória o que permanece.
Palavra Chave. Nova aliança: Providência
divina pela qual Deus estabeleceu um novo relacionamento de responsabilidade
entre Si mesmo e o seu povo.
Havia
um conhecimento da parte dos coríntios acerca de Paulo, que substituía qualquer
documento comprobatório de seu apostolado. Paulo fundara aquela igreja durante
a primavera do ano 50 d.C., permanecendo na cidade, inicialmente, por 18 meses
(At 18.1,8-11). Os irmãos reuniam-se em casas particulares como a de Tito Justo
(At 18.7), e então, começaram a surgir os primeiros líderes daquela igreja (1
Co 1.1,14; 16.17). Esta se fortaleceu, e Paulo teve o cuidado de enviar-lhe
obreiros experientes como Timóteo, Silas e Apolo, a fim de a confirmarem
doutrinariamente (At 18.5,27,28).
O
pai espiritual da comunidade cristã de Corinto era Paulo, não havendo
necessidade de qualquer carta de recomendação vinda de Jerusalém. Entretanto, o
apóstolo deparou-se com uma forte oposição, que colocava em dúvidas a
legitimidade de seu ministério. Ele então apresenta uma justificativa que se
constitui na maior e melhor recomendação que existe: o ministério que recebeu
diretamente de Jesus Cristo e o modo como cumpria tal chamada. A prova de sua
aprovação apostólica era a própria existência da igreja coríntia (v.2).
PAULO JUSTIFICA SUA
AUTORRECOMENDAÇÃO (3.1,2)
A recomendação requerida (3.1). Era hábito dos
judeus que viajavam com frequência, levarem cartas de recomendação para que,
assim, ao chegar a lugares onde não eram conhecidos, pudessem ser hospedados
durante o período em que ali estivessem. Imagine o fundador da igreja,
conhecido de todos, ter de cumprir a exigência de ser portador de “cartas de
recomendação”, apenas para satisfazer o espírito opositor que dominava alguns
judeus-cristãos, que estavam com dúvidas acerca da autenticidade do seu
apostolado! Algo injustificável.
Paulo defende sua autorrecomendação
(3.1). Todos
em Corinto sabiam que Paulo, mesmo não tendo sido um dos doze que estiveram com
Jesus, recebera um chamado de Cristo para ser apóstolo. Seu testemunho pessoal
era a prova concreta de que não lhe era necessário nenhuma recomendação. Seus
sofrimentos por Cristo evidenciavam seu apostolado entre os gentios e,
especialmente, em Corinto, dispensando, portanto, qualquer tipo de recomendação
por escrito. No texto de 2 Coríntios 5.11, o apóstolo Paulo faz uma defesa de
sua atitude dizendo que “o temor que se deve ao Senhor” lhe dava condições de
se autorrecomendar, porque a sua vida e ministério eram manifestos na
consciência de cada um daqueles crentes. A atitude paulina não tinha por
objetivo ofender a ninguém, mas baseava-se na confiança do conhecimento que os
coríntios tinham da sua pessoa e ministério.
A mútua e melhor recomendação (3.1). Na parte “b” do
versículo 1, Paulo questiona: “[...] necessitamos, como alguns, de cartas de
recomendação para vós ou de recomendação de vós?” Tal questionamento é
retórico, pois apela para uma reciprocidade que havia entre ele e a igreja, a
qual dispensava a recomendação de Jerusalém requerida por alguns opositores do
seu ministério, uma vez que ele o havia desenvolvido entre os coríntios. O
apóstolo, por sua vez, via-se como insignificante, mas os coríntios eram o seu
verdadeiro louvor e glória. Assim, nem os coríntios precisavam de recomendação
escrita, porque, dizia: “vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações,
conhecida e lida por todos os homens” (v.2). A maior e melhor recomendação que
um servo de Cristo pode ter é a evidência do seu ministério no coração e na
vida daqueles que foram por ele alcançados para o Senhor Jesus. Quando Paulo
diz aos coríntios que sua carta de recomendação foi escrita no coração deles,
pelo próprio Cristo, “não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo” (vv.2,3),
a preocupação maior de Paulo era referendar como verdadeiro o caráter do seu
ministério apostólico (2 Co 3.6).
Paulo,
mesmo não tendo sido um dos doze que estiveram com Jesus, recebera um chamado
de Cristo para ser apóstolo. Seu testemunho pessoal era a prova concreta de que
não lhe era necessário nenhuma recomendação.
A CONFIANÇA DA NOVA ALIANÇA
(3.4-11)
A suficiência que vem de Deus. Após fazer a
defesa de sua autorrecomendação perante os coríntios, Paulo usa a figura
metafórica da lei escrita em tábuas de pedra, pelo próprio Deus (Êx 31.18; Dt
5.22), e a compara à nova lei, o novo pacto, predito pelos profetas, que
afirmaram que Deus a escreveria no coração do seu povo (Jr 31.31-34). Os dois
pactos são provenientes de Deus, mas o segundo é superior, porque veio mediante
a pessoa de Jesus Cristo, que consumou todas as coisas do Antigo Pacto, em um
único ato sacrificial (Hb 7.27; 12.24; 1 Pe 1.2).
A distinção entre as duas Alianças
(3.6). Paulo
mostra aos coríntios que a “velha lei” ou o “velho pacto” tinha em seu conteúdo
a sentença de morte sobre o moralmente culpado, por isso, a Antiga Aliança era
da “letra”: gravado com letras em pedras (2 Co 3.7). A Nova Aliança é do
“Espírito”, e ministrada por Ele (v.8), pois é um ministério da justiça (v.9),
o qual vivifica (v.6) e é permanente (v.11). A Antiga Aliança era de
condenação; a nova é de justiça e salvação (v.9). O Antigo Pacto veio por
Moisés; o novo veio por Cristo (At 20.28; Hb 9.12; 7.27; 12.24).
A “letra” que mata (3.6). Por muito tempo,
a má interpretação desse texto provocou receio quanto ao estudo secular e mesmo
o teológico. Entretanto, como já ficou claro, tal passagem não se refere ao
estudo, mas à aplicabilidade das sanções, sentenças e penalidades da lei
mosaica que, contrastava-se com o Novo Concerto, o qual tem como propósito
único vivificar e absolver.A Antiga Aliança era de condenação; a Nova é de
justiça e salvação (v.9). A Antiga Aliança veio por Moisés; a Nova veio por
Cristo (At 20.28; Hb 9.12; 7.27; 12.24).
A GLÓRIA DA NOVA ALIANÇA (3.7-18)
A superioridade da Nova Aliança
sobre a Antiga Aliança (3.7-12).Quando Paulo fala das alianças, ele
utiliza paralelos entre a Antiga e a Nova, a fim de esclarecer os crentes
quanto às diferenças entre o que era transitório e o que é permanente; entre a
lei que condenava e a que liberta. A glória do Antigo Pacto era passageira
porque trazia à tona a realidade do pecado, sua maldição e condenação. O Novo
Pacto demonstrou outra característica da glória de Deus, o seu poder
misericordioso para salvar e dar vida. A glória do Primeiro Concerto revelou o
ministério da morte, porque condenava e amaldiçoava todo aquele que não cumpria
a lei, mas a glória do Segundo Concerto revelou o ministério da vida e da graça
de Deus. Por isso, a glória do evangelho é superior à da lei.
A glória com rostos desvendados
(3.13-16). Quando
Paulo usa a figura da glória resplandecente da face de Moisés, ele reforça o
fato de que tal glória teve que ser coberta com véu e que se desvaneceu com o
tempo, portanto, era transitória. Porém, a glória da Nova Aliança manifestou-se
descoberta, sem véu, porque Cristo a revelou no Calvário. Trata-se da liberdade
que temos mediante a obra expiatória de Cristo.
A liberdade do Espírito e a nossa
permanente transformação (3.17,18). A liberdade do Espírito livrou-nos
das amarras das tradições religiosas, que nos impediam de um relacionamento
direto com o Senhor. Tal relacionamento é fundamental para que possamos ser
transformados e conformados à imagem do homem perfeito e completo: Jesus Cristo
(Rm 8.29; Ef 4.13).A glória da Primeira Aliança revelou o ministério da morte,
porque condenava e amaldiçoava todo aquele que não cumpria a lei, mas a glória
da Segunda Aliança revelou o ministério da vida e da graça de Deus. Por isso, a
glória do Evangelho é superior à da lei.
Hoje,
a glória que reflete em nossa vida não é a dos rostos, mas é aquela glória
interior, que reflete a transformação na semelhança de Cristo, de forma
gradual, de glória em glória, mediante a presença do Espírito de Cristo em cada
um de nós.
“A Nova Aliança.A próxima aliança
incondicional entre Deus e Israel é a Nova Aliança. Esta aliança é nova porque
substituiu a antiga, ou seja, a Aliança Mosaica. Uma vez que Israel foi incapaz
de cumprir a aliança mosaica, Deus, graciosamente, prometeu dar-lhes uma nova
aliança e um novo coração para obedecerem a Deus. Esta aliança está registrada
em Jeremias 31.31-34.
Primeiro,
observe que Deus firma esta aliança ‘com a casa de Israel e com a casa de
Judá’, expressão que claramente se refere à nação ética de Israel. Em segundo
lugar, a frase ‘não conforme o concerto que fiz com seus pais, no dia em que os
tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito’ volta a restringir o concerto
aos descendentes físicos de Abraão, Isaque e Jacó. Em terceiro lugar, esta
aliança visa a uma futura restauração do povo não apenas como povo de Deus, mas
como um povo perdoado e regenerado, que serve ao Senhor. Quando foi
crucificado, o Senhor Jesus Cristo estabeleceu uma Nova Aliança.[...]. As
alianças firmadas entre Deus e Israel no Antigo Testamento garantiam que Israel
teria um reino eterno na terra que Deus prometera a Abraão. Embora Deus
repetidamente os alertasse de que seriam expulsos por causa da desobediência,
Ele, ao mesmo tempo, prometia devolver-lhes a terra, onde serviriam como seu
povo e sob o governo do Messias”.Notas (LAHAYE, T. Enciclopédia
Popular de Profecia Bíblia. 1.ed. RJ: CPAD, 2008, p.35)
“A Glória do Novo Concerto
(3.7-18).Nós
somos imediatamente surpreendidos pelo uso constante que Paulo faz da palavra
‘glória’, que aparece 12 vezes nestes 11 versículos. O Antigo Concerto tinha
glória própria, mas o Novo Concerto tem glória maior. Antes de examinar os
contrastes que Paulo desenvolve entre o Antigo e o Novo Concerto, é útil
entender o significado de ‘glória’. Sobre este termo, o Zondervan
Expository Dictionary of Biblie Words diz: ‘No Antigo Testamento, a
glória de Deus está intimamente ligada à auto-revelação do Senhor. Há muitas
imagens: esplendor fulgurante, e santidade flamejante que marcam sua presença
(por exemplo, Êxodo 16.10; 40.34,35; 2 Crônicas 7.1,2). Mas, nenhum poder
elementar ou santidade flamejante expressam a Deus de maneira absolutamente
adequada. Desta forma, o Êxodo relaciona a glória de Deus com revelação de seu
caráter amoroso. Quando Moisés implorou para que Deus lhe mostrasse sua glória,
a Bíblia relata: ‘Ele disse: Eu farei passar toda a minha bondade por diante de
ti e apregoarei o nome do Senhor diante de ti; e terei misericórdia e me
compadecerei de quem me compadecer. E disse mais: Não poderás ver a minha face,
porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá’ (Êx 33.19,20). Com o mesmo
sentido de revelação, Deus diz: ‘serei glorificado’, no caso da recusa do Faraó
em deixar que Israel saísse do Egito (Êx 14.4). O grande poder redentor de Deus
foi exibido no Êxodo (Nm 14.22), da mesma forma como seu poder criativo é
exibido quando ‘os céus manifestam’ sua glória (Sl 19.1).
Mas
‘glória’ implica em mais do que revelação de como Deus é. Implica em invasão do
universo material, expressão da presença ativa de Deus entre seu povo. Assim, o
Antigo Testamento conscientemente relaciona o termo ‘glória’ à presença de Deus
em Israel, em tabernáculos e templos (por exemplo, Êxodo 29.43; Ezequiel
43.4,5; Ageu 2.3). A glória objetiva de Deus é revelada por sua vinda, para
estar presente conosco — e para se mostrar a cada um de nós por suas ações
neste mundo’ (pp.310,311).
Agora
Paulo argumenta não que o Antigo Concerto não possuía ‘glória’, mas que a
glória do Novo Concerto supera aquela do Antigo. Ao falar sobre isto, Paulo
fixa nossa atenção em como a glória de Deus é exibida em sua vinda para estar
com seu povo sob o Antigo Concerto e sob o Novo. Ao fazer isto, ele também nos
mostra como o cristão é verdadeiramente livre para adotar a abordagem de ‘risco’
ao ministério do Novo Concerto, que ele próprio, Paulo exibiu ao mostrar-se
vulnerável no capítulo 1.
Esta
é a essência do ministério do Novo Concerto: Deus exibe sua glória por meio de
sua presença dentro do crente”.Notas (RICHARDS, L. O. Comentário
Histórico-Cultural do Novo testamento.1.ed. RJ: CPAD, 2008, p.35)
Tesouro em Vasos de Barro
2 Coríntios 4.7-12.
7 - Temos, porém, esse
tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de
nós.
8 - Em tudo somos
atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados;
9 - perseguidos, mas não
desamparados; abatidos, mas não destruídos;
10 - trazendo sempre por
toda parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de
Jesus se manifeste também em nossos corpos.
11 - E assim nós, que
vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de
Jesus se manifeste também em nossa carne mortal.
12 - De maneira que em nós
opera a morte, mas em vós, a vida.
INTERAÇÃO
Professor, com certeza você já deve ter
ouvido a seguinte afirmação: “os perfumes mais caros estão nos menores
frascos”. Às vezes o recipiente é pequeno, mas o conteúdo é de grande valor.
Paulo desejava mostrar essa premissa aos coríntios, por isso, ele utilizou a
figura de um vaso de barro para fazer ver que o conteúdo que carregamos é muito
precioso, de valor inestimável. Você sabe que conteúdo é este? A mensagem da
salvação em Jesus Cristo. Deus confiou a nós, “frascos frágeis e imperfeitos”,
a grande mensagem redentora. Ele habita em nós e quer nos usar para este
propósito.
Palavra Chave.Vaso: Utensílio
geralmente de barro, frágil e barato, muito utilizado no século I para conter
substâncias líquidas ou sólidas.
Os
seis primeiros versículos do capítulo 4 são, na verdade, uma continuação do
capítulo 3, a respeito da defesa que Paulo faz de seu ministério e sua
autorrecomendação. Na sequência, ele se coloca como um “vaso de barro”, pequeno
e frágil, porém capaz de guardar um tesouro indestrutível. Evidentemente isso
só era possível porque o poder de Deus o capacitava a ser digno de guardar o
glorioso tesouro.
Já
no versículo 1, Paulo declara que a misericórdia divina foi o dom imerecido que
tornou possível ao seu ministério revelar a nova aliança como superior à luz do
esplendor de Moisés (3.6-18). O apóstolo não estava fazendo comparações de seu
ministério com o de Moisés, mas sentia-se privilegiado pelo Senhor de trazer à
tona o que estava encoberto. Esse privilégio deu-lhe conta de sua própria indignidade
(1 Tm 1.12-17), mas, ao mesmo tempo, ofereceu-lhe a oportunidade de demonstrar
a glória de Deus. Esta lição nos mostrará que, a despeito de nossa fragilidade,
o Senhor nos usa na expansão de seu Reino.
PAULO APRESENTA O CONTEÚDO DOS
VASOS DE BARRO (4.1-6)
Um conteúdo genuíno (v.1). Nos versículos
de 1 a 6, Paulo prossegue na defesa de seu ministério e, ao usar a figura do
“vaso de barro”, indica a debilidade e a pequenez de tal utensílio diante de
sua riqueza interior. Em síntese, Paulo apresentou, de fato, o caráter
sobrenatural do seu ministério. Naqueles dias, surgiam pregadores que falavam
como meros profissionais, sem nenhum compromisso com a veracidade daquilo que
pregavam. Eram discursos vazios, com elementos falsos, à semelhança dos comerciantes
desonestos, que adulteram as substâncias originais de seus produtos,
misturando-as com algo mais barato para enganar seus clientes.
Nesse
contexto, o apóstolo surge com uma mensagem de esperança e, agindo como bom
mestre, declara que o conteúdo de seu ensino não é falsificado (v.2).
Um conteúdo que rejeitava coisas
falsificadas (vv.1,2). O fato de Paulo utilizar, no versículo 2, o
plural “rejeitamos”, indica que ele referia-se a si mesmo e aos seus
companheiros de ministério. Mas o que eles rejeitavam? Qualquer coisa falsa, ou
vergonhosa, que corrompesse a mensagem do Evangelho de Cristo. Seus oponentes
acusavam-nos de que havia conteúdos adulterados e falsos em seus discursos, no
entanto, Paulo refuta essa acusação, afirmando que a mensagem que ele e seus
companheiros anunciavam era genuína e verdadeira.
Um conteúdo de coisas espirituais
transparentes. Pelo
menos três sinônimos aparecem nos versículos 2 e 3 como elementos do conteúdo
desse tesouro guardado em “vasos de barro”: “Palavra de Deus”, “verdade” e
“Evangelho”. Os cristãos judaizantes, opositores de Paulo, acusavam-no de haver
distorcido a mensagem, todavia, o apóstolo defende-se com os seguintes
argumentos: o que pregava era algo revelado, a Palavra de Deus, a verdade do
Evangelho, as Boas Novas. Por ser algo tão glorioso, Paulo sente-se animado a
seguir proclamando o Evangelho com franqueza e audácia.
No
versículo 4, Paulo chama Satanás de “deus deste século”, a fim de mostrar que o
opositor rege o pensamento predominante no mundo. A palavra “século” aparece no
grego bíblico como aion e pode significar, dependendo do
contexto, “era”, “época”, “tempo”. Neste caso, aion se traduz por
“era” e pode ser entendido como “pensamento que predomina numa época”.
Portanto, quando Paulo fala do Diabo como “deus deste século”, refere-se à ação
entorpecente do pecado que obstrui os entendimentos dos incrédulos,
impossibilitando-os de captarem o conteúdo do Evangelho. Para esses, a mensagem
estava obscura, porque não podiam ver a sua luz (vv.3,4). Os que rejeitam o
Evangelho põem-se sob o poder das trevas, que os impede de conhecer o Senhor
Jesus Cristo.
Os
cristãos judaizantes opositores do ministério de Paulo o acusavam de distorcer
a mensagem, mas o apóstolo declara, sem medo, que o que pregava era algo revelado,
porque era a Palavra de Deus, a verdade do evangelho, que são as boas novas
públicas a todos os homens.
PAULO EXPÕE A FRAGILIDADE DOS VASOS DE
BARRO (4.7-12)
A metáfora do vaso de barro (v.7). Paulo extasia-se
diante do contraste entre o glorioso Evangelho e a indignidade e fragilidade de
seus proclamadores. Em vez de a mensagem de salvação ser revelada mediante uma
demonstração sobrenatural, a glória do Evangelho é manifesta através de homens
frágeis - vasos de barro. Deus tem poder sobre o barro e sobre os vasos; Ele é
o Oleiro. Por isso, Paulo sente-se fraco fisicamente, mas o Senhor toma-lhe a
fraqueza, tornando-o capaz de revelar a glória do Evangelho aos judeus e
gentios (vv.8,9).
O paradoxo dos sofrimentos (vv.8-10). Nos versículos 8
e 9, quatro contrastes são apresentados por Paulo para exemplificar suas
experiências (cf. 1 Co 4.11-13). Os sofrimentos foram terríveis, entretanto,
não chegaram a abatê-lo. No versículo 10, Paulo faz uma descrição dessas
experiências, identificando-as com a morte de Jesus; um sentimento de
participação nos sofrimentos do Filho de Deus. Contudo, o mesmo poder que
ressuscitou a Jesus é o que produziu vida no corpo mortal de Paulo (vv.10,11).
Sofrer pela Igreja (vv.11,12). No sofrimento
físico de Paulo, Deus o aperfeiçoou, produzindo no apóstolo um senso de total
dependência (v.11). Se, por um lado, os sofrimentos experimentados por Paulo
fizeram-no chegar bem próximo da morte física, por outro, serviram para beneficiar
a Igreja de Cristo (v.15). Paulo, aliás, não tinha dificuldade em enfrentar a
morte por amor à Igreja: “De maneira que em nós opera a morte, mas em vós, a
vida” (v.12).Deus manifesta a glória do evangelho através de homens frágeis,
tais como vasos de barro. O Senhor tem poder sobre o barro e sobre os vasos que
Ele fabrica.
PAULO FALA DA GLORIFICAÇÃO FINAL DESSES
VASOS DE BARRO (4.13-18)
O poder que transformará os vasos de
barro (vv.13,14). Quando
falamos de “vasos de barro”, referimo-nos à fragilidade e à pequenez de nossos
corpos ilustradas pelo apóstolo Paulo. Enquanto temos vida física, Deus
dignifica-nos a sermos guardiões de um valiosíssimo tesouro - o Evangelho. A
esperança que dominava o coração de Paulo - e que não se restringe somente a
ele, mas abrange todos os crentes em Cristo - era a glorificação do corpo
mortal. Os versículos 13 e 14 indicam que o ato de crer e anunciar baseia-se na
verdade de que, assim como Jesus ressuscitou, os crentes também um dia
ressuscitarão. Seus corpos transitórios e corruptíveis serão transformados em
corpos gloriosos.
A esperança capaz de superar os
sofrimentos (vv.15,16). Paulo reitera, no versículo 15, que todo o
sofrimento experimentado por ele era por amor aos coríntios. Sua fraqueza
física manifestaria o poder do Espírito Santo, a fim de que a obra de Deus
fosse realizada por meio dele. Ainda que tenha enfrentado a morte muitas vezes,
o coração do apóstolo não desfaleceu (v.16). Por isso, ele diz que,
exteriormente, nossos corpos físicos se desgastam, mas a esperança da
ressurreição garante a vida eterna.
Tribulação temporária e glória eterna
(vv.17,18). Quando
Paulo menciona, no versículo 17, o peso da sua aflição como “leve e
momentâneo”, queria, de fato, realçar o peso da glória que Deus tem reservado
aos fiéis. Desse modo, revela o apóstolo as causas que o sustentaram em meio
aos sofrimentos durante seu ministério: amor à obra, confiança na ressurreição,
e gozo eterno. As mesmas causas podem sustentar a todos os crentes que padecem
por amor a Cristo.O ato de crer e anunciar baseia-se na verdade de que, assim
como Jesus ressuscitou, os crentes também um dia ressuscitarão. Seus corpos
transitórios e corruptíveis serão transformados em corpos espirituais.
“O
Paradoxo dos Sofrimentos de Paulo (4.7-11).Os versículos 8,9 contêm quatro
conjuntos de contrates que ilustram tanto a fraqueza de Paulo em executar sua
chamada apostólica, como o poder de Deus para superar esta fraqueza e
libertá-lo: Paulo conheceu aflições que o pressionavam de todos os lados, porém
nunca foi cercado a ponto de ser esmagado. Encontrou circunstâncias
desnorteantes, mas nunca chegou a ponto de se desesperar. Seus inimigos haviam
perseguido seus passos, mas Deus nunca o deixou cair em suas garras.
Abateram-no até o chão, porém foram impedidos de dar o golpe fatal. Em resumo,
Paulo descreve estas experiências em termos físicos, identificando-as com a
morte de Jesus ou até mesmo como participando desta (v.10), de forma que Deus
poderia revelar seu poder de ressurreição. Este poder infunde ao corpo mortal
de Paulo a vida de Jesus, preservou-o apesar das tribulações e das ameaças
contra sua vida (vv.10,11). Estas não são somente as consequências destas
tribulações, mas também o propósito de Deus. [...] Paulo percebe que embora
seus sofrimentos o trouxessem face a face com a morte física, são os meios que
Deus usou para trazer vida aos coríntios (v.12). A revelação do poder de Deus
através da fraqueza humana e da concessão da vida através da morte são temas
que residem no âmago da compreensão de Paulo quanto o Evangelho e de sua
própria chamada como um apóstolo”.Notas (Comentário Bíblico
Pentecostal Novo Testamento. 2.ed. RJ: CPAD, 2004, p.1091)
O Ministério da reconciliação
2 Coríntios 5.14,15,17-21.
14 - Porque o amor de
Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo,
todos morreram.
15 - E ele morreu por
todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por
eles morreu e ressuscitou.
17 - Assim que, se alguém
está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se
fez novo.
18 - E tudo isso provém de
Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo e nos deu o ministério
da reconciliação,
19 - isto é, Deus estava em
Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados, e pôs
em nós a palavra da reconciliação.
20 - De sorte que somos
embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamos-vos,
pois, da parte de Cristo que vos reconcilieis com Deus.
21 - Àquele que não
conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça
de Deus.
Palavra Chave. Reconciliar: Do
grego katallassō, sugere a ideia de trocar, mudar (neste caso específico,
a inimizade com Deus está sendo trocada por relações pacíficas).
Nos
dez primeiros versículos do capítulo cinco, Paulo continua sua argumentação,
falando acerca de seus sofrimentos e das consolações do Senhor. Logo após, ele
passa a explicar o contraste entre a vida terrena, mortal e limitada, e a
imortal, eterna e espiritual. Sua preferência é clara (v.8), mas isso não o
priva de ensinar que é necessário sermos agradáveis ao Senhor, “quer presentes”
- neste corpo e nesta vida -, “quer ausentes”, na eternidade (v.9). Do
versículo onze em diante, Paulo trata do ministério da reconciliação, assunto
que passaremos a estudar.
A VIDA PRESENTE E A FUTURA
(5.1-10)
A confiança doutrinária de Paulo
(v.1). Paulo
tinha uma segurança absoluta acerca das revelações doutrinárias que havia
recebido, por isso, começa o texto, dizendo: “Porque sabemos”. Não se tratava
de experiência pessoal, nem de testemunho humano, nem de intuição. Era o
conhecimento que a revelação divina havia produzido em seu coração. Ao falar de
morte e ressurreição, Paulo não se baseava em conceitos humanistas nem
filosóficos, mas na revelação divina. A certeza do lar eterno era tão real que
os sofrimentos e ameaças de morte não o intimidavam, pelo contrário, davam-lhe
forças para proclamar essa mesma verdade aos crentes.
O anelo de Paulo pela vida
além-túmulo (vv.1-5). Nesses
versículos, algumas expressões revelam a distinção que Paulo faz entre o
temporário e o eterno, o terrestre e o celestial, o corruptível e o
incorruptível, o transitório e o permanente. O corpo atual é como uma tenda
(“tabernáculo”), onde cada um de nós vive neste mundo. Esta tenda será desfeita
por um edifício permanente e melhor, que nos dará o Senhor. Agora, “gememos”
(v.2) neste corpo terrenal, porque desejamos que o celestial o revista.
A
palavra “gememos” (v.4) indica dor e desconforto, mas também significa “anseio”
por algo melhor. A doutrina bíblica evidencia que nossos corpos mortais serão
revestidos de imortalidade, de incorruptibilidade, e que anelamos por essa
transformação (1 Co 15.42-52). A garantia de que isso se efetivará no futuro,
mediante a ressurreição ou o arrebatamento da Igreja, é o Espírito, a sua
presença em nós (2 Co 1.22,5.5; Ef 1.14).
O Tribunal de Cristo para todos os
crentes (vv.7-10). No
versículo 7, o texto diz que “andamos por fé e não por vista”. A fé dá ao
crente a garantia de que existe um lar celestial pelo qual ele aspira e espera;
um lugar que é real e não aparente. No versículo 9, Paulo ensina que devemos
ter como alvo principal “agradar ao Senhor”.
No
versículo 10, o apóstolo apresenta uma doutrina importantíssima da Igreja sobre
o comparecimento dos crentes no Tribunal de Cristo. O Tribunal de Cristo,
salientamos, não é o Juízo Final. Trata-se de um julgamento de realizações em
prol da obra de Deus, o qual acontecerá nos ares e envolverá todos os cristãos
salvos, após o arrebatamento dos vivos e a ressurreição dos mortos em Cristo (1
Co 15.51,52; 1 Ts 4.13-18).O Tribunal de Cristo não é o Juízo Final. Trata-se
de um julgamento de realizações em prol da obra de Deus, o qual acontecerá nos
ares e envolverá todos os cristãos salvos, após o arrebatamento dos vivos e
ressurreição dos mortos em Cristo.
O AMOR DE CRISTO CONSTRANGE E
TRANSFORMA (5.11-17)
A força da persuasão à fé em
Cristo (v.11). Paulo
inicia o texto destacando o “temor do Senhor” como um modo de convencer as
pessoas acerca da fé recebida. Na verdade, as duas grandes motivações paulinas
para o cumprimento do ministério são o temor a Deus (v.11) e o seu amor a
Cristo (v.14). No versículo 11, “o temor do Senhor” é destacado pelo apóstolo,
visto que no Antigo Testamento essa atitude caracterizava aqueles que
procuravam andar de modo sábio (Pv 1.7), e que evitavam a prática do mal (Jó
28.28; Pv 16.6). Persuadir os homens por causa do temor a Deus não significa
intimidá-los, mas convencê-los através da mensagem do Evangelho.
A grande motivação do ministério
de Paulo: o amor de Cristo (vv.12,13). Paulo havia acabado de falar da
esperança que sustenta seu ministério, levando-o a persuadir a todas as pessoas
acerca da verdade de que Cristo é o Senhor e vale a pena ser seu ministro
(v.11). Nessa oportunidade, Paulo não está defendendo sua autorrecomendação,
mas procurando advertir os crentes fiéis a não permitirem que seus opositores
os convençam.
Ele
não tinha a presunção de louvar a si mesmo, no entanto, fornecia argumentos
para que os coríntios se gloriassem em seu testemunho (v.12). Acerca do
versículo 13, as explicações são muitas, podendo referir-se à conversão de
Paulo (At 9.1-10), ou às suas experiências espirituais (2 Co 12.1-10). O que importa
é que todos os atos do apóstolo eram realizados por amor a Cristo.
Um amor que nos constrange a viver
integralmente para Cristo (vv.14-17). O amor mencionado pelo apóstolo no
versículo 14 tinha a força de constrangê-lo, porque não era o seu amor por Cristo,
mas era o amor de Cristo por ele. Conforme vemos no versículo 17, esse amor,
quando aceito, crido e recebido, é o motivo supremo da transformação de nossas
vidas. A expressão “nova criatura” implica em uma nova forma de viver, na qual
desaparece a vida pregressa e os velhos costumes. Assim, tal transformação
proporciona um novo estilo de vida ao que a recebe. Tal postura, aliás, é
consequência lógica da conversão, pois o amor de Deus pela humanidade (Jo 3.16)
constrange-nos a viver integralmente para Ele.A grande motivação do ministério
de Paulo era o amor de Cristo.
O MINISTÉRIO DA RECONCILIAÇÃO
(5.18-21)
Reconciliação, palavra-chave da
nova criação (vv.18,19). No grego, o verbo “reconciliar” (katallassō, do substantivo katallagē, que significa
“reconciliação”) sugere a ideia de trocar, mudar (neste caso específico, a
inimizade está sendo trocada por relações
pacíficas). Esta expressão diz respeito ao reajuntamento das pessoas que
estavam separadas, assim como um pai e um filho que se separam por divergências
familiares. Assim, para que a relação seja restabelecida, é necessário remover
os fatores que ocasionaram a inimizade. Na relação rompida entre Deus e a
humanidade, a remoção dos elementos que impediam a sua restauração foi realizada
pela expiação (Rm 5.10,11).
O ministério da reconciliação. O ministério e a
palavra da reconciliação consistem na proclamação da obra expiatória realizada
por nosso Senhor Jesus Cristo. Dessa forma, Deus propiciou aos cristãos ser um
elo de reajuntamento, de reunião e de reconciliação dEle com a humanidade.
Assim, a mensagem de reconciliação deve apresentar o perdão em seu sentido mais
amplo e restaurar a relação da humanidade com Deus, de forma que esta seja
amistosa e correta (Rm 5.1).
Embaixadores de Deus (vv.20,21). Paulo escolheu o
título “embaixador”, porque o papel de quem possui esta ocupação é o de
representar os interesses do seu governo ou líder. Como embaixadores de Deus,
temos uma responsabilidade enorme: transmitir a mensagem do Evangelho em sua
inteireza, sendo fiel à missão que recebemos do Senhor. Isso o fazemos, em
gesto de gratidão àquEle que não tinha pecado, mas que tomou o lugar dos
pecadores para redimir-nos. Tal ato proporcionou-nos sermos justificados e
termos paz com Deus (Rm 5.1). Por isso, deixemos nossos interesses pessoais e
cuidemos da obra; trabalhemos enquanto é dia (Jo 9.4).
A
mensagem de reconciliação deve apresentar o perdão em seu sentido mais amplo, o
qual é restaurar a relação da humanidade com Deus, de forma que ela seja
amistosa e correta.A mensagem da reconciliação não prega o juízo, mas o perdão
do Senhor. Ela é objetiva e suprema, pois consiste em saber que Deus estava em
Cristo reconciliando consigo o mundo (v.19). Dessa maneira, Deus, por intermédio
da obra de justiça que seu Filho Jesus Cristo realizou no Calvário, concedeu ao
pecador uma anistia total (Rm 3.24-26).
“Reconciliação.Seu significado
etimológico é ‘mudança’, mas o uso sempre inclui a união de duas ou mais partes
pela renovação de bases ou causas de desarmonia. A reconciliação é necessária
para por fim à inimizade existente. A doutrina da reconciliação está
relacionada com a restauração da comunhão entre o homem pecador e Deus, o Santo
Criador, através de Jesus Cristo, o Redentor. Por causa de suas más ações, o
homem é declarado inimigo de Deus (Rm 5.8). Teólogos liberais que negam a
satisfação penal, propiciatória e substitutiva da justiça divina pela provisão
objetiva da expiação, mostram que no NT Deus nunca é o objeto da reconciliação.
Eles negam a necessidade da vindicação da justiça divina, e insistem que tudo
que é necessário para a reconciliação entre Deus e o homem é uma mudança no
homem [...]. O fato de o pecador ser aquele que precisa ser reconciliado com
Deus (2 Co 5.20) não constitui um argumento contra a necessidade da propiciação
em relação a Deus. Isto deveria ser evidente a partir de uma das passagens do
NT, na qual a palavra é usada em um sentido não-soteriológico. Em Mateus
5.23,24, aquele a quem Deus ordenou que se reconciliasse com seu irmão era o
ofensor contra quem o irmão tinha uma queixa. A única reconciliação possível
era através da remoção objetiva da queixa ou a satisfação da justiça”.Notas (Dicionário
Bíblico Wycliffe. 1.ed.
RJ: CPAD, 2006, p.1654)
Paulo, um Modelo de Líder-Servidor
2 CORÍNTIOS 6.1-10.
1 - E nós, cooperando
também com ele, vos exortamos a que não recebais a graça de Deus em vão
2 - (Porque diz: Ouvi-te
em tempo aceitável e socorri-te no dia da salvação; eis aqui agora o tempo
aceitável, eis aqui agora o dia da salvação.);
3 - não dando nós
escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja censurado.
4 - Antes, como ministros
de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo: na muita paciência, nas aflições,
nas necessidades, nas angústias,
5 - nos açoites, nas
prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns,
6 - na pureza, na ciência,
na longanimidade, na benignidade, no Espírito Santo, no amor não fingido,
7 - na palavra da verdade,
no poder de Deus, pelas armas da justiça, à direita e à esquerda,
8 - por honra e por
desonra, por infâmia e por boa fama, como enganadores e sendo verdadeiros;
9 - como desconhecidos,
mas sendo bem conhecidos; como morrendo e eis que vivemos; como castigados e
não mortos;
10 - como contristados, mas
sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo e
possuindo tudo.
Palavra Chave. Líder-servidor: Indivíduo
que, na moderna administração, é visto como o modelo ideal de liderança, pois,
em vez de chefiar friamente, serve aos liderados de modo que constrange-os a
trabalhar em prol do bem coletivo.
Neste
capítulo, Paulo ainda continua sua defesa, dando provas e descrevendo seu
ministério de reconciliação, no qual ele atuava como embaixador de Cristo,
representando os interesses do Reino de Deus na terra. Sua liderança é
demonstrada em serviço, e ele até se identifica em algumas de suas cartas como
servo (Rm 1.1; 2 Co 4.5; Tt 1.1). Seu modelo de líder-servidor era o próprio
Jesus, que nos deixou um grande exemplo (Jo 13.1-17; Fp 2.5-8). Por isso, Paulo
exortou aos coríntios que o imitassem assim como ele imitava ao Senhor (1 Co
11.1).
PAULO SE IDENTIFICA COMO SERVIDOR
DE CRISTO (6.1,2)
Paulo se descreve como cooperador
de Deus no ministério da reconciliação (v.1). A organização dos capítulos da
Bíblia (não somente das epístolas paulinas) muitas vezes não obedece à
estrutura lógica dos versículos. Os dois primeiros versículos do capítulo 6 são
um complemento do capítulo cinco. Quando Paulo usa o plural e “nós, cooperando
também com ele”, refere-se ao Senhor Jesus que realizou a obra expiatória, pois
o Pai o fez pecado por nós (5.21), a fim de pagar a dívida da humanidade,
reconciliando-nos com o Criador.
Ao
tornar conhecida a obra da redenção, Paulo afirma que estamos cooperando com
Jesus Cristo. Deus não depende de ninguém para fazer o que precisa ser feito,
mas Ele deseja uma relação de comunhão e serviço em conjunto com o homem, para
que este tenha o privilégio de participar do ministério da reconciliação.
Paulo, um modelo de líder-servidor. Paulo aprendeu
com Jesus que o serviço é a postura ideal para quem deseja liderar, pois o Mestre
mesmo disse que não tinha vindo ao mundo para ser servido, mas para servir (Mt
20.26-28). O apóstolo dedicou, pois, sua vida e personificou sua liderança como
um líder-servidor. Ele procurou imitar o Mestre em tudo, servindo apenas aos
interesses da Igreja de Cristo (2 Co 12.15; Fp 2.17; 1 Ts 2.8).
Paulo desperta os coríntios para a
chegada do tempo aceitável (v.2). O versículo dois é uma citação de
Isaías 49.8. Neste vaticínio do profeta messiânico, surge o Servo do Senhor
(que é o Cristo profetizado), com a promessa de ajuda no dia em que a salvação
for manifestada aos gentios. Paulo usa a profecia para anunciar que o tempo
aceitável (favorável) é agora, o dia da salvação é hoje, e a proclamação do
Evangelho que pregava está no presente. O tempo aceitável por Deus e pelos
homens é agora, e todos podem participar livremente da reconciliação oferecida
em Cristo. A parte final do versículo dois evidencia a preocupação paulina com
os coríntios em relação à graça de Deus. A graça salvadora é para “agora”, porque
este é o momento oportuno de sua aceitação.Paulo aprendeu com Jesus que o
serviço é a postura ideal para quem deseja liderar na vida eclesiástica, pois o
Mestre mesmo disse que não tinha vindo ao mundo para ser servido, mas para
servir.
A ABNEGAÇÃO DE UM LÍDER-SERVIDOR
(6.3-10)
O cuidado de um líder-servidor. Paulo volta a
descrever as agruras do seu ministério apostólico, a fim de fortalecer o fato
de que o líder na Igreja de Cristo precisa estar pronto para enfrentar as
dificuldades inerentes ao ministério. O apóstolo afirma essa verdade, com as
seguintes palavras: “não dando nós escândalo em coisa alguma” (v.3). Em outras
palavras, ele estava dizendo que evitava dar qualquer “mau testemunho”, para
que o seu ministério em particular e o de seus companheiros não fossem
desacreditados.
Experiências de um líder-servidor
(vv.4-6). Nos
versículos 4 a 6, Paulo descreve seu ministério apostólico apresentando uma
série de seis tribulações e aflições experimentadas por ele. Didaticamente, ele
separa esses acontecimentos em três conjuntos, contendo três “experiências”
cada. Nos versículos 4 e 5, ele menciona: “aflições, necessidades e angústias”
e “açoites, prisões e tumultos”. O primeiro e segundo conjuntos descrevem as
várias situações de sofrimento, que causaram danos físicos e materiais ao
apóstolo Paulo. Ainda no versículo cinco, ele menciona “trabalhos, vigílias e
jejuns”, referindo-se às dificuldades enfrentadas em seu ministério. Porém,
apesar de tudo isso, Paulo não se envergonha do Evangelho de Cristo nem desiste
de continuar seu trabalho.
Os elementos da graça que o
sustentaram nestas experiências (vv.7-10). Em contraposição às seis
dificuldades mencionadas acima, no versículo seis, Paulo apresenta outros seis
“elementos” que lhe deram força interior, resultantes da graça, e que o
sustentaram, bem como a seus companheiros, naquelas tribulações: “pureza,
ciência (conhecimento), longanimidade, benignidade, a presença do Espírito
Santo e o amor não fingido (verdadeiro)”.
A
“pureza”, que é o primeiro elemento, tem a ver com a atitude de um coração
íntegro e mãos limpas para realizar a obra de Deus. Ao citar “ciência”, Paulo
referia-se ao conhecimento da Palavra de Deus. “Longanimidade” fala da
capacidade de suportar injúrias e desprezos, sem nutrir ressentimentos. A
“benignidade”, traduzida às vezes por bondade, possibilita o líder cristão a
não agir com revanche ou desforra. Fazer algo no Espírito Santo significa
reconhecer a sua direção em todas as decisões da nossa vida. Por último, Paulo
fala do “amor”, que deve este ser a nossa maior motivação para o exercício
ministerial. Todos esses elementos positivos têm sua fonte no Espírito Santo
(v.6), o qual produz o amor não fingido.Paulo não se envergonha do Evangelho de
Cristo nem desiste de continuar seu trabalho.
AS ARMAS DE ATAQUE E DEFESA DE UM
LÍDER-SERVIDOR
As armas da justiça numa guerra
espiritual (v.7). Quando
usa a metáfora de “armas”, a mente de Paulo parece transferir-se para um campo
de batalha. Como embaixador de Cristo, sente-se também como “um soldado”
preparado para a luta. Suas armas não são materiais ou exteriores; são
espirituais (Ef 6.11-17; 1 Ts 5.8). Sua força interior é o “poder de Deus” que
o capacita a enfrentar as adversidades sem se render ou transigir em sua
integridade moral e espiritual.
Os contrastes da vida cristã na
experiência de um líder-servidor (vv.8-10). Nos versículos 8 a 10, o texto
mostra alguns paradoxos da experiência de Paulo como servo do Senhor. O Comentário
Bíblico Pentecostal da
CPAD afirma que Paulo “experimentou louvor e vergonha; foi elogiado e
caluniado, visto como um genuíno servo de Deus e como uma fraude enganosa; foi
tratado como uma celebridade e também ignorado” (p.1099). Ora, em todas essas
ocasiões, Paulo superou as dificuldades e circunstâncias sem perder de vista a
perspectiva divina. Essas experiências deram-lhe condições de ter alegria
frente à tristeza e, pela pobreza material, ter a certeza da inefável riqueza
celestial.
Paulo dá uma resposta aos adeptos da
Teologia da Prosperidade (v.10). “Como pobres, mas enriquecendo a
muitos; como nada tendo e possuindo tudo”. Paulo fala literalmente de pobreza material.
Não há nada metafórico nessa frase. Ele fortalece o conceito de que a possessão
material não é símbolo de riqueza espiritual. Por isso, a riqueza que Paulo
podia oferecer era proveniente do Evangelho de Cristo. Dessa forma, o apóstolo
demonstra que a pobreza terrena não significa nada, e que ninguém precisa
tornar-se pobre para obter riquezas espirituais. A questão aqui é: Qual a nossa
prioridade - Deus ou o dinheiro? Pois ninguém pode servir a dois senhores (Mt
6.24).Paulo superou as dificuldades e circunstâncias sem perder de vista a
perspectiva divina. Estas experiências lhe deram condições de ter alegria
frente à tristeza e, pela pobreza material, ter a certeza da riqueza
celestial.
Se
quisermos servir ao Senhor com inteireza de coração, precisamos seguir os
passos de Jesus que foi, é e sempre será o modelo perfeito de líder-servidor.
Ele viveu para fazer a vontade do Pai e servir a todos (Mc 10.45).
“Agora é o Dia da Salvação 6.1,2. Como
cooperadores de Deus, que pertencem a Ele, como também trabalham para Ele, e
como embaixadores de Cristo (2 Co 5.20), Paulo e sua equipe exortavam os
coríntios a não receber a graça de Deus sem resultado algum. Os coríntios
tinham recebido a graça de Deus, inclusive a salvação por Cristo, mas eles não
deviam supor que a salvação é mantida automaticamente. É possível ‘deixá-la ir
por nada’ (2 Co 6.1, NEB). Isto aconteceria se eles voltassem à antiga maneira
de viver ou se dessem ouvidos aos críticos ‘superespirituais’ ou aos falsos
apóstolos que estavam ensinando um evangelho diferente (cf. 2 Co 11.4; Gl
2.21). Precisamos viver de acordo com a nova vida que nos foi dada (cf. Jo
15.2; Deus tira os ramos que não dão frutos). A seguir, Paulo cita Isaías 49.8
e o aplica aos coríntios. Eles estavam vivendo nos dias em que a profecia
estava sendo cumprida. É o dia de Deus, o tempo de Deus. Paulo não diminui a
importância da era futura ou as últimas coisas. Mas eles têm de reconhecer que
esta é a era final antes da era milenar. Agora é o dia em que Deus torna
possível a reconciliação a Ele por Cristo. Hoje é o dia da salvação (cf. Hb
3.12-15). À medida que nos aproximamos do fim dos tempos também temos de
aplicar as observações de Paulo à nossa época, de forma que não recebamos a
graça de Deus ‘em vão’ [...]. Nada seria mais triste que ter recebido a graça
de Deus e, no fim, se perder”.Notas (HORTON, S. M. I
& II Coríntios: Os Problemas da Igreja e Suas Soluções.1.ed. RJ, CPAD, 2003,
pp.213-14.)
Exortação à santificação
2 Coríntios 6.14-18; 7.1,8-10.
2 Coríntios 6
14 - Não vos prendais a um
jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a
injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?
15 - E que concórdia há
entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?
16 - E que consenso tem o
templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como
Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles
serão o meu povo.
17 - Pelo que saí do meio
deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos
receberei;
18 - e eu serei para vós
Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso.
2 Coríntios 7
1 - Ora, amados, pois que
temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito,
aperfeiçoando a santificação no temor de Deus.
8 - Porquanto, ainda que
vos tenha contristado com a minha carta, não me arrependo, embora já me tivesse
arrependido por ver que aquela carta vos contristou, ainda que por pouco tempo;
9 - agora, folgo, não
porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para o
arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus; de maneira que por nós
não padecestes dano em coisa alguma.
10 - Porque a tristeza
segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se
arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte.
Palavra Chave. Santificação: Separação
do mal e do pecado, e dedicação total e exclusiva a Deus.
Antes
da ida de Tito a Corinto, os crentes daquela localidade estavam irredutíveis
quanto à rejeição a Paulo. O apóstolo havia escrito uma carta pesada e grave,
censurando a atitude dos coríntios por se deixarem influenciar por um grupo
rebelde. Porém, ao escrever a segunda carta, além de defender seu ministério
perante aquela igreja, Paulo regozija-se por ter havido arrependimento da parte
daqueles cristãos. Entretanto, seu zelo com a vida de santidade não foi omitido
nesta nova missiva. Ele, mais uma vez, apela à comunhão dos crentes em Cristo,
e incentiva-os a viverem em santificação, rejeitando todo envolvimento com as
coisas imundas.
PAULO APELA À RECONCILIAÇÃO E
COMUNHÃO (6.11-13)
Paulo apela ao sentimento fraterno
dos coríntios (v.11). Paulo
sabia ser terno quando se fazia necessário, especialmente, depois do desgaste
causado pela primeira carta. Ele interrompe sua defesa apostólica apelando, com
veemência, ao afeto mútuo que deve ser nutrido entre um pai e seus filhos (1 Co
4.15). As expressões empregadas pelo apóstolo, no versículo 11, (“nossa boca
está aberta para vós” e “o nosso coração está dilatado”) denotam que seus atos
e palavras são a expressão verdadeira do seu sentimento. Isso, entretanto, não
significa que ele arrefeceria sua postura para com os falsos mestres.
Paulo dá exemplo de reconciliação. Após ter
expressado seu desejo de reatar os laços estreitos que havia entre ele e os
coríntios, Paulo, que já havia exposto as motivações de seu ministério,
esperava que fosse compreendido e amado fraternalmente em Cristo. Ele declara
que o seu coração tem sido alargado para amar a todos os crentes e que ele e
seus companheiros não têm limites nem restrições para amar a todos.
Paulo demonstra seu afeto e espera
ser correspondido (vv.12,13).Paulo percebeu que o afeto dos coríntios
era limitado. Não havia espaço para que eles verdadeiramente amassem seus
ministros. No versículo 13, ele dá ênfase ao verbo “dilatar” (o mesmo que alargar).
Ao utilizar o imperativo, Paulo insiste com os coríntios que, de igual forma,
dilatem (ou alarguem) seus corações, a fim de que recebam o amor que estava no
coração do apóstolo. Dessa forma, Paulo visava acabar com os pensamentos
negativos a seu respeito.Paulo demonstra seu afeto pelos coríntios e espera ser
correspondido.
PAULO EXORTA OS CORÍNTIOS A UMA
VIDA SANTIFICADA (6.14-7.1)
Uma abrupta interrupção de
exortação (vv.14-18). Apesar
de Paulo haver expressado seu sentimento de afeto e amor pelos coríntios, era
preciso corrigir alguns problemas de ordem espiritual. Assim, ele interrompe o
assunto discutido anteriormente, e assume um tom mais grave na discussão.
O perigo que ameaça a fé: o jugo
desigual. Ele
usa uma linguagem objetiva para falar de uma relação que não podia existir na
vida de um crente. Tal relação é denominada de “jugo desigual”, que é uma
alusão à proibição veterotestamentária de se lavrar a terra com dois animais
diferentes, sendo um mais forte que o outro (Dt 22.10). Isso para mostrar que
deve haver separação entre “luz e trevas”, “justiça e iniquidade”, “templo de
Deus” e “templo de ídolos”.
Assim
como água e óleo não se misturam, a comunhão dos santos com os infiéis equivale
a um jugo desigual. No versículo 16 ele declara que não há consenso entre Deus
e os ídolos, pois se cada crente é templo do Deus vivo, não pode haver em seu
interior imundícias que profanem a vida cristã.A grande lição que Paulo quer
que os coríntios aprendam é que a cultura do mundo exterior, extremamente pagã,
não deve interferir na vida dos cristãos. Assim, devemos abster-nos de todo
tipo de relacionamento que nos leve a transigir nossa fé ante o paganismo.
Evitemos, pois, relacionamentos pessoais, matrimoniais e outros que nos induzam
a abandonar a fé e a pureza de nossa vida espiritual (2 Co 11.3).
O correto relacionamento do
cristão com os não-crentes. O apelo de Paulo para o crente não se colocar
sob um jugo desigual com o incrédulo não é um incentivo à discriminação social.
Numa sociedade, as circunstâncias levam-nos a comunicar-nos com os mais
variados tipos de pessoas. Todavia, não devemos praticar, jamais, as obras dos
ímpios e inimigos da fé. Pois as ações do crente devem influenciar as pessoas
de fora, não o contrário.A pureza moral e espiritual, no trato com os
descrentes, objetiva evitar a contaminação da carne e do espírito (2 Co 7.1).
Esta expressão, envolvendo carne e espírito, não se refere a duas categorias de
pecados, mas à contaminação da pessoa como um todo, física e espiritualmente (1
Ts 5.23).A cultura do mundo exterior, extremamente pagã, não deve interferir na
vida dos cristãos.
PAULO REGOZIJA-SE COM AS NOTÍCIAS
DA IGREJA DE CORINTO (7.2-16)
Paulo reitera seu amor para com os
coríntios (vv.2-4). Como
já dissemos (6.1-3), Paulo não perdera seu afeto pelos coríntios. Uma vez que
sua consciência e a de seus companheiros estavam limpas, pois não haviam
defraudado a ninguém, ou prejudicado a qualquer irmão em Cristo, mais uma vez
ele recomenda aos crentes que abram o coração (7.2). Ele tinha razões para
escrever desse modo - com ousadia - por causa das boas notícias que obteve da
igreja através de Tito, seu companheiro (vv.6,7).
Paulo alegra-se com as notícias
trazidas por Tito (vv.5-7). A diversidade de assuntos tratados na carta
evidencia que ela não foi escrita de uma só vez, mas em várias etapas. Paulo
havia viajado de Éfeso para Trôade, depois foi a Macedônia, e em seguida para o
Ilírico (atuais Albânia e Iugoslávia - Rm 15.19).
Durante
essas viagens, ele ia escrevendo suas cartas, a exemplo dessa segunda aos
coríntios. Foi em uma dessas viagens, quando estava na Macedônia, que Tito veio
ao seu encontro (v.6). O jovem pastor era portador de boas notícias: o amor
demonstrado pelos coríntios ao receberem Tito com carinho e hospitalidade era a
principal delas. O jovem pastor trouxe informações da mudança de atitude dos
coríntios para com o apóstolo e, por isso, Paulo louva a mudança de coração
daquele povo, que soube reconhecer-lhe o zelo pela igreja.
A tristeza segundo Deus (vv.8-16). Mesmo
enfrentando a sua própria reprovação apostólica manifesta nos atos rebeldes
praticados pelos opositores de seu ministério, Paulo se sentia consolado
porque, ao reprovar tais atitudes, produziu arrependimento e bem-estar em
todos. A tristeza provocada pela repreensão paulina gerou arrependimento e
concerto (vv.10-12). Se antes as palavras “tristeza” e “entristecer” estiveram
nos lábios e pena do apóstolo, agora, nos versículos 13 a 16, “consolar” e
“encorajar” são os novos termos que passaram a constar no vocabulário da carta.
Tais verbos revelam o sentimento mútuo que passou a dominar o coração de Paulo
e da igreja de Corinto.Mesmo tendo enfrentado a reprovação apostólica através
dos atos rebeldes praticados por opositores ao seu ministério, Paulo se sentia
consolado porque, ao reprovar tal atitude, produziu arrependimento e bem-estar
em todos.
Apesar
de a relação entre Paulo e a igreja de Corinto ter sido estremecida, a
inteireza da fé e a paciência do apóstolo contribuíram para que houvesse uma
restauração entre ambos. Assim, após a operação do Espírito Santo na vida da
igreja, Paulo pôde então dizer: Regozijo-me de em tudo poder confiar em vós
(v.16).
“Porque a tristeza segundo Deus
opera arrependimento...
A
palavra traduzida como ‘tristeza’ é lupe em cada caso.
Esta palavra grega, também traduzida como ‘pesar’ e ‘dor’ no NT, é um termo
amplo que abrange todos os tipos de aflições físicas e emocionais. Aqui, no
entanto, a ênfase de Paulo está no fato de que a reação de uma pessoa lupe será ‘segundo
Deus‘ ou ’segundo o mundo’. Quando a tristeza leva ao arrependimento - aquela
mudança no coração e na mente nos coloca no caminho que leva à salvação - esta
tristeza cai na categoria das tristezas ‘segundo Deus’. É importante recordar
que ‘salvação’ é frequentemente usada no sentido da liberação atual. Aqui, o
que Paulo quer dizer é que o arrependimento reverte nossa corrida para o
desastre, e redime a situação, de modo que somos libertos das consequências
associadas às escolhas anteriores, e erradas, que fizemos. Por outro lado, a
tristeza é ‘do mundo’, se tudo o que ela produz é pesar, ou até mesmo um
reconhecimento de que estivemos errados - mas, sem nos levar ao
arrependimento”.Notas (RICHARDS, L. O. Comentário Histórico-Cultural
do Novo Testamento.1.ed.
RJ: CPAD, 2007, p.378)
O princípio bíblico da generosidade
2 Coríntios 8.1-5;9.6,7,10,11.
2 Coríntios 8
1 - Também, irmãos, vos
fazemos conhecer a graça de Deus dada às igrejas da Macedônia;
2 - como, em muita prova
de tribulação, houve abundância do seu gozo, e como a sua profunda pobreza
superabundou em riquezas da sua generosidade.
3 - Porque, segundo o seu
poder (o que eu mesmo testifico) e ainda acima do seu poder, deram
voluntariamente,
4 - pedindo-nos com muitos
rogos a graça e a comunicação deste serviço, que se fazia para com os santos.
5 - E não somente fizeram
como nós esperávamos, mas também a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor e
depois a nós, pela vontade de Deus;
2 Coríntios 9
6 - E digo isto: Que o que
semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia em abundância em abundância
também ceifará.
7 - Cada um contribua
segundo propôs no seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus
ama ao que dá com alegria.
10 - Ora, aquele que dá a
semente ao que semeia e pão para comer também multiplicará a vossa sementeira e
aumentará os frutos da vossa justiça;
11 - para que em tudo
enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se dêem graças a
Deus.
A caridade é um privilégio (8.4)
A caridade nasce do comprometimento
(8.5)
A caridade é voluntária (8.8)
A caridade tem um objetivo (8.13-16)
A caridade tem consequências pessoais
(9.6)
A caridade envolve coração e mente (9.7)
A caridade tem resultados espirituais,
além dos materiais (9.12)
Palavra Chave. Generosidade: Virtude
daquele que se dispõe a sacrificar os próprios interesses em benefício de
outrem.
Os
capítulos 8 e 9 de 2 Coríntios tratam especificamente acerca da obrigatoriedade
de amarmos e auxiliarmos os pobres e necessitados. Ambos os capítulos formam o
que poderíamos chamar de uma “teologia da generosidade”. O caso que está sendo
considerado, indica que a comunidade de fé em Jerusalém passava por sérias
dificuldades. Então, os apóstolos solicitaram a Paulo e a Barnabé que se
lembrassem dos pobres (Gl 2.9,10), e eles trouxeram uma contribuição de
Antioquia a Jerusalém conforme está registrado em Romanos 15.25-32. Esta lição,
porém, não se limita à historicidade; ensina-nos que o ato de estendermos as
mãos aos menos favorecidos é uma forma de expressarmos o amor de Deus através
de nossa vida.
EXEMPLOS DE AÇÕES GENEROSAS
(8.1-6,9; 9.1,2)
O exemplo dos macedônios (8.1-6). O princípio da
generosidade está fundamentado na ideia de doar e não de ter (2 Co 8.12). A
prova vem das igrejas macedônias que eram gentias e, apesar de suas dificuldades
e pobreza, foram capazes, por causa do amor a Deus, de ofertar o pouco que
tinham para socorrer os pobres de Jerusalém. Paulo cita-lhes o exemplo e passa
a exortar os coríntios a que observem a mesma prática em termos de
contribuição. O apóstolo apela para os cristãos de Corinto serem abundantes na
generosidade para com os irmãos necessitados, especialmente, os de Jerusalém, a
Igreja-mãe, pois foi onde tudo começou.
O exemplo de Jesus Cristo (8.9). Segundo o Dicionário
Houaiss,
generosidade é a “virtude daquele que se dispõe a sacrificar os próprios
interesses em benefício de outrem”. Esta acepção encaixa-se perfeitamente no
que Paulo afirmou acerca do Filho de Deus, dizendo que Ele “sendo rico, por
amor de vós se fez pobre” (v.9). Para o apóstolo dos gentios, o sacrifício de
Jesus não começou no Calvário, nem sequer com sua humilhação fazendo-se homem e
nascendo de mulher. O sacrifício de nosso Senhor teve início no Céu, quando se
despojou de sua glória para vir à Terra e dar a sua vida em resgate da
humanidade. Seu exemplo de generosidade vai além de qualquer outro. Paulo diz
que Jesus se fez “pobre”, para que, pela sua “pobreza”, nós, cristãos fôssemos
enriquecidos (v.9; 1 Co 1.5). O sentimento que dominou o ministério de Jesus é
o que deve permear o coração dos crentes, tendo disposição de vontade para
fazer o melhor pelo Reino de Deus, inclusive, contribuir com amor fraterno para
os necessitados (Fp 2.5).
3. O exemplo da igreja coríntia (9.1,2). O apóstolo é
amável e felicita os coríntios pela abundância de bênçãos espirituais que têm
experimentado. Em termos de caridade, os coríntios já haviam-na manifestado a
Paulo e aos seus companheiros (2 Co 8.7). A fim de defender a importância de tal
contribuição, ele afirma que Tito fora sido recebido carinhosamente em Corinto
e começado o levantamento de ofertas (8.6-12). Paulo reconhece esse primeiro
esforço, entretanto, recorda-lhes que não devem ficar apenas com esse ato
inicial, mas que concretizem o propósito de enviar a oferta que prometeram
(8.1).O princípio da generosidade está fundamentado na ideia de doar e não de
ter (2 Co 8.12).
EXORTAÇÃO AO ESPÍRITO GENEROSO
PARA CONTRIBUIR (8.7-15)
A igreja de Corinto foi encorajada
a repartir generosamente com os necessitados (8.11). Paulo motiva a
igreja lembrando suas virtudes positivas e declara que os coríntios têm sido
abundantes na fé, no entanto, apela a que sobejem, também, na graça da
generosidade (2 Co 8.7). Para não parecer que está exercendo sua autoridade
apostólica com atitude interesseira, Paulo apenas dá o seu parecer sobre o
assunto. Ele não impõe à igreja qualquer encargo, mas recorre ao espírito
generoso dos irmãos quanto à contribuição financeira em favor dos crentes de
Jerusalém (v.8).
A responsabilidade social da Igreja. Atender ao pobre
em suas necessidades é um preceito bíblico (Lv 23.22; Dt 15.11; Sl 82.3; At
11.28-30; Gl 2.10; Tg 2.15,16). A missão assistencial da Igreja no mundo é a
continuação da obra iniciada por Jesus. Assim como o Senhor jamais se esqueceu
dos pobres, a Igreja não deve desprezá-los (Lc 4.18,19), pois na essência da
mensagem do Evangelho está também o atendimento às pessoas necessitadas. A
Igreja Primitiva deu ênfase à assistência generosa para com os seus pobres. A
Bíblia afirma que os cristãos primitivos “repartiam com todos, segundo cada um
tinha necessidade” (At 2.44,45).
A generosidade cristã requer
reciprocidade mútua dos recursos.O sentimento comunitário é um dos sinais
do cristianismo autêntico. Todos são iguais perante o Senhor, e seus direitos
são os mesmos. O princípio da igualdade refuta as diferenças sociais quando é
possível que algo seja feito. A reciprocidade mútua entre os crentes supre as
necessidades dos irmãos que fazem parte da mesma fé. Não pode haver espaço para
a fome e a nudez no meio do povo de Deus. A base desse sentimento constitui o
critério da generosidade que deve permear a vida cristã.Assim como o Senhor jamais
se esqueceu dos pobres, a Igreja não deve desprezá-los (Lc 4.18,19), pois na
essência da mensagem do Evangelho está também o atendimento às pessoas
necessitadas.
OS PRINCÍPIOS DA GENEROSIDADE
(9.6-15)
O valor da liberalidade na contribuição. No Antigo
Testamento, a entrega do dízimo obedecia a uma lei. Todo israelita tinha a
obrigação de entregar o seu dízimo na Casa do Senhor (Dt 14.22). O dízimo, mais
que uma regra a ser obedecida, é um princípio de gratidão, fé e obediência. O
doador o faz porque reconhece o senhorio de Deus sobre suas finanças.
Na
igreja, o cristão obedece ao princípio da fé e do reconhecimento do Senhorio de
Cristo. Assim, do ponto de vista bíblico, a contribuição não se restringe aos
10% (o valor mínimo que o crente deve trazer à casa do tesouro); o princípio
que a rege é o da liberalidade. Portanto, não há limite para a contribuição (2
Co 9.10). A pessoa oferta o que propuser em seu coração; o que vale é o seu
princípio (o dar com liberalidade), não a regra.Ninguém o faz por força de uma
lei ou preceito, mas sim por gratidão ao Senhor, por fidelidade e
reconhecimento. As ofertas devem ser espontâneas, de coração aberto, e sem
avareza (9.5). Deus se compraz em abençoar a Igreja, dando-lhe bênçãos
espirituais e materiais. Assim como Ele abençoa seus filhos, espera que seus
filhos abençoem generosamente seus irmãos na fé. Este princípio orienta que
devemos dar com alegria, não com tristeza ou por necessidade (2 Co 9.7).
A igreja deve socorrer os
necessitados obedecendo a três princípios que norteiam o serviço social. A Igreja não
apenas prega o Evangelho. Ela deve atender os seus necessitados em termos
físicos e materiais (Gl 2.9,10). Três princípios são fundamentais neste
exercício: a) Mutualidade: Este princípio se manifesta em generosidade,
reciprocidade e solidariedade (At 2.44,45); b) Responsabilidade: Com a obra de
Deus e com seus irmãos necessitados (2 Co 8.4; 9.7); c) Proporcionalidade:
Nesta perspectiva, o cristão contribui de acordo com as suas possibilidades (2
Co 8.12).
A graça de contribuir. A generosidade
requerida por Paulo não se constituía de atitudes vazias ou meras formalidades
sociais. As igrejas que ajudam às suas coirmãs, ou investem na obra de
evangelização e missões, são abençoadas copiosamente; ofertar é um ato de
adoração e louvor a Deus (Fp 4.18). Além do mais, a graça de contribuir está
fundamentada no princípio de que mais “bem-aventurada coisa é dar do que
receber” (At 20.35).A igreja deve socorrer os necessitados obedecendo a três
princípios que norteiam o serviço social: mutualidade, responsabilidade e
proporcionalidade.
Filantropia
sem generosidade não tem valor. A boa filantropia é aquela que baseia suas
obras no princípio do amor, que supera todas as deficiências e nos torna úteis
ao Reino de Deus. Gratidão e disposição para servir uns aos outros anulam a
avareza e abrem as despensas de Deus com bênçãos espirituais e materiais (Ml
3.10).
“Ação Social: Compromisso de uma Igreja.O avivamento
espiritual, que é tanto a causa como o produto de uma Igreja Viva, precisa
abranger a igreja como um todo, se não queremos um organismo aleijado ou
disforme. Não se pode falar de um avivamento que priorize apenas um aspecto da
totalidade do ser humano como, por exemplo, o destino de sua alma, em
detrimento de seu bem-estar físico e social. Não nos interessa uma comunidade
apenas voltada para o futuro, em prejuízo do hoje, pois isso implica em
negligenciar as necessidades imediatas e urgentes do ser humano.
O
homem vive na dimensão do aqui e agora. Tem fome, frio, doença, sofre
injustiças; enfim, tem mil motivos para não ser feliz. Nossa missão, pois, é
socorrer o homem no seu todo, para que não somente usufrua paz de espírito, mas
também conserve no corpo e na mente motivos de alegria e esperança. O projeto
de Jesus é para o homem todo e para todos os homens. Fugir dessa verdade é
desobediência e rebelião contra aquEle que nos comissionou. Um verdadeiro
avivamento trará de volta ao crente brasileiro o amor pelos quase 50 milhões de
irmãos pátrios que vivem na pobreza absoluta. O estilo de vida de uma igreja
avivada não se presta a esquisitices humanas, mas à formação de personalidades
de acordo com o caráter de Cristo, que não negligenciam o amor ao
próximo”.Notas (CIDACO, J. A. Um Grito pela Vida da
Igreja. 1.ed.
RJ, CPAD, 1996, pp.87-8)
A defesa da autoridade apostólica de Paulo
2 Coríntios 10.1-8,17,18.
1 - Além disso, eu, Paulo,
vos rogo, pela mansidão e benignidade de Cristo, eu que, na verdade, quando
presente entre vós, sou humilde, mas ausente, ousado para convosco;
2 - rogo-vos, pois, que,
quando estiver presente, não me veja obrigado a usar com confiança da ousadia
que espero ter com alguns que nos julgam como se andássemos segundo a carne.
3 - Porque, andando na
carne, não militamos segundo a carne.
4 - Porque as armas da
nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das
fortalezas;
5 - destruindo os
conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e
levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo,
6 - e estando prontos para
vingar toda desobediência, quando for cumprida a vossa obediência.
7 - Olhais para as coisas
segundo a aparência? Se alguém confia de si mesmo que é de Cristo, pense outra
vez isto consigo: assim como ele é de Cristo, também nós de Cristo somos.
8 - Porque, ainda que eu
me glorie mais alguma coisa do nosso poder, o qual o Senhor nos deu para
edificação e não para vossa destruição, não me envergonharei,
17 - Aquele, porém, que se
gloria, glorie-se no Senhor.
18 - Porque não é aprovado
quem a si mesmo se louva, mas, sim, aquele a quem o Senhor louva.
De acordo com Matthew Henry “em nenhum
outro lugar o apóstolo Paulo sofreu mais oposição dos falsos profetas do que em
Corinto”. Paulo foi duramente provado. Se você é fiel ao Senhor e está
enfrentando oposição, não desanime. Siga o exemplo da Paulo. Não se exaspere,
não deixe de realizar a obra que lhe foi confiada por Deus com amor e zelo. O
inimigo desejava enfraquecer a Paulo e a sua liderança, impedindo a igreja de
avançar. Ele também deseja fazer o mesmo com você. Não tente agir por si mesmo,
por esta é uma batalha espiritual.
Palavra Chave. Autoridade: Poder
divino conferido ao homem para liderar a Igreja.
No
capítulo 10, Paulo usa um tom de cautelosa afeição ao dirigir-se aos seus
opositores. A mudança é tão drástica que alguns estudiosos chegam a pensar que
os capítulos 10 a 13 desta epístola não tenham sido escritos pelo apóstolo.
Entretanto, quando analisamos mais detidamente a personalidade e o temperamento
de Paulo, começamos a entender, com mais clareza, a humanidade e o ministério
do apóstolo dos gentios.
Os
últimos capítulos da epístola, por conseguinte, devem ser estudados com muita
atenção. Neles, Paulo defende o apostolado que recebera do Senhor Jesus.
PAULO RESPONDE AOS SEUS
ADVERSÁRIOS
A aspereza versus a
delicadeza de Paulo (10.1,2). Paulo era um homem que, à nossa
semelhança, sofria os efeitos das emoções. Tinha todas as características,
positivas e negativas, de um ser humano normal. Entretanto, por ser
extremamente emotivo, sentiu fortemente as injustiças que lhe fizeram alguns
coríntios.
A
aspereza de suas palavras em 2.4 e 7.8, quando se refere aos seus opositores,
provocou uma reação ainda mais hostil por parte de alguns membros da igreja. Todavia,
no capítulo 10, Paulo utiliza-se de um teor mais brando e delicado. Todo
obreiro, portanto, é um ser humano dotado de sentimentos e que reage às
situações; controlado, porém, pelo Espírito, não perde jamais a compostura
cristã.
Paulo apela para a mansidão e
ternura de Cristo (10.1,2). Ao apelar para as virtudes de Cristo
(mansidão e benignidade), Paulo foge ao padrão mundano; opta por uma resposta
branda. Jesus é o grande exemplo (Mt 11.29). Aos que o acusavam de fraqueza,
responde: “Eu que, na verdade, quando presente entre vós, sou humilde
(temeroso), mas ausente, ousado (corajoso) para convosco” (v.1).
Essa
expressão não tinha nada de timidez. Na verdade, o apóstolo agia assim para
evitar um conflito maior, imitando a serenidade de Cristo. Ele queria evitar
uma ação disciplinar contra os rebeldes. Além disso, Paulo não desejava
amedrontar os cristãos de Corinto, pois eram seus filhos espirituais.
Paulo diz que sua conduta não era
segundo a carne (10.2,3). O apóstolo usa o termo “carne” em dois sentidos.
Primeiro, no sentido físico: andando na carne (v.3). A versão Almeida Século 21
diz: “Embora vivendo com seres humanos, não lutamos segundo os padrões do
mundo”. Paulo almejava que os coríntios lembrassem que ele e seus companheiros
eram homens comuns.
O
segundo sentido da palavra “carne” é figurado; refere-se a uma parte da
natureza humana corrompida pelo pecado, que tende a induzir-nos a contrariar as
coisas espirituais. Reafirma o apóstolo: “não militamos segundo a carne” (v.3).
Em outras palavras, Paulo estava declarando que não seguimos os desejos da
carne, porquanto, embora habitemos em corpos físicos, somos guiados pelo
Espírito de Deus (Gl 5.16).Paulo não seguia os ditames da carne, ele era guiado
pelo Espírito de Deus.
INIMIGOS E ARMAS ESPIRITUAIS DO
APOSTOLADO
Os inimigos interiores (vv.4,5). No caso da
igreja de Corinto, tais inimigos eram os argumentos contra o Evangelho puro,
simples e verdadeiro de Jesus Cristo, que Paulo pregava e ensinava, bem como as
falsas acusações contra seu ministério. O apóstolo foi um bravo militante na
guerra espiritual contra os falsos ensinos na igreja ao longo de seu
ministério, pois sabia do estrago que esses inimigos poderiam fazer na mente e
coração humanos e, por conseguinte, na igreja.
Nós
também enfrentamos tais inimigos poderosos não somente dentro de nossas
igrejas, mas também em nossa mente e coração. Em nosso íntimo, existem guerras
espirituais sendo travadas. O próprio apóstolo discorre sobre isso em sua carta
aos Gálatas (5.17), quando revela a luta entre os desejos da carne e do
espírito. Entretanto, Paulo nos revela como vencer essa guerra tão difícil
contra inimigos tão poderosos. “Digo, porém: Andai em Espírito e não cumprireis
a concupiscência da carne” (Gl 5.16). Além disso, existem outras armas
espirituais que estão disponíveis para nós utilizarmos, como veremos no próximo
tópico.
As armas espirituais (vv.4,5). Paulo sabia que
nesta guerra espiritual ele não poderia utilizar armas carnais, tais como:
capacidade intelectual, influência, posição social etc. O Inimigo não pode ser
derrotado com armas semelhantes às suas, por isso, as armas do apóstolo eram
espirituais e “poderosas em Deus para destruição das fortalezas”. Tais
fortalezas (v.4) são utilizadas para impedir que o conhecimento de Deus avance
na mente e no coração do homem (v.5).
Enquanto
soldados de Cristo, militando o bom combate aqui na terra, estamos sujeitos às
tentações e males dentro e fora da igreja. Portanto, temos de andar de acordo
com as leis do Espírito, lutando sempre com as armas espirituais, que são: a
Palavra de Deus - a espada do Espírito - a verdade, um caráter justo e reto, a
proclamação do Evangelho da paz, a fé, a certeza da Salvação, e uma vida de
oração (Ef 6.11-18).Apesar de vivermos neste mundo sujeitos às tentações, temos
de andar de acordo com as leis do Espírito, lutando sempre com as armas
espirituais.
A PERSPECTIVA DE PAULO SOBRE
AUTORIDADE
1. O significado de autoridade. De acordo com
o Dicionário Bíblico Wycliffe, uma das palavras
gregas para autoridade é exousia, cujo significado é
poder, liberdade ou direito de escolher, agir, possuir ou controlar.
Tratando-se da questão abordada por Paulo nesta segunda carta, esse termo é o
que melhor se enquadra, uma vez que o apóstolo discute exatamente a qualidade
espiritual de sua autoridade.
A perspectiva de Paulo quanto à
autoridade espiritual. Paulo argumenta com os coríntios que a
consistência de sua autoridade apostólica encontra-se na coerência entre o seu
discurso e a sua prática, as atitudes dele refletiam a sua pregação. Por isso,
combatia de modo firme e enérgico àqueles que se opunham ao seu ministério. O
apóstolo também questionava as acusações daqueles homens, pois assim como se
autodeclaravam de Cristo, Paulo também podia se declarar. Ele assegurou àquela
igreja que sua autoridade fora-lhe concedida pelo Senhor “para edificação e não
para destruição” dos coríntios (2 Co 10.8). Acima de tudo, a integridade do seu
caráter e ministério era o seu principal argumento e defesa.
Outro
ponto abordado pelo apóstolo é que ele e seus companheiros tinham sido os
primeiros a chegar em Corinto com o evangelho, por isso, a igreja deveria dar
crédito à sua palavra.
Por
fim, Paulo recomenda que nosso padrão de medida deve ser o Senhor e não os
outros, porquanto, se fizermos assim, constataremos que não temos nenhum motivo
para se orgulhar. Nos versos finais do capítulo 10, o apóstolo ainda aconselha
a buscarmos o reconhecimento divino, e não humano.Somente Cristo é o alvo, o
ponto máximo e convergente da revelação de Deus mediante o Evangelho.
A
autoridade apostólica de Paulo, exercida com tanta seriedade, fora lhe
concedida pelo Senhor e encontrava-se fundamentada em seu relacionamento com
Deus e na integridade de seu caráter e ministério. Portanto, se estivermos
conscientes de nosso chamado divino e exercermos com integridade nosso
ministério, não devemos temer falsas acusações, pois essas sempre farão parte
da vida de um servo fiel.
“O ofício apostólico e a autoridade de
Paulo. Paulo retrata seu ministério apostólico
em termos de campanha militar. Ele e sua equipe ministerial viviam no mundo
(gr. en sarki, ‘na carne’, cf. ‘em
vasos de barros’, 2 Co 4.7). Mas ele não militava ou empreendia guerra como o
mundo faz (gr. kata sarka, ‘segundo a carne’,
isto é, limitado pelo que é finito, humano, terrestre ou meramente físico).
Pouco importando o quão fraco, tímido ou humilde Paulo parecesse ser na
presença dos coríntios, ele não teve de enfrentar destemidamente ou usar
métodos e armas que o mundo usa. Quando o Espírito o ungiu ele tinha armas
‘poderosas em Deus’ para destruir as fortalezas inimigas. Estas armas são o
Espírito e a Palavra. As ‘fortalezas’ eram os ardis argumentos contra o
Evangelho simples de Cristo que Paulo pregava, como também os esforços em
destruir seu ministério e levar seus convertidos à escravidão espiritual pelas
falsas doutrinas dos inimigos. Podemos aplicar isto às forças do mal que
procuram destruir a Igreja trazendo falsas doutrinas, modos mundanos, entretenimento
secular e apresentações terrenas. A Palavra e o Espírito ainda têm o poder de
destruir os poderes das trevas (veja Ef 6.14-18)”.Notas (HORTON, S. M. I
& II Coríntios: Os problemas da Igreja e suas soluções.RJ: CPAD, 2003,
pp.234-35)
“Os limites da jactância de Paulo.Com ironia Paulo
rejeita qualquer comparação dele com seus oponentes. ComoThe
Message traduz
o versículo 12: ‘Nós, entenda, não nos colocamos em liga com aqueles que se
gloriam que nos são superiores. Não ousaríamos fazer isto’. Eles procuravam
fazer com que suas realizações parecessem impressionantes, comparando-se
totalmente ‘consigo mesmos’. Eles se recusavam a reconhecer o que Deus fez por
Paulo em relação à sua comissão aos gentios - dada a ele por Cristo (At 9.15;
Gl 2.9). Eles diziam que Paulo deveria gloriar-se como eles o faziam e que ele
era verdadeiro apóstolo. Mas Paulo só gloriará dentro dos limites do ministério
que lhe foi dado por Deus, o que inclui Corinto. Dizendo isto, Paulo está
denotando que os falsos apóstolos são os instrumentos que estão ferindo a
assembleia que Deus o enviou para estabelecer.
A
jactância de Paulo não vai muito longe, além dos limites convenientes, porque
ele e seus companheiros foram os primeiros a chegar a Corinto com o Evangelho.
Este foi o ponto mais distante que ele tinha alcançado em suas viagens
missionárias até aqueles dias. Sua esperança porém, era expandir o trabalho em
Corinto e depois ir para outras regiões. Na visão de Paulo, abrangeria Ilírico,
Roma e Espanha (veja Rm 15.19,23,24,28). Mas ele não seria como os falsos
apóstolos, porque não afirmaria que foi o primeiro a levar o Evangelho em
território que já tivesse sido de fato evangelizado por outra pessoa.
Paulo
limita ainda mais a jactância parafraseando Jeremias 9.24. Esta é outra razão
por que ninguém deve se gloriar de assumir algo que é de responsabilidade de
outra pessoa.De fato, toda jactância ou louvor à pessoa ou ministério não é
importante. A única coisa que conta é o louvor do Senhor (cf. Rm 2.29; 1 Co
4.3-5). Ele não dará louvor àqueles que buscam exaltar-se”.Notas (HORTON, S.
M. I & II Coríntios: Os problemas da
Igreja e suas soluções.RJ: CPAD, 2003, pp.237,238)
Características de um autêntico líder
2 Coríntios 10.12-16; 11.2,3,5,6.
2 Coríntios 10
12 - Porque não ousamos
classificar-nos ou comparar-nos com alguns que se louvam a si mesmos; mas esses
que se medem a si mesmos e se comparam consigo mesmos estão sem entendimento.
13 - Porém não nos
gloriaremos fora de medida, mas conforme a reta medida que Deus nos deu, para
chegarmos até vós;
14 - não nos estendemos
além do que convém, como se não houvéssemos de chegar até vós, pois já chegamos
também até vós no evangelho de Cristo;
15 - não nos gloriando fora
de medida nos trabalhos alheios; antes, tendo esperança de que, crescendo a
vossa fé, seremos abundantemente engrandecidos entre vós, conforme a nossa
regra,
16 - para anunciar o
evangelho nos lugares que estão além de vós e não em campo de outrem, para nos
não gloriarmos no que estava já preparado.
2 Coríntios 11
2 - Porque estou zeloso de
vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma
virgem pura a um marido, a saber, a Cristo.
3 - Mas temo que, assim
como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma
sorte corrompidos os vossos sentidos e se apartem da simplicidade que há em
Cristo.
5 - Porque penso que em
nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos.
6 - E, se sou rude na
palavra, não o sou, contudo, na ciência; mas já em tudo nos temos feito
conhecer totalmente entre vós.
Palavra Chave. Líder: Indivíduo
que chefia, comanda e/ou orienta em qualquer ação.
Paulo
é um dos maiores exemplos de liderança do Novo Testamento. Seu modelo máximo é
Jesus. E o apóstolo ajustou sua liderança conforme o conhecimento que adquiriu
acerca do Mestre. Nesta lição, ele prossegue defendendo o seu apostolado contra
os ataques dos falsos apóstolos, e reafirma sua igualdade com os demais
apóstolos em termos de autoridade e liberdade para pregar o Evangelho. Porém, a
fim de mostrar sua autoridade e liderança em Cristo, Paulo ressalta não ser sua
intenção exercer domínio sobre a fé dos coríntios, pelo contrário, ele está
pronto a ser humilhado para que eles fossem exaltados (2 Co 11.7).
OS DESAFIOS DO APOSTOLADO PAULINO
(10.9-18)
O desafio da oposição (10.9-11). Nesses quatro
últimos capítulos, observamos que se destacam três personagens principais: o
apóstolo, os opositores e os coríntios. Nos versículos 9 e 10, o apóstolo
discorre sobre a carta que enviara aos coríntios.Uma regra básica ao escrever
cartas, naquela época, é que essas deviam corresponder à personalidade de quem
as enviara. Como Paulo havia sido severo na redação de suas cartas, era
acusado, agora, de não ter a mesma postura enquanto estava presente entre eles.
Os oponentes insinuavam que o apóstolo não tinha coragem ou era incoerente. Na
realidade, eles apenas buscavam mais uma oportunidade para o acusarem. Paulo,
porém, foi incisivo e firme (vv.11,12).
O desafio do orgulho (10.12,13). Nestes
versículos, Paulo demonstra a importância de o líder exercer a autocrítica. Ele
fala da arrogância dos que se sentiam superiores a ele. Refutando tal orgulho,
Paulo admite não estar disposto a classificar-se entre os que louvam a si
mesmos. Ele considerava essa atitude uma ousadia incabível no meio da Igreja
(v.12). A vaidade dos oponentes era “sem medida” (v.13), e o “critério” de
aferição que usavam baseava-se apenas na opinião que os tais tinham de si
mesmos. O apóstolo afirma que “esses que se medem a si mesmos e se comparam
consigo mesmos estão sem entendimento” (v.12); demonstram falta de lucidez e
discernimento espiritual.
O desafio do respeito aos limites
e da autoglorificação (10.14-18).Respeitar os limites alheios é uma
atitude indispensável a um líder. Paulo destaca que todo líder deve conhecer a
medida certa de suas ações (v.13). Seja do ponto de vista pessoal, ou coletivo,
o líder deve respeitar os limites de sua liderança, e não apossar-se da honra
de um trabalho realizado por outros (vv.15,16). Se assim agirmos, não
correremos o risco de nos autogloriarmos. Gloriemo-nos apenas no Senhor (v.17).
O líder realmente chamado por Deus não precisa louvar a si mesmo; o próprio
Senhor o fará (v.18).Respeitar os limites alheios é uma atitude indispensável a
um líder. Todo líder deve conhecer a medida certa de suas ações.
AS MARCAS DE UM VERDADEIRO LÍDER
(11.2-15)
O compromisso de Paulo diante da
igreja e de Deus (vv.2-4). Paulo deixa claro que recebeu do próprio Deus
sua autoridade apostólica, a fim de edificar, e não dominar, a Igreja de
Cristo. Entretanto, os coríntios, influenciados pelos falsos apóstolos, que
agiam na ausência de Paulo, demonstravam superficialidade no conhecimento das
coisas espirituais (v.4). O fato decepcionou o apóstolo, pois ele tinha por
objetivo prepará-los para apresentá-los “como uma virgem pura a um marido, a
saber, a Cristo” (v.2).
Paulo se interessa, antes de tudo,
pelo bem-estar espiritual da igreja (vv.5-15). A postura de
Paulo de não depender financeiramente da igreja de Corinto, foi utilizada
injustamente pelos falsos apóstolos para acusá-lo de não ser ele um apóstolo
verdadeiro (vv.5-11). Por sua vez, Paulo afirma que os irmãos da Macedônia (e
outras igrejas) haviam-no socorrido em suas necessidades (vv.8,9). O apóstolo
dos gentios assim procedeu, a fim de não dar ainda mais ocasião para os seus
oponentes o acusarem (v.12).
Naturalmente,
é responsabilidade das igrejas sustentar seus pastores. Aquelas congregações,
contudo, ainda não tinham condições de assumir tal responsabilidade. Nos
versículos 13 e 15, Paulo fica tão irritado com os falsos apóstolos que, para
desmascarar-lhes a dissimulação, utilizou a figura de Satanás que, conforme
reafirma, disfarça-se até de anjo de luz. É o que faziam os falsos apóstolos.
Paulo colocou o ato de servir
acima dos interesses pessoais (vv.16-33). Paulo expõe, agora, todos os seus
sofrimentos físicos e emocionais por amor a Cristo: fome, sede, nudez, açoites,
prisões, naufrágios, ameaças e perigos incontáveis. Ele não somente se
identificava com aqueles a quem servia, como também por estes interessava-se, a
fim de que fossem beneficiados com o Evangelho. Seu amor pelas igrejas de
Cristo dava-lhe forças para seguir em sua missão apostólica (v.28). Era um
homem de Deus que se identificava com o rebanho de Cristo em todas as situações
(v.29).O líder autêntico coloca o ato de servir acima dos interesses pessoais.
PAULO, UM LÍDER SEGUNDO A VONTADE
DE DEUS
Indiscutivelmente,
Paulo foi um líder que demonstrou ampla competência para o exercício do seu
ministério. Cada igreja, estabelecida por ele, tinha características próprias e
exigia dele habilidades específicas, a fim de lidar com situações bastante particulares.
Foi o que o apóstolo demonstrou no trato com os coríntios. Servindo-os
humildemente, como fez o Senhor Jesus durante o seu ministério terreno, e
externando-lhes um amor que só o verdadeiro líder chamado por Deus possui,
demonstrou-lhes ser, realmente, um apóstolo chamado por Cristo Jesus, a fim de
levar o Evangelho aos gentios até aos confins da terra.
Paulo
aprendera com Jesus: o servir é uma das características mais marcantes de um
obreiro. O servir, aliás, é o verdadeiro padrão de liderança neotestamentária.
É hora de nos apresentarmos como leais servidores a serviço do Rei. Quem não
está pronto a servir jamais estará apto para o Reino de Deus.O padrão bíblico
requer que os líderes aprendam a desenvolver atitudes de parcerias, de
compartilhamento com seus liderados.
Que
exemplo nos deixou o apóstolo Paulo! Sua liderança não foi estabelecida por
homem algum, mas por Deus. Portanto, ele sabia que no Reino de Deus só há uma
alternativa para aqueles que amam a Cristo e a sua Igreja: servir, servir e servir.
Não foi exatamente isso que fez o Senhor durante o seu ministério terreno? Por
que agiríamos de forma diferente?
“O status apostólico de Paulo (11.5,6).Os falsos apóstolos
estavam pondo-se em evidência como ‘superapóstolos’ (‘os mais excelentes
apóstolos’, 2 Co 11.5), humilhando Paulo. Mas Paulo não aceitava as afirmações
que eles faziam. Pode ser que fossem oradores bem treinados, aptos a
impressionar as pessoas com o vocabulário e o estilo. [...] Embora Paulo fosse
treinado como rabino sob as orientações de Gamaliel (At 22.3), ele não fora
treinado no estilo grego de oratória artificial e extravagante. Paulo tinha
algo mais importante. Tinha ciência ou conhecimento de Deus que eles não
tinham, como bem sabiam os crentes coríntios. Paulo havia demonstrado isto em
tudo, ou seja, dando-lhes ensinamentos poderosos e ungidos em linguagem clara –
não na ‘lógica’ enganosa e na retórica superficial dos falsos apóstolos. A
verdade é mais importante que o estilo ou ‘carisma’ do orador. Paulo recusa
aceitar pagamento (11.7-12) [...] Ele retoma novamente o fato de que pregou o
Evangelho em Corinto ‘de graça’ (veja 1 Co 9). Naqueles dias, até nas
universidades os estudantes remuneravam diretamente o professor. É provável que
os oponentes de Paulo disseram que o fato de ele não receber contribuições era
evidência de que o ensino era de pouco valor e que ele não era verdadeiro
apóstolo”.Notas (HORTON, S. M. I & II Coríntios: Os
Problemas da Igreja e suas Soluções. RJ: CPAD, 2003, pp.240-41)
“O Exemplo de Paulo ao Líderes. Como um exemplo para
os outros líderes, Paulo demonstrou:• Humildade e compaixão – Apesar de ser
perseguido por seus irmãos judeus, Paulo serviu ‘ao Senhor com toda a humildade
e com muitas alegrias’ (At 20.19). Ninguém poderia questionar sua dedicação ao
Senhor e ao seu povo. É impossível fazer este tipo de afirmação a menos que
seja absolutamente verdadeira.
•
Ensinos e pregações fiéis – Paulo falou publicamente na escola de Tirano,
compartilhando tudo aquilo que pudesse ajudar no crescimento e no
fortalecimento da fé cristã dos efésios. No entanto, também ensinava de casa em
casa, aparentemente dedicando tempo à família de cada líder (At 20.20).
•
Um ministério evangelístico – Paulo pregava as Boas Novas da graça de Deus a todos
aqueles que quisessem ouvir – tanto judeus quanto gentios – encorajando-os a
abandonar o pecado e a colocar a sua fé no Senhor Jesus Cristo (At 20.21).
•
Um ministério de discipulado – Paulo não somente pregou as Boas Novas da graça
de Deus, mas também, à medida que as pessoas respondiam com arrependimentos e
fé, ensinava estes novos crentes a viver como verdadeiros cristãos (At 20.27).
•
Motivos puros – Paulo nunca se aproveitou materialmente destes novos crentes.
Neste sentido, ele era um grande exemplo para os líderes. Ele às vezes supria
sozinho as suas próprias necessidades, bem como as de seus companheiros
missionários (At 20.33-35).
•
Ter responsabilidade – Paulo advertiu sobre a necessidade de vigiarem e
cuidarem de si mesmos quanto um dos outros.
•
Vigiar – Paulo adverte-os, dizendo: ‘Olhai, pois... por todo o rebanho’ –
incentivando-os a administrarem bem a igreja como um todo (At 20.28).
•
Pastorear – Paulo conclama os pastores a ‘apascentarem a igreja de Deus’ – a
cuidarem dos fiéis e certificarem-se de que eles não estejam se deixando
enganar por falsos mestres e profetas enganadores, que ele chama de ‘lobos
cruéis’”.Notas (GETZ, G. A. Pastores e Líderes: O
Plano de Deus Para a Liderança da Igreja.RJ: CPAD, 2004, pp.105-6)
Visões e revelações do Senhor
2 Coríntios 12.1-4,7-10,12.
1 - Em verdade que não
convém gloriar-me; mas passarei às visões e revelações do Senhor.
2 - Conheço um homem em
Cristo que, há catorze anos (se no corpo, não sei; se fora do corpo, não sei;
Deus o sabe), foi arrebatado até ao terceiro céu.
3 - E sei que o tal homem
(se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe)
4 - foi arrebatado ao
paraíso e ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar.
7 - E, para que me não
exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a
saber, um mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de não me exaltar.
8 - Acerca do qual três
vezes orei ao Senhor, para que se desviasse de mim.
9 - E disse-me: A minha
graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade,
pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de
Cristo.
10 - E disse-me: A minha
graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade,
pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de
Cristo.
12 - Os sinais do meu
apostolado foram manifestados entre vós, com toda a paciência, por sinais,
prodígios e maravilhas.
Palavra Chave.Experiência: Do
latim experientia.
Prova de cunho pessoal conferida pelo Senhor.
Visões
e revelações são experiências do campo das manifestações espirituais que não se
constituem em doutrinas, mas são possíveis à vida do crente desde que estejam
em conformidade com a Bíblia. Paulo vinha de um confronto onde os seus
oponentes procuravam desacreditar seu ministério. Eles se vangloriavam de
possuírem um conhecimento divino e uma espiritualidade superior à do apóstolo.
Paulo se viu obrigado a responder que tinha ainda mais razões do que eles para
orgulhar-se, mas não faria isso. Preferia gloriar-se em relação às suas
fraquezas, as quais o poder de Deus havia convertido em experiências gloriosas
(12.9,10).
A GLÓRIA PASSAGEIRA DE SUA
BIOGRAFIA (vv.11-33)
A glória maior de Paulo não está
em sua biografia, e sim no sofrimento padecido por causa do Evangelho. O texto deste
tópico evidencia que, somente por causa da atitude dos seus oponentes, o
apóstolo se vê obrigado a dar-lhes uma resposta, relatando suas experiências de
sofrimento. A prova de que não há nenhuma postura de autoexaltação, é que no
versículo 30, ele diz: “Se convém gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito
à minha fraqueza”.
Paulo se opõe à arrogância dos
judeus-cristãos. Visto
que os “superapóstolos” se orgulhavam de sua herança abraâmica e de suas
realizações, Paulo mostra a esse grupo que, se este for o critério, ele tinha
muito mais razões para vangloriar-se (22).
Paulo responde contrastando os
falsos mestres. No
versículo 23, ele contesta aqueles falsos mestres, que se diziam “ministros de
Cristo”, ao declarar que tinha razões muito mais profundas para assim ser
considerado. Não só pelas experiências físicas (listadas nos vv.23-29), mas
também as espirituais que teve com Cristo, a exemplo da relatada por ele no
capítulo 12.A glória maior de Paulo não está em sua biografia e sim no
sofrimento padecido por causa do Evangelho.
. A GLÓRIA DAS REVELAÇÕES E VISÕES
ESPIRITUAIS (12.1-4)
Visões e revelações do Senhor
(12.1). Paulo
admite que não convém gloriar-se, mas como os adversários recorriam a supostas
experiências de caráter espiritual, ele então apela a uma das suas
experiências. Por ser a igreja coríntia propensa à supervalorização do
sobrenatural (1 Co 14), os falsos apóstolos (que se autojulgavam
superespirituais) acabaram ganhando a sua simpatia. A fim de demonstrar que até
neste aspecto teria razões para se envaidecer, o apóstolo dos gentios passa a
falar das “visões e revelações do Senhor”. Não se trata de algum tipo de
alucinação nem qualquer distúrbio emocional. São experiências sobrenaturais que
permitem a um ser humano ver algo que outros não podem ver. Note que o texto
afirma que tais visões e revelações vêm do Senhor, ou seja, Ele é a causa e a
fonte de tal experiência. O apóstolo deixa isso claro ao referir-se a si mesmo
na terceira pessoa.
O “Paraíso” na teologia paulina
(12.2-4). Na
teologia de Paulo, o “paraíso” é um lugar celestial onde os santos desfrutam da
comunhão com Deus. Esse lugar é a habitação dos santos que morreram, tanto do
Antigo como do Novo Testamento, e que aguardam a ressurreição de seus corpos
(Lc 16.19-31; 23.43; 1 Co 15.51,52). O apóstolo revela essa experiência
singular e sobrenatural e não consegue explicar se ela deu-se “no corpo ou fora
do corpo”, ou seja, ele ficou em uma dimensão ininteligível e inexplicável para
os padrões humanos.
A atualidade das experiências
espirituais. O
Espírito de Deus pode trabalhar e revelar a vontade divina através de sonhos e
visões. Entretanto, essas experiências não são uma regra doutrinária para
dirigir a igreja e nem mesmo a vida de uma pessoa. São meios que só podem ser
autênticos quando não se chocam com a Palavra de Deus. Por isso, o crente não
pode viver à mercê de visões e revelações para praticar o cristianismo. Nem a
igreja, nem crente algum dependem exclusivamente de experiências sobrenaturais,
como visões, revelações e arrebatamento de espírito para conhecer a vontade de
Deus. Ainda que tais experiências não estejam proibidas, devemos levar em conta
sempre a completa revelação da Palavra de Deus. É preciso ter cuidado com a
presunção de alguns em fazer viagens ao paraíso, seja comandada por homens seja
por anjos, pois tais “experiências” na maioria das vezes constitui-se em
fraudes espirituais.O Espírito de Deus pode trabalhar e revelar a vontade
divina através de sonhos e visões.
A GLÓRIA DOS SOFRIMENTOS POR CAUSA
DE CRISTO (12.7-10)
O espinho na carne (12.7,8). Essa expressão
de Paulo referia-se a um tipo de sofrimento que lhe foi imposto por causa das
revelações, a fim de ele não se ensoberbecer. Tem havido várias interpretações,
na maioria especulativas, acerca do “espinho na carne”. Entretanto, uma
interpretação que prevalece com aceitação maior entre os estudiosos e exegetas
bíblicos é de que “o espinho na carne” que atormentava a Paulo refere-se a uma
enfermidade física. O que se subentende é que esse “espinho na carne” o
atormentava como um “aguilhão”, que o fisgava o tempo todo. O que Paulo deixa
transparecer fortemente é que não podia evitar esse sofrimento e que a força de
superação de tal flagelo vinha do Senhor, que o confortava (vv.9,10).
Paulo reafirma que se gloria na
fraqueza (12.10). Paulo
considerava como maior glória para si os seus sofrimentos, enfermidades,
prisões, açoites, fomes e perseguições. Mesmo não querendo nivelar-se aos
oponentes judeus-cristãos (vangloriando-se), ele entende ser necessária uma
resposta, a fim de que a igreja de Corinto avalie seu comportamento em relação
ao dos rebeldes (11.16-30).
A explicação do paradoxo do
gloriar-se nas fraquezas (12.9,10).Em uma mente carnal, sofrimento é algo
que humilha, que degrada. Não se vê nenhuma glória em sofrer, no entanto, Paulo
ensina que o sofrer se constitui num degrau para chegar-se à presença de Deus.
Na mente dos coríntios (corrompida pelos ensinamentos deturpados), os
verdadeiros apóstolos deveriam ser conhecidos por suas palavras convincentes e
carisma. Paulo parece não possuir nenhum desses requisitos ou “dons naturais”.
Entretanto, seu testemunho, experiências, escritos e fala continham autoridade
espiritual. Ele preferia gloriar-se nos sofrimentos, pois sua fraqueza é a
condição mais apropriada para a demonstração da graça poderosa do Senhor.Paulo
ensina que o sofrer se constitui num degrau para chegar à presença de Deus.Ao
escrever sobre as suas fraquezas, Paulo tinha a intenção de glorificar a Deus,
porquanto somente Ele é capaz de aperfeiçoar seu poder através da fragilidade
humana.
“Arrebatado até ao terceiro céu
(12.2).Esta
passagem tem causado especulações incalculáveis. Acredita-se que Paulo fez uso
da terceira pessoa, para evitar qualquer insinuação de que ele tenha recebido
crédito pessoal pelas visões ou revelações que lhe são dadas (12.1). A menção
ao ‘terceiro céu’, normalmente, é compreendida como assumindo uma cosmologia
que encara a atmosfera da terra como um primeiro céu; o campo dos corpos
celestiais como um segundo; e o campo espiritual, habitado por Deus e seus
anjos, como o terceiro. [...] Uma vez que o Novo Testamento não se pronuncia
sobre o assunto, parece inútil especular a respeito da cosmologia de Paulo. Mas
a insinuação permanece. Ele foi arrebatado a um campo acessível somente por
Deus. A incerteza de Paulo, quanto ao fato de que esta visão possa ter sido
recebida no corpo ou fora dele (12.3), foi citada por aqueles que argumentam a
favor da ‘projeção astral’, fenômeno no qual se assume que a alma deixa o corpo
vivo. Estes parênteses dificilmente apóiam esta teoria. Paulo simplesmente está
dizendo que, embora a visão fosse real, não sabe se esteve ou não fisicamente
presente naquele paraíso, onde vivenciou tais maravilhas, e ouviu coisas que
até aquele momento era incapaz de revelar”.Notas (RICHARDS, Lawrence O. Comentário
Histórico-Cultural do Novo Testamento. RJ: CPAD, 2007, p.391)
Solenes advertências pastorais
2 Coríntios 12.19-21; 13.5,8-11.
2 Coríntios 12
19 - Cuidais que ainda nos
desculpamos convosco? Falamos em Cristo perante Deus, e tudo isto, ó amados,
para vossa edificação.
20 - Porque receio que,
quando chegar, vos não ache como eu quereria, e eu seja achado de vós como não
quereríeis, e que de alguma maneira haja pendências, invejas, iras, porfias,
detrações, mexericos, orgulhos, tumultos;
21 - que, quando for outra
vez, o meu Deus me humilhe para convosco, e eu chore por muitos daqueles que
dantes pecaram e não se arrependeram da imundícia, e prostituição, e
desonestidade que cometeram.
2 Coríntios 13
5 - Examinai-vos a vós
mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis, quanto a
vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados.
8 - Porque nada podemos
contra a verdade, senão pela verdade.
9 - Porque nos regozijamos
de estar fracos, quando vós estais fortes; e o que desejamos é a vossa
perfeição.
10 - Portanto, escrevo
essas coisas estando ausente, para que, estando presente, não use de rigor,
segundo o poder que o Senhor me deu para edificação e não para destruição.
11 - Quanto ao mais,
irmãos, regozijai-vos, sede perfeitos, sede consolados, sede de um mesmo
parecer, vivei em paz; e o Deus de amor e de paz será convosco.
Palavra Chave. Advertência: Ato
de admoestar, aviso, conselho.
Nos
capítulos finais desta segunda epístola, Paulo conclui a defesa de sua
autoridade apostólica com uma série de advertências à igreja de Corinto e a
prepara para a sua terceira visita pastoral. Na primeira visitação, ele a
estabeleceu; na segunda, teve uma experiência dolorosa (2.1; 7.12). Agora,
porém, apronta-a para uma visita conciliadora e, ao mesmo tempo, disciplinar
(13.1,2). Sua responsabilidade pastoral era muito grande, por isso,
esforçava-se para solucionar as dúvidas e consolidar a fé dos santos que viviam
em Corinto.
PREOCUPAÇÕES PASTORAIS DE PAULO
(12.19-21)
Defender seu apostolado em Cristo
(v.19). Paulo,
mais uma vez, deixa claro que sua intenção não é se justificar diante de seus
acusadores, mas defender seu ministério perante o Senhor que havia lhe chamado.
Sua defesa, portanto, tinha por objetivo provar à igreja que Deus era o seu
Juiz, e sua comunhão com Cristo dava-lhe autoridade para pregar e representá-Lo
na terra.
O temor de Paulo em relação à
igreja de corinto (v.20). O apóstolo afirma aos coríntios: “Porque
receio que, quando chegar, vos não ache como eu quereria” (v.20). A expressão
indica sua preocupação com a igreja, pois alguns crentes achavam-se em falta
diante da congregação e diante de Deus. Como poderia ele, sendo apóstolo e
líder espiritual daquele rebanho, deixar as ovelhas sem a ministração da
Palavra de Deus? Por que ele deixaria de usar sua autoridade apostólica em
Cristo? Paulo estava ciente de que não podia, como pastor, deixar de tratar os
pecados que haviam comprometido a qualidade espiritual daquele rebanho.
Portanto,
ele toma atitudes disciplinares severas com relação aos seus membros, a fim de
que por ocasião de seu retorno à igreja não encontrasse os mesmos problemas.
A situação da igreja de Corinto
(vv.20,21). Os
pecados que destruíam os alicerces dos coríntios tinham de ser eliminados:
pendências judiciais, invejas, iras, porfias, difamações, mexericos, orgulhos,
tumultos, imundícia, prostituição e desonestidade. Tudo isso evidenciava o quê?
Eles ainda não estavam andando plenamente no Espírito.
Lendo
a lista acima, nem parece tratar-se de uma igreja com tantos dons. Contudo,
isso significa que a espiritualidade de uma igreja não pode ser avaliada pela
quantidade de dons, mas pelo seu caráter e amor a Deus e ao próximo. Tais
pecados estavam corrompendo os bons costumes, anulando a ética cristã e
promovendo dissensões e divisões entre os santos. A disciplina de Paulo parece
dura, no entanto, é amorosa, uma vez que ele menciona sua tristeza e frustração
por aqueles que, porventura, não se arrependessem (v.21).A defesa de Paulo
tinha por objetivo provar à igreja que Deus era o seu Juiz, e que a sua
comunhão com Cristo dava-lhe autoridade para falar e representá-lo na terra.
O PROPÓSITO DA DISCIPLINA DA
IGREJA POR PAULO (12.21; 13.2-4)
Promover a paz e o arrependimento
dos pecadores (vv.12.21; 13.2). Paulo deseja fortalecer a fé e
desenvolver o amadurecimento espiritual da igreja de Corinto. Para levar os
pecadores ao arrependimento, teria de ser rigoroso em sua repreensão. Os
problemas de ordem moral exigiam uma postura firme do apóstolo. Caso contrário,
as ações diabólicas para destruir a igreja não seriam neutralizadas.
Afirmar o caráter cristão de seu
apostolado (13.2,3). Considerando
que seu apostolado tinha sido concedido pelo Senhor Jesus e que este era seu
modelo de líder-servidor, nada mais coerente do que a postura rígida de Paulo
contra os pecadores impenitentes. Assim como o Senhor Jesus agia com esses (Mt
23.13-33), o apóstolo também deveria agir, a fim de que os crentes em Corinto
pudessem constatar o poder de Cristo em seu ministério.A Bíblia afirma que o
Senhor disciplina aos seus amados filhos, portanto, a correção dos pecados
daquela igreja pelo apóstolo revelava o amor que ele, em Cristo, nutria por
aqueles crentes.Os problemas de ordem moral exigiam uma postura firme. Caso
contrário, as ações diabólicas para destruir a igreja não seriam neutralizadas.
ALGUMAS RECOMENDAÇÕES FINAIS (vv.5-11)
Paulo encerra sua carta com uma
advertência (13.5). O
apóstolo recomenda aos crentes que examinem-se e provem-se, a fim de
verificarem se Jesus Cristo, de fato, habita neles.
Até
o momento Paulo vinha defendendo seu ministério e sua fé, no entanto, agora, ele
resolve testar os cristãos daquela igreja ao admoestá-los que realizem um
autoexame. Ora, se Cristo verdadeiramente habita neles, não correm o risco de
serem reprovados (v.5). Essa certeza é alimentada pela presença imanente de
Cristo em suas vidas. Se não estão reprovados perante o Senhor, não há o que se
duvidar da autenticidade do ministério apostólico de Paulo.
Paulo
sabe que os fiéis não temerão uma autoavaliação e espera que, assim como
reconheceram sua fé em Cristo, sejam capazes de reconhecer o relacionamento
sincero e fiel dele com Cristo.
Paulo encerra sua carta com um
desejo (13.7-9). Ele
deseja que aqueles cristãos sejam aprovados nessa autoavaliação. Nesses
versículos, o apóstolo demonstra que não pensava em sua própria aprovação, mas
no bem estar espiritual da igreja. O desejo sincero de Paulo é evidente: “e o
que desejamos é a vossa perfeição” (v.9).
Últimas recomendações (13.11). Parece
contraditório regozijar-se após tantas advertências, mas eles deveriam estar
felizes por serem disciplinados, porque isso revelava o amor de Deus Pai (Hb
5-11).Paulo também recomenda que os coríntios busquem a maturidade cristã, a
fim de que não sejam enganados por falsos mestres.A expressão “sede consolados”
quer dizer “sede encorajados”. O apóstolo desejava que sua carta servisse de
motivação para a mudança de comportamento dos crentes daquela igreja. Por
último, ele admoesta-os a serem de um mesmo parecer e a viverem em paz. Isto é,
todos deveriam estar comprometidos com a verdade do Evangelho e unidos em prol
da manutenção desse compromisso.A disciplina deve ter sempre, como objetivo,
edificar moral e espiritualmente as pessoas, e não destruí-las.
Após
tantas defesas, advertências e recomendações severas, Paulo encerra sua carta
usando um tom mais ameno e suave. O apóstolo enfatiza a síntese do evangelho
mediante a gloriosa bênção trinitariana: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o
amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com vós todos” (2 Co 13.13).
Que esta segunda carta aos coríntios possa produzir em cada crente uma reflexão
a respeito de seu ministério, a fim de que possamos declarar como Paulo: “Eu,
de muito boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas” (2 Co
12.15).
“A Bênção Apostólica.1. Ele apresenta
diversas exortações úteis. (1) Que fossem perfeitos ou estivessem unidos em
amor, o que serviria grandemente para a vantagem deles como igreja ou sociedade
cristã. (2) Que fossem consolados diante de todo sofrimento e perseguição que
pudessem enfrentar por amor a Cristo, ou qualquer calamidade e desapontamento
que pudessem encontrar neste mundo. (3) Que fossem de um mesmo parecer, o que
ajudaria grandemente em relação ao consolo deles. Quanto mais afáveis formos
com nossos irmãos maior será a tanquilidade em nossa alma. O apóstolo queria
que dentro do possível tivessem a mesma opinião e parecer. No entanto, se isso
não pudesse ser alcançado: (4) Ele os exortava a viverem em paz. A diferença de
opinião deveria causar uma alienação de sentimentos - que vivessem em paz entre
eles. Ele desejava que todas as divisões entre eles sejam curadas, que não haja
mais contendas e iras entre eles e que evitem pendências, invejas, detrações, mexericos e outros
inimigos da paz”.Notas (HENRY, M. Comentário Bíblico
Novo Testamento. RJ:
CPAD, 2008, pp.543-44)
“A Bênção Apostólica.Uma despedida. Ele
transmite um adeus e se despede deles naquele momento, com calorosos votos em
relação ao bem-estar deles. Para isso:
Ele
apresenta diversas exortações úteis. (1) Que fossem perfeitos ou estivessem
unidos em amor, o que serviria grandemente para a vantagem deles como igreja ou
sociedade cristã. (2) Que fossem consolados diante de todo sofrimento e
perseguição que pudessem enfrentar por amor a Cristo, ou qualquer calamidade e
desapontamento que pudessem encontrar neste mundo. (3) Que fossem de um mesmo
parecer, o que ajudaria grandemente em relação ao consolo deles. Quanto mais
afáveis formos com nossos irmãos maior será a tanquilidade em nossa alma. O
apóstolo queria que dentro do possível tivessem a mesma opinião e parecer. No
entanto, se isso não pudesse ser alcançado: (4) Ele os exortava a viverem em
paz. A diferença de opinião deveria causar uma alienação de sentimentos - que
vivessem em paz entre eles. Ele desejava que todas as divisões entre eles sejam
curadas, que não haja mais contendas e iras entre eles e que evitem pendências,
invejas, detrações, mexericos e outros inimigos da paz.
Ele
os anima com a promessa da presença de Deus entre eles: ‘... o Deus de amor e
de paz será convosco’ (v. 11). Deus estará com aqueles que vivem em amor e
paz.Ele dá orientações para saudarem-se mutuamente e envia calorosas saudações
daqueles que estavam com ele (v. 12). Ele deseja que testifiquem do amor de uns
pelos outros pelo rito sagrado de um beijo de caridade, que era usado na época,
mas que há muito deixou de ser costume, para evitar toda ocasião de
libertinagem e impureza, no estado mais degenerado e decadente da igreja”.Notas
(HENRY, M. Comentário Bíblico Novo Testamento. RJ: CPAD, 2008,
pp.543,544)
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